Qual o caminho para o Egito: colaboração de classes ou revolução? Resposta aos Socialistas Revolucionários

Escrevendo do Cairo na quarta-feira, seis de junho, Robert Fisk, um jornalista honesto e perceptivo, publicou um artigo intitulado: Revoluções, nem sempre evoluem como gostaríamos. No que diz respeito ao Egito, o título é uma meia-verdade. Ele ainda pergunta: Em vez de democracia, está sendo reinstalado o fantasma de Hosni Mubarak para substituir um estado de segurança?

Há alguns meses, todos eram “pela Revolução” – inclusive os generais e outros elementos proeminentes do velho regime. Mas, com o passar do tempo, eles recuperaram a compostura e a confiança. Sua arrogância ficou clara nos recentes julgamentos que permitiram que a maioria dos elementos criminosos do velho regime escapasse impunemente.

A convocação de eleições que seriam organizadas pelos mesmos burocratas reacionários e corruptos que tinham governado o Egito durante décadas tinha de ser uma farsa, e foi uma farsa. Agora os jovens que fizeram a revolução de 25 de janeiro estão perguntando o que foi que aconteceu com sua revolução. Desenham caricaturas em que o rosto de Mubarak se transforma no rosto de Shafiq através do todo-poderoso Marechal de Campo Tantawi. Isso descreve com precisão o que realmente aconteceu.

Fisk escreve:

“Os jovens algumas vezes parecem ser os únicos egípcios de esquerda com senso de humor – até que você converse com eles. E eles falam de traição. “Em vez de democracia, está sendo reinstalado o fantasma de Hosni Mubarak para substituir um estado de segurança?” É o que estão perguntando muitos dos manifestantes da Praça Tahir ante o segundo turno das eleições presidenciais de 16 e 17 de junho.

O regime de segurança egípcio ainda está em ação. Eles são especialistas em votações fraudulentas, particularmente nas aldeias do Alto Egito, e estão determinados a ver Shafiq instalado no poder. Os generais estão descaradamente utilizando o sectarismo para lançar o medo e a insegurança. Enquanto a Revolução estava na maré alta, os Cristãos Coptas e os Muçulmanos se manifestaram ombro a ombro, se protegendo mutuamente contra os ataques e as provocações da contrarrevolução. Mas, tão logo o movimento começou a refluir, os pogroms assassinos contra os Coptas recomeçaram, organizados pela velha polícia secreta de Mubarak, em conivência com os altos escalões do exército.

Fisk comenta:

E depois há os policiais que escaparam sem punição; o franco-atirador, por exemplo, que atirou em manifestantes e cuja foto foi divulgada na imprensa do Cairo, mas que nunca foi levado a julgamento. Nem um só bandido policial foi acusado de tentativa de homicídio. Eu até ouvi de uma fonte confiável que um policial preso sob o regime de Mubarak por agredir brutalmente um homem no Cairo cumpriu sua sentença e, em seguida, voltou para ser reposto no cargo e promovido. E ele ainda está no cargo. Por que nem um só ‘baltagi’ [bandido] criminoso à paisana foi preso por espancar e matar manifestantes?

As classes na Revolução Egípcia

Ahmed Shafiq é o último primeiro-ministro de Mubarak e viu seu ex-chefe condenado à prisão perpétua. Ele diz que representa a estabilidade, a segurança nas ruas e o fim do caos: em uma palavra, ele representa o fim da Revolução. E, como informa Fisk, “nas ruas do Cairo cada vez mais pessoas – porteiros, lojistas, familiares de policiais e taxistas – expressam seu apoio à ‘estabilidade Shafiq’”.

Para qualquer pessoa remotamente familiarizada com as revoluções, esse desenvolvimento não é de todo surpreendente. Há uma bem conhecida lei da mecânica que diz: a cada ação corresponde uma reação igual e contrária. O impetuoso passo a frente da Revolução Egípcia, que no ano passado parecia ter triunfado em todas as linhas, encontrou sua primeira barreira séria.

Essa barreira é semelhante a outra muito conhecida lei da mecânica: a lei da inércia. A sociedade se compõe de classes e essas classes, baseadas em interesses fundamentalmente opostos, encontram-se em estado de equilíbrio instável. Esse equilíbrio se mantém por longos períodos por uma tendência natural à inércia. As classes antagônicas vivem sob um desconfortável acordo, e isso é necessário ao funcionamento normal da economia e da vida social em geral.

Contudo, em intervalos caracterizados por crises periódicas (guerras, crises econômicas etc.) o equilíbrio é perturbado e emerge um estado caótico. Abrem caminho à superfície as classes oprimidas e os partidos e grupos que foram forçados a viver submersos no período da assim chamada normalidade.

As duas classes principais na sociedade moderna são a burguesia e o proletariado. Contudo, entre esses dois polos antagônicos há toda uma camada de estratos intermediários, que geralmente descrevemos como as classes médias ou a pequena burguesia. Ao contrário da burguesia e do proletariado, a classe média não é uma classe homogênea. No Egito de Mubarak havia uma camada bastante ampla de pessoas que formavam a base do regime.

Além da camada superior de burgueses ricos, dos generais do exército, dos chefes de polícia e dos burocratas corruptos, havia uma ampla camada de pequenos funcionários do governo, advogados, clérigos, policiais, guardas prisionais e suas famílias e dependentes. Adicionalmente, há uma série de pequenos empresários, lojistas, pessoas ligadas ao setor turístico, motoristas de táxi, homens que levavam turistas a passeios em camelos em torno das pirâmides, porteiros de hotel e similares. Todos, de uma forma ou de outra, obtinham seus rendimentos e regalias do antigo regime e tinham pouco ou nenhum interesse em mudança.

Enquanto a Revolução avançava, esses elementos mantiveram mais ou menos a cabeça baixa. Somente em uma ocasião o regime tentou mobilizá-los como tropa de choque para dispersar a Revolução, mas foram rapidamente varridos para o lado pelo movimento das massas revolucionárias. Isso mostrou o equilíbrio real de forças de classe. No momento da verdade, esses elementos revelaram sua verdadeira natureza – a de poeira humana.

A Revolução desperta grandes esperanças nos corações e mentes das massas. Mas se essas esperanças não são satisfeitas, se a Revolução não mantém suas promessas, se um abismo se abre entre palavras e ações, logo todo o processo pode se descosturar e enveredar em sentido inverso. O entusiasmo e a vontade de lutar e de fazer sacrifícios que vimos no início da Revolução podem começar a se traduzir em decepção, desilusão, desespero e desmoralização. Isso, por sua vez, pode levar à apatia e à passividade.

Em suas Teses sobre Revolução e Contrarrevolução, Trotsky escreve:

“2. A revolução é impossível sem a participação das massas em grande escala. Essa participação se torna possível, por sua vez, somente se as massas oprimidas ligam sua esperança de um futuro melhor à ideia da revolução. Nesse sentido, as esperanças engendradas pela revolução são sempre exageradas. Isso se deve à mecânica de classes da sociedade, à terrível penúria da esmagadora maioria das massas, à objetiva necessidade de concentrar a maior esperança e esforço com a finalidade de assegurar o mais modesto progresso, e assim sucessivamente.

3. Mas dessas mesmas condições surge um dos mais importantes – e, além disto, um dos mais comuns – elementos da contrarrevolução. As conquistas obtidas na luta não correspondem, e na natureza das coisas não podem diretamente corresponder, com as expectativas das massas atrasadas que despertaram para a vida política pela primeira vez em grande número no curso da revolução. A desilusão dessas massas, seu retorno à rotina e à futilidade, é parte integrante do período pós-revolucionário tanto como a passagem ao campo da ‘lei e da ordem’ daquelas classes ou setores de classe ‘satisfeitos’, que tinham participado na revolução.”

Neste ponto, os oportunistas que mantinham suas cabeças baixas e suas bocas fechadas por medo das massas revolucionárias, agora começam a elevar a voz, timidamente a princípio e logo mais ousadamente. As rãs do pântano começam a coaxar em uníssono: “A Revolução foi longe demais! Já tivemos o suficiente de extremismo! É tempo de se dar um basta!”.

A verdadeira luta revolucionária pelo poder está nas ruas, nas fábricas e nos quartéis. Aí o poder das massas foi revelado claramente: sua audácia, coragem e determinação. Foi isso o que derrotou cada tentativa das forças contrarrevolucionárias e que finalmente teve êxito em derrubar o tirano Mubarak.

Os elementos decisivos na equação revolucionária foram a classe trabalhadora e a juventude revolucionária do Egito. Eles revelaram tremendo espírito e maturidade revolucionária. Mas, em última análise, faltava-lhes algo que era essencial para seu êxito final: um partido e uma liderança revolucionária.

Sem dúvida, os que se inclinam para o anarquismo vão apontar para o Egito como um exemplo da possibilidade de se realizar a revolução sem um partido ou uma liderança, pela ação direta das massas, vinda de baixo. Mas, na realidade, o que a Revolução Egípcia demonstrou foram as limitações da ação direta e espontânea: as massas tiveram êxito em derrubar Mubarak, mas não tiveram êxito em derrubar o Estado ou em realizar uma verdadeira mudança na sociedade.

A despeito de todo o seu heroísmo, os frutos de sua vitória foram roubados e o pêndulo começou a oscilar na direção oposta. Porque as massas não colocaram as mãos sobre o Estado e o remodelaram à sua própria imagem, formando um governo revolucionário dos trabalhadores e dos camponeses; o velho Estado permaneceu intacto e começou a recuperar o controle da situação.

O velho regime esteve tentando empurrar a Revolução para trás, passo a passo. As eleições presidenciais tinham a intenção de marcar uma etapa decisiva nesse processo. Mas, na prática, teve resultado oposto. O que aconteceu mostra que a Revolução ainda tem reservas consideráveis de energia para avançar a partir delas.

Eleições fraudulentas

A convocação de eleições sob essas circunstâncias se destinava a fornecer um ponto de enlace para todas as forças da contrarrevolução. Ao apresentar Ahmed Shafiq como candidato da “estabilidade”, os generais, que são os reais governadores do Egito, estavam apelando às massas da pequena burguesia e às camadas atrasadas da população para votar contra a revolução.

As eleições presidenciais foram realizadas sob o controle de uma junta militar operando sob a velha Constituição de Mubarak. Foi firmado um acordo entre os militares e a Irmandade Muçulmana depois da queda de Mubarak, que concordou em mantê-la com somente pequenas alterações. A elaboração de uma nova Constituição foi delegada a um comitê constitucional a ser nomeado pelo parlamento, que é controlado pelas forças islâmicas. O velho aparato do Estado permanece no controle da máquina eleitoral.

A realização das eleições se caracterizou por fraudes em massa. Cerca de 500 mil indivíduos elegíveis foram adicionados às listas eleitorais sem explicação pela comissão eleitoral; o acesso dos observadores ao processo de contagem não foi assegurado; foram encontradas urnas viciadas; os principais candidatos derrotados apresentaram denúncias fundamentadas. Mas todos os casos de irregularidades reportados foram rejeitados sem uma investigação séria e nenhum recurso era possível.

A isso devemos acrescentar a fraude em massa. Relata-se que 600 mil soldados – que, por lei, não podem votar – receberam documentos de identificação para votar… por Shafiq, presumimos. Deve ter havido também algumas camadas de “liberais” e estalinistas que votaram por Shafiq para evitar uma “tomada de poder islâmica”.

Visto que Shafiq obviamente mobilizou todas as forças que apoiavam o velho regime, pode-se concluir que cinco milhões de votos é o número mais alto que a contrarrevolução pode reunir. Nessas condições, os votos de Shafiq não anunciam a força da contrarrevolução e sim sua fragilidade.

A característica mais importante do primeiro turno das eleições presidenciais foi o resultado obtido pela esquerda Nasserista, Hamdeen Sabbahi. Ele chegou ao terceiro lugar com 20,7%, cerca de 4,8 milhões de votos. Sabbahi ganhou na maioria dos centros urbanos, nas duas maiores cidades, a capital Cairo e em Alexandria, com cerca de um terço dos votos, deixando seus concorrentes para trás.

Nos centros urbanos as forças pró-revolucionários são a maioria absoluta do eleitorado. Tomemos o caso da favela Imbaba, do Cairo, que costumava ser um reduto Salafista Jihadista na década dos anos 90 e que, mais tarde, foi assumido pela Irmandade Muçulmana. No entanto, Sabbahi chegou ao primeiro lugar (32,2%) seguido por Shafiq (23,2%); Mursi (18,3%); Abdoul Fotouh (14,7%).

Se as eleições de 23-24 de maio tivessem sido de um parlamento proporcional às forças pró-Tahir, cerca de 40% do eleitorado por trás delas teria emergido como a maior força. Esse é um grande avanço quando comparado às eleições parlamentares do último outono. Mas essas eleições foram obviamente fraudadas para excluir as forças revolucionárias e reduzir a escolha a um entre dois candidatos burgueses: um representando o velho regime apoiado pelo exército, e outro da Irmandade Muçulmana.

Após a retirada de todas as outras forças do comitê constitucional, o poder judiciário declarou que o órgão não é representativo. Então, a tentativa do CSFA [Conselho Supremo das Forças Armadas], com a cumplicidade da Irmandade Mulçumana, de evitar a convocação de uma assembleia constituinte democraticamente eleita não deu em nada. Agora, a junta está tentando montar uma assembleia constituinte de acordo com seus interesses.

Através de todos esses desenvolvimentos confusos e contraditórios, os marxistas devem se esforçar para manter a cabeça fria. Devemos trabalhar com palavras de ordem, táticas e estratégias corretas que possam garantir o êxito. Uma linha política correta somente pode ser alcançada através de uma discussão amigável sobre tática e estratégia. Esse é o objetivo do presente artigo.

Há alguns dias, publiquei uma crítica sobre a decisão dos Socialistas Revolucionários egípcios. Em 4 de junho os Socialistas Revolucionários publicaram uma declaração intitulada Aos Camaradas. Esta última foi uma tentativa de dar alguma aparência de justificativa ao seu apoio à Irmandade Muçulmana no segundo turno das eleições presidenciais no Egito.

Claramente, sua anterior declaração de 28 de maio de 2012 que pedia votos para o candidato da Irmandade Muçulmana, Muhammad Morsi, que foi criticada em meu artigo, causou considerável agitação em suas fileiras e também nas fileiras do SWP britânico, sua organização irmã, e entre seus seguidores em nível internacional, como a nova declaração reconhece:

Essa declaração provocou uma resposta negativa entre certo número de membros dos Socialistas Revolucionários, que exige uma discussão detalhada sobre o conteúdo e o momento da declaração, bem como do método como a decisão foi tomada”.

Forma e conteúdo

A nova declaração dos Socialistas Revolucionários começa com um pedido de desculpas. Em primeiro lugar, eles dizem que “os desenvolvimentos subsequentes confirmaram que a urgência foi injustificada”. Em outras palavras, esse era um problema de momento, e não do conteúdo essencial. Se eu digo algo às 10 horas da manhã ou às 10 horas da noite, se eu digo isso com ou sem urgência, não faz nenhuma diferença para a veracidade ou não do que está sendo dito.

“Não queremos neste contexto inventar desculpas para esta pressa, mas apenas explicar o próprio anúncio apressado, e resumi-lo como o desejo da liderança de tomar a iniciativa no estabelecimento de uma posição específica depois de ter sofrido por meses um atraso na tomada de decisões e posições, ou ocasionalmente tomar posições que eram vagas ou na natureza de um compromisso”.

É, naturalmente, indesejável para uma liderança atrasar a tomada de decisões por meses, ou adotar “posições que eram vagas ou na natureza de um compromisso”. Mas é ainda pior, finalmente, “tomar a iniciativa de estabelecer uma posição específica” que é falsa do início ao fim.

Este desejo de determinação e pressa nos levou a acreditar que erramos em publicar essa declaração apressada. Mas, em qualquer caso, estamos obrigados agora não somente a reconhecer o erro que a liderança cometeu, mas também a pedir desculpas aos membros do movimento pela procrastinação e confusão que causamos por esse erro”.

Este é um tipo de pedido de desculpas que não alcança seu objetivo, de forma alguma. Os autores da declaração expressam seu pesar pela pressa da declaração, mas de forma alguma procuram repudiar ou até mesmo modificar o que a declaração de fato anunciou.

Tendo feito um pedido de desculpas que não alcança seu objetivo, os autores em seguida procedem a lidar não com o conteúdo da declaração, mas com o método pelo qual se chegou a ela:

“2) Quanto ao método para se tomar essa decisão, muitos membros do movimento são da opinião de que essa posição foi adotada de forma unilateral, sem discussão suficiente perante a militância. Essa crítica suscitou uma ampla discussão sobre a relação entre centralismo e democracia na tomada de decisões dentro do movimento e em torno de um entendimento compartilhado do que é ‘centralismo democrático’ e de como permitir isso. Tem a liderança o direito de tomar uma decisão sobre uma questão tática ou posição política sem discussões exaustivas ante os quadros e membros do movimento? E qual é o correto equilíbrio entre a necessidade do centralismo para a unidade de ação e a execução eficiente por um lado, e a necessidade de democracia para decisões corretas e suas relações com a prática revolucionária para o quadro?”

O centralismo democrático

O centralismo democrático (fazemos notar que os autores por alguma razão colocaram este termo entre aspas) implica no debate mais amplo e democrático dentro do partido revolucionário antes de se tomar uma decisão, e no maior grau de unidade para colocá-la em prática. Esse era o método do Partido Bolchevique sob Lênin e Trotsky, mas não parece ser o método dos Socialistas Revolucionários.

Sobre uma questão tão importante quanto essa, era imperativo organizar uma discussão interna democrática, permitindo a todos os filiados expressar suas opiniões livremente a favor ou contra. Dessa forma, o partido teria mantido a unidade e realizado o que foi decidido democraticamente pela maioria. Claramente, isso não foi feito. A liderança que, como ela própria admite, “sofreu durante meses o atraso da tomada de decisões e posições”, decidiu unilateralmente apoiar a Irmandade Muçulmana.

Parece que isto foi feito sem nenhuma consulta séria aos filiados. Como resultado, causou “desordem e confusão” e sérias divisões dentro do partido. Desnecessário dizer que esta é a última coisa que o partido necessita neste momento particular. A declaração coloca questões sobre os parâmetros corretos de centralismo democrático em geral, mas não se preocupa em colocar se a inquietação nas fileiras se deveu ao método pelo qual a decisão foi tomada ou pela natureza da decisão em si. Isto é, trata exclusivamente da questão formal e não do conteúdo.

As fileiras revolucionárias maduras aceitarão prontamente o fato de que a liderança algumas vezes seja compelida a tomar decisões urgentes, dada a impossibilidade de consultar as bases adequadamente. Elas aceitarão isso quando o assunto for discutido honestamente depois, contanto que a decisão a que se chegou seja correta. Nesse caso, no entanto, a decisão foi um erro desastroso e isso não é admitido em nenhum momento. Essa e não qualquer decisão formal de procedimentos é a razão para o descontentamento nas fileiras.

Qualquer um pode cometer um erro. Isto vale tanto para um partido revolucionário quanto para qualquer pessoa. Quando um erro é cometido, a primeira coisa a se fazer é admiti-lo honestamente, analisá-lo e certificar-se de que não se repita. Somente assim pode o partido educar seus quadros e elevar o nível político dos seus membros. Mas quando a liderança se recusa a reconhecer um erro e busca justificá-lo, o caminho está preparado para se cometer novos erros. Assim, o que começou com um erro se transforma em uma tendência orgânica.

Infelizmente, os líderes dos Socialistas Revolucionários se recusaram a reconhecer seu erro e, portanto, estão preparando o caminho para erros ainda maiores. Ao reduzir tudo a uma questão de “pressa”, eles ignoram o verdadeiro problema, que é o do abandono de um ponto de vista de classe e da capitulação às pressões de classes alheias.

A declaração em si confessa indiretamente que todas as questões formais para as quais eles pediram desculpas são de importância secundária. Sobre as questões de fundo, os autores não pediram desculpas de forma alguma. Eles reconfirmam sua posição anterior:

“Mas o importante é o esclarecimento de que o conteúdo da declaração apresenta uma posição que foi o resultado de discussões prévias, que haviam se concluído com a necessária convicção pela participação na fase decisiva das eleições e pelo voto contra o candidato do velho regime, quem quer que fosse o seu rival. Por essa razão, a declaração foi, de um ponto de vista formal, extremamente democrática, uma vez que resultou das discussões prévias sobre o tema.”

O SWP e a Irmandade Muçulmana

O que isso significa é que, embora a decisão de apoiar a Irmandade Muçulmana não tenha sido adequadamente discutida, foi realmente “de um ponto de vista formal, extremamente democrática, uma vez que resultou das discussões prévias sobre o tema”.

Se esse foi o resultado de discussões anteriores sobre o tema, não havia nenhuma razão para alguém se surpreender com ele. Gostaríamos de saber qual o sentido dos parágrafos introdutórios, pois se tudo foi “extremamente democrático”, não havia razão de se desculpar por nada.

Sobre esse ponto podemos concordar com os autores do comunicado. É totalmente verdadeiro que a decisão de apoiar a Irmandade Muçulmana, burguesa e reacionária, foi de fato resultado de discussões prévias durante anos. É o resultado lógico da linha oportunista tomada pelos líderes do SWP [Socialist Workers Party – Partido Socialista dos Trabalhadores] britânico em relação às organizações islâmicas e jihadistas, que eles consideram erroneamente como “anti-imperialistas” e, portanto, progressistas.

Durante anos o SWP confundiu e deseducou seus seguidores com esse disparate reacionário que, como dissemos em nosso último artigo, contradiz diretamente a linha de Lênin sobre esta questão. Essa adaptação oportunista encontrou expressão extrema no livro de Chris Harman intitulado O Proletariado e o Profeta.

Os líderes “marxistas” do SWP têm destorcido e falsificado sistematicamente as posições do marxismo sobre religião e luta anti-imperialista durante anos. Vemos agora as inevitáveis consequências de seu oportunismo. Quando os líderes dos Socialistas Revolucionários egípcios dizem que sua capitulação à Irmandade Muçulmana foi resultado de muitas discussões prévias, estão falando a verdade. Eles apenas estão levando à conclusão lógica as ideias que aprenderam em muito tempo de SWP.

O que é realmente revoltante é o fato de que os líderes do SWP, que são os responsáveis diretos por essa traição, estão agora tentando esconder as pegadas e negar toda responsabilidade. Tendo promovido cuidadosamente ilusões em relação a Irmandade Muçulmana durante anos, eles agora publicam artigos criticando a Irmandade e denunciando seus crimes. Essa é uma forma covarde de cobrir o seu traseiro nu para evitar críticas em suas fileiras. Ao mesmo tempo, eles compartilham e apoiam as políticas colaboracionistas dos líderes de seu grupo no Egito. Uma vergonha!

No quarto ponto da declaração lemos o seguinte:

“Muitos imaginaram que o apelo para não votar em Ahmed Shafiq e, portanto, de votar pelo candidato da Irmandade, Morsi, é um tipo de apoio por parte do movimento à Irmandade em si, ou a uma espécie de aliança com ela. E isso é a coisa mais distante da realidade. Todo o mundo sabe que desde o primeiro dia da revolução egípcia, os Socialistas Revolucionários têm dirigido críticas contundentes à Irmandade por sua relutância em participar na revolução”.

Segue-se uma lista de críticas que os Socialistas Revolucionários fizeram à Irmandade no passado. Supõem que isso é o bastante para provar que aqueles que dizem que a linha adotada pelos Socialistas Revolucionários representa um apoio à Irmandade e até mesmo “uma espécie de aliança com ela” estão errados. De fato, tudo isto é uma fantasia.

Não se requer muita imaginação para se ver que, apelando por um voto à Irmandade Muçulmana e à formação de um governo de coalizão com eles, os Socialistas Revolucionários estão apoiando a Irmandade Muçulmana e estão de fato apelando à esquerda, não exatamente para uma “espécie de aliança” com eles, mas para entrar em uma coalizão governamental com eles. Isso está claramente expresso em ambas as declarações dos Socialistas Revolucionários, e esse fato não é minimamente modificado pelas críticas que os Socialistas Revolucionários fizeram – e ainda podem estar fazendo – da Irmandade.

Os mencheviques russos também fizeram muitas críticas a Kerensky e à burguesia russa mas, no momento da verdade, entraram em um bloco com os últimos contra os bolcheviques. O que é mais importante: a crítica ou o fato de que os reformistas entraram em uma coalizão de governo com os agentes da burguesia? A declaração diz: “os Socialistas Revolucionários distinguem com total clareza entre os Irmãos Muçulmanos nas fileiras da oposição durante a era de Mubarak, que foram presos e torturados na luta, e o próprio grupo que começou atualmente a partilhar o poder com os remanescentes do velho regime”.

Isso é confuso ao extremo. Nas prisões de Mubarak havia muitos trabalhadores que foram presos e torturados por participarem em greves. É verdade que muitos líderes e ativistas da Irmandade também foram presos, mas o fato de que alguém seja preso não justifica sua política. O conflito entre o regime de Mubarak e a Irmandade Muçulmana foi um conflito entre duas alas rivais da burguesia. As duas são hostis à classe trabalhadora e à Revolução e, em última análise, sempre estarão combinadas para derrotá-las.

Um partido burguês conservador

A última declaração dos Socialistas Revolucionários é uma tentativa de encobrir o seu embaraço ao salientar que eles apoiariam Morsi “se [ele] aceitasse certas condições fundamentais.” Entre essas condições estão: “a formação de uma coalizão presidencial incluindo Abdel Moneim Abouel Fotouh e Hamdeen Sabbahi; a escolha do gabinete de ministros de fora da Irmandade Muçulmana e de seu partido; concordância com a lei de liberdade sindical; e consenso com as outras forças políticas sobre uma constituição civil”.

Aqui, a coisa vai de mal a pior. O que os Socialistas Revolucionários estão defendendo não é meramente um voto para um partido burguês reacionário, que é a Irmandade Muçulmana, e sempre foi. Eles na verdade estão defendendo a formação de uma coalizão de governo na qual Hamdeen Sabbahi, o representante da Esquerda, colaboraria com a Irmandade Muçulmana.

Isso é a caricatura maliciosa de uma frente popular. Pelo menos os reformistas e estalinistas podiam apresentar sua política de colaboração de classe sob o pretexto de “unidade com os partidos progressistas burgueses”. Mas não há nada de progressista em relação à Irmandade Muçulmana.

Sob a fachada do Islã, a Irmandade é na realidade um partido burguês conservador, comprometido com a “economia de livre mercado” (isto é, com o capitalismo). Um recente artigo da Reuters disse deles: “A Irmandade Muçulmana do Egito elaborou um plano econômico fortemente neoliberal e promete agir rapidamente para negociar um empréstimo do FMI, se formar um governo depois da eleição presidencial deste mês”.

The Financial Times escreve: “Os adversários retratam a Irmandade como uma organização nebulosa obcecada com a religião, mas seu plano abrangente, cujos detalhes foram revelados durante a preparação para a votação presidencial do primeiro turno no mês passado, projeta um pragmatismo que coloca o crescimento rápido acima da ideologia”.

Isso mostra que os representantes mais sérios da burguesia conhecem a real natureza de classe da Irmandade Muçulmana e o conteúdo real de seu programa. Suas ações no governo serão determinadas nem pelo Sagrado Corão nem pelos ideais democráticos, mas exclusivamente pela defesa de seus interesses de classe – isto é, os interesses do big business. Em condições de crise capitalista, isto significa que a Irmandade realizará uma odiosa política de classe contra os trabalhadores.

A economia do Egito está em profundo colapso. Ela se contraiu em 4,3% no primeiro trimestre de 2011, e permaneceu estagnada nos três trimestres seguintes. Turistas e investidores externos estão se afastando; a libra egípcia vem caindo já há sete anos, alimentando a inflação; o governo interino gastou mais da metade das reservas externas do país; pede empréstimos para financiar seu déficit orçamentário a taxas crescentes de juros, enquanto os bancos locais já desdobraram sua capacidade de emprestar ao limite. Pobreza, desemprego e falta de moradias estão aumentando. The Financial Times informa:

Quase a metade das pessoas ganham menos de dois dólares ao dia. A incerteza política e as preocupações de segurança prejudicaram a economia, transformando o investimento direto externo líquido de uma entrada de 6,4 bilhões de dólares, em 2010, a uma saída de 500 milhões de dólares no ano passado, e aumentando a (subestimada) taxa oficial de desemprego de 9% a 12,4%.

Com um déficit fiscal se aproximando de 10% do PIB, o Estado não pode absorver os 700 mil novos candidatos a emprego que entram no mercado de trabalho anualmente. O Egito acaba de introduzir um salário mínimo para o setor privado, mas é só de 700 libras egípcias (116 dólares) ao mês – menos da metade que em Pequim. A maioria dos trabalhadores egípcios não vai mesmo receber esse valor porque trabalham para empresas que operam informalmente para evitar montanhas de burocracia”.

Há mais de um ano a Irmandade formulou um detalhado programa econômico e social chamado El-Nahda (O Renascimento). Khairat El-Shatter, que era a primeira escolha da Irmandade como candidato a presidente até ser desqualificado pelo comitê eleitoral do Estado, é a força motriz por trás do programa.

Ele diz que o estado lastimável da economia do Egito e as pesadas dívidas do governo, que ele estima em 1.140 bilhões de Libras Egípcias (189 bilhões de dólares), dão ao país poucas escolhas além de confiar nas empresas e investidores privados: “A questão não é uma opção para os egípcios no próximo período”, disse ele em uma entrevista em abril. “A economia egípcia deve confiar em grau muito, muito alto no setor privado. A prioridade é para os investidores egípcios, em seguida para os investidores árabes e depois para os estrangeiros”.

Os líderes da Irmandade Muçulmana ficariam muito felizes em aceitar um acordo com a Esquerda. Eles sabem que o estado precário da economia egípcia e a profunda crise do capitalismo mundial os obrigarão a realizar cortes profundos nos padrões de vida. Isso rapidamente destruiria sua base eleitoral. A consequente desilusão resultaria em uma forte virada para a direita, em benefício das forças contrarrevolucionárias que gozariam do benefício de estar na oposição. 

Uma vez que a Irmandade Muçulmana seria, obviamente, o maior “parceiro” em qualquer coalizão, seus ministros atrairiam todos os tiros. A Esquerda ficaria reduzida a desempenhar o papel de segundo violino. Seriam os prisioneiros da maioria, que gentilmente lhes ofereceriam os ministérios mais problemáticos, particularmente o Ministério do Trabalho, o que os forçaria a assumir a responsabilidade pela realização das leis antitrabalhistas, esmagando as greves no setor público e assim por diante.

Se os revolucionários mantiverem uma oposição implacável a todos os partidos burgueses, e particularmente a Irmandade Muçulmana, prepararão o terreno para uma virada à esquerda e para a possibilidade de vitória nas próximas eleições. Mas se a Esquerda for suficientemente tola para entrar em um acordo como o que foi proposto pelos Socialistas Revolucionários, isso seria um sério golpe para a Revolução Egípcia e entregaria o poder a Ahmed Shafiq e aos contrarrevolucionários.

Chega de argumentar que é necessário entrar em uma coalizão com a Irmandade Muçulmana com o objetivo de bloquear o avanço da contrarrevolução!

A Irmandade Muçulmana está perdendo terreno

Para justificar sua política de alianças com a burguesia, a declaração diz:

Mas aqueles que inferem disso que não há nenhuma diferença entre o candidato da contrarrevolução e o candidato da Irmandade Muçulmana, cometem um erro fatal que sustenta catastróficas conclusões incompatíveis com as tradições dos Socialistas Revolucionários”.

Há, é claro, diferenças entre a contrarrevolução aberta e a Irmandade Muçulmana. É a diferença entre a ala da burguesia egípcia que durante décadas teve o monopólio do controle do Estado, e outra ala da mesma classe que foi excluída dessa lucrativa operação e que está agora exigindo que a camada dirigente abra espaço e deixe-os compartilhar do saque.

O conflito é agudo, mas não tão agudo como o conflito entre todas as facções da burguesia e a classe trabalhadora. A declaração admite que “a liderança da Irmandade Muçulmana concilia e barganha, ao ponto de ocasionalmente se cumpliciar com os remanescentes do velho regime”.

Isso deveria ser suficiente para fazer os camaradas tirarem as conclusões corretas: que os antagonismos entre a Irmandade e o velho regime são muito relativos, e que a Irmandade está pronta e disposta a se acomodar ao velho regime, tão logo o último mostrar sua vontade de compartilhar o poder com ela.

A Irmandade tenta mostrar uma cara amável para todos os lados: para as massas, eles posam de democratas e defensores da Revolução (embora suas credenciais “revolucionárias” sejam mais que dúbias); para os generais, eles aparecem como os mais inflexíveis defensores da Ordem; para os islâmicos, eles parecem mais muçulmanos que o próprio Profeta; para os americanos, eles são respeitáveis “islâmicos moderados”, amigos do Ocidente; e assim por diante.

Para justificar seu apoio à Irmandade Muçulmana, o SWP sempre enfatiza sua base proletária. De fato, no passado, durante as eleições parlamentares em Alexandria, Port Said e Suez (que são fortalezas proletárias), a Irmandade e os Salafistas conquistavam vitórias massivas com mais de 80% de apoio.

No entanto, nas últimas eleições o voto pelos islâmicos entrou em colapso. Os dois candidatos vistos como representantes da Revolução – Hamdeen Sabbahi, com 20,7%, e Aboul Fotouh, com 17,4% – puxaram um total de mais de nove milhões de votos, a maioria deles provenientes dos centros industriais e revolucionários.

Isso deve ser visto à luz do fato de que muitas pessoas de Tahir não se preocuparam em participar nas eleições. Nas áreas proletárias os islâmicos foram esmagados. Em Alexandria, Sabbahi e Aboul Fotouh obtiveram mais de 56% dos votos entre eles; somente em Port Said obtiveram mais de 41%. De fato, as únicas circunscrições eleitorais que restam à Irmandade são as áreas rurais. Mesmo aqui, eles perderam muito terreno para Aboul Fotouh e Shafiq.

A Irmandade Muçulmana possui um poderoso aparato e um monte de dinheiro. No entanto, o voto para o candidato da Irmandade na verdade indica um declínio acentuado. Como resultado de sua oposição a Mubarak no passado, a “burguesia islâmica” tem certa base. Mas seu apoio já está declinando, como mostraram as eleições.

De 10,1 milhões de votos, eles perderam quase a metade: seus votos vieram abaixo para 5,8 milhões ou 24,8%. Esse declínio reflete a crescente decepção das massas com a Irmandade devido a sua aliança com os generais e com o CSFA. Por outro lado, Aboul Fotouh, um islâmico liberal, que foi expulso da Irmandade, obteve 17,4%, o que equivale a cerca de 4,1 milhões de votos.

Como resultado desse declínio, os líderes da Irmandade são obrigados a se inclinar para a Esquerda para formar um governo. Eles estão constantemente cortejando o povo na Praça Tahir. “Vocês têm que nos apoiar, ou terão o retorno de Shafiq e do velho regime!”, choram eles. E algumas pessoas ingênuas são tolas o suficiente para acreditar.

Para obter um empréstimo do FMI, a Irmandade Muçulmana terá de aceitar as condições habituais. Ela será obrigada a administrar uma grande dose de remédio amargo ao povo egípcio na forma de cortes de subsídios e de redução dos padrões de vida. Para fazer isso, necessitará de aliados obedientes e obsequiosos que lhe proporcionarão a cobertura de esquerda. Ao pedir o voto para a Irmandade e a formação de um governo de coalizão, os Socialistas Revolucionários estão fornecendo isto. Caíram em uma armadilha da qual não lhes será fácil escapar.

Contradições de classe

Os companheiros Socialistas Revolucionários ficam em terreno mais firme quando dizem que dentro da Irmandade existem contradições de classe entre a liderança burguesa rica e os trabalhadores e camponeses pobres que votam por ela. A declaração afirma:

Mas a Irmandade Muçulmana é uma tremenda organização de massas com bases bem estabelecidas entre a classe média das cidades e do campo, bem como entre os pobres, os trabalhadores e os agricultores. A liderança da Irmandade Muçulmana, ainda que submissa à pressão dos empresários e do velho regime, não pode ignorar suas bases sociológicas.”

Parece que os companheiros deixaram-se impressionar demais por essa “tremenda organização de massas”. Ao seu lado, se sentem fracos e inseguros. Mas a fortaleza da Irmandade é ao mesmo tempo sua fraqueza. Por baixo de uma fachada aparentemente imponente de um “partido de classe média” jazem agudas contradições de classes diferentes. Os líderes tentam encobrir essas divisões mostrando uma cara amável para todos. Mas essa fachada de unidade virá abaixo e a “tremenda organização de massas” vai acabar como um tremendo zero.

A declaração em si não diz nada sobre como os votos da Irmandade se reduziram à metade do que eram das eleições parlamentares às eleições presidenciais. Ela aponta para as divisões e demissões que o grupo sofreu. E afirma de forma correta:

A Irmandade Muçulmana é uma organização cheia de contradições de classe ocultas por trás de vagos slogans religiosos. Mas sempre que a liderança foi forçada a tomar posições concretas e decisivas, essas contradições emergiram.”

Essas contradições de classe dentro da IM se intensificarão inevitavelmente, particularmente quando os líderes entrarem no governo, levando a crises e divisões. Se a Esquerda mantiver sua independência da Irmandade Muçulmana e de todos os outros partidos burgueses, se beneficiará desse processo inevitável de diferenciação de classe. Mas se ela se permitir envolver em acordos eleitorais e de coligação, irá compartilhar de todo o ódio que recai sobre as cabeças da Irmandade.

Que Shafiq é o candidato da contrarrevolução está mais do que claro para todos. Mas disso não se infere absolutamente que se pode justificar apoio ao candidato da Irmandade Muçulmana. A declaração afirma:

7) A escolha entre Shafiq e Morsi não é uma escolha entre um candidato revolucionário e um candidato contrarrevolucionário. Não é uma escolha entre um programa que representa os interesses da nação e outro que representa os interesses da classe dominante. É mais uma escolha entre um candidato burguês militarista hostil à revolução e um candidato burguês vacilante que não quer nem o retorno à velha ordem nem a realização da revolução até o fim. Isso significa uma escolha entre dois inimigos. E a escolha é sobre quem dentre eles preferimos enfrentar: um general que mandará tanques contra os cidadãos ou um evasivo Irmão oportunista sujeito à pressão das bases, e que pode eventualmente ficar exposto perante sua própria base e os cidadãos?”.

Aqui, os autores da declaração cometeram dois erros graves. Exageraram o risco iminente de contrarrevolução para assustar as pessoas e levá-las a apoiar a Irmandade Muçulmana e também exageraram as diferenças entre Shafiq e Morsi para apresentar este último com uma luz mais favorável pela mesma razão. Não explicam que Shafiq e Morsi são essencialmente representantes da mesma classe; que eles defendem os mesmos interesses de classe e que usarão de quaisquer meios à sua disposição para defender esses interesses.

Será verdade que a diferença essencial entre Shafiq e Morsi é que um representa os generais e que enviará os tanques para esmagar a Revolução, enquanto o outro é somente um burguês vacilante “que não quer nem um retorno à velha ordem nem a realização da revolução até o fim”? Não, em absoluto não é verdade, como sabem muito bem os autores da declaração. Eles já admitiram que “a liderança da Irmandade Muçulmana concilia e barganha, ao ponto de ocasionalmente se tornarem cúmplices dos remanescentes do velho regime”.

Será verdade, como sustenta a declaração, que Shafiq quer dar um fim à Revolução, enquanto Morsi “não quer nem o retorno à velha ordem nem a realização da revolução até o fim”? Não, isso é radicalmente falso. Tanto Shafiq quanto Morsi, como representantes da burguesia, querem dar um fim à Revolução tão cedo quanto possível. Pode haver algumas diferenças sobre os métodos apropriados a serem usados, mas o objetivo é exatamente o mesmo.

A forma como a burguesia coloca um fim à Revolução é uma questão tática determinada não pela ideologia ou por princípios abstratos, mas por questões concretas relacionadas ao equilíbrio das forças de classe em dado momento. Nas demonstrações de massas do último fim de semana, os generais não enviaram os tanques para massacrar o povo na Praça Tahir, não devido a algum escrúpulo moral, mas porque temeram as consequências.

Como os generais egípcios, os imperialistas dos EUA, que foram impotentes para intervir durante a Revolução, recuperaram os nervos recentemente e estão intervindo ativamente no processo. Washington gostaria de ver um governo amigável no poder no Cairo. Eles gostariam de ver Ahmed Shafiq retornar ao poder. Mas devem também perceber que isso seria uma provocação que mais uma vez colocaria em movimento a ação revolucionária das massas, com resultados incalculáveis.

Por trás do cenário, os estadunidenses estão harmonizando sua melodia sobre a Irmandade Muçulmana. Independentemente de suas reservas, estão começando a ver que essa organização muçulmana moderada pode se tornar um baluarte contra o “comunismo”, como no passado. The Financial Times diz:

 

Um dos significativos realinhamentos resultantes da primavera árabe é o crescente carinho entre os mentores políticos ocidentais e a Irmandade Muçulmana do Egito. Isso nasce da necessidade, mas foi reforçado pela surpreendente descoberta de que em questões econômicaso ocidente e os islâmicos muitas vezes estão de acordo” [ênfase do autor].

O mesmo artigo acrescenta: “Alguns países europeus, notadamente a Holanda, permanecem cautelosos em conversar com os islâmicos. Mas os executivos e parlamentares britânicos estão retornando do Egito agradavelmente surpresos, dizendo coisas tais como “são pessoas inteligentes com as quais podemos fazer negócios”.

Ao contrário dos autores da declaração, os imperialistas entendem que o equilíbrio de forças de classe não favorece uma aberta demonstração de força contrarrevolucionária. A razão porque a Irmandade nunca enviou tanques para esmagar os trabalhadores em greve e os manifestantes é que ainda não está no poder e, portanto, não tem esses meios à sua disposição. Mas, quando a burguesa Irmandade detiver as rédeas do poder estatal firmemente em suas mãos, seria extremamente ingênuo acreditar que iriam se comportar de forma diferente.

Clarividência e espanto

Agora, finalmente, chegamos às reais razões pelas quais os líderes dos Socialistas Revolucionários assumiram essa posição. No parágrafo nove de sua declaração, eles dizem:

Os resultados do primeiro turno das eleições foram um choque para muitos revolucionários, incluindo os Socialistas Revolucionários. Os resultados de Hamdeen Sabbahi e, em menor extensão, de Aboul Fotouh, clarificaram, sem dúvida, que a maioria dos eleitores apoia a continuidade da revolução, visto que votou por candidatos fora da combinação militar-Irmandade Muçulmana. No entanto, a inclusão de Shafiq no segundo turno das eleições, através de uma combinação de terror e fraude, e de renovadas operações de todos os setores do aparato de segurança e militar, bem como da máquina do Partido Nacional Democrático em seu nome, como um claro candidato da contrarrevolução, criou uma situação de pânico para alguns e de frustração para outros [ênfase do autor].

Trotsky escreveu uma vez que a teoria é a superioridade da clarividência sobre o espanto. Os autores da declaração admitem que ficaram chocados com os resultados do primeiro turno das eleições. Mas por que alguém ficaria surpreso com esses resultados? Será realmente uma surpresa que as eleições realizadas sob a supervisão de velhos burocratas e generais do exército tenham sido fraudadas para dar um resultado favorável ao candidato da contrarrevolução? Não houve nada de surpreendente nisso. Isso é o que era de se esperar.

Eles dizem que estes resultados criaram uma situação de pânico. Isso é uma coisa muito surpreendente para um partido marxista afirmar. Em primeiro lugar, era dever da liderança advertir, aos filiados e seguidores do partido, que tal resultado não era somente possível, mas provável. Em segundo lugar, a reação de um partido marxista à fraude eleitoral não deve ser a de procurar alianças sem princípio com partidos burgueses como “o mal menor”, mas de organizar demonstrações de massas e greves em protesto, para despertar um sentimento geral de indignação e de rebelião das massas contra todos os partidos burgueses, isto é, para levar a revolução adiante.

O resultado do primeiro turno para a Esquerda não foi de todo ruim, particularmente se tivermos em mente que as eleições foram fraudadas. O documento corretamente sublinha esse êxito:

“Hamdeen Sabbahi ganhou a maioria dos votos na maioria dos centros urbanos que representavam a revolução egípcia, e na maioria das regiões nas quais estavam concentrados os setores mais organizados e conscientes da classe trabalhadora. E é isso que indica que o campo revolucionário não foi derrotado e que há novas rodadas por vir na guerra contra a contrarrevolução.

Os votos para Hamdeen Sabbahi foram uma excelente base para se continuar a agitação por nossas reivindicações e para desmascarar nossos inimigos de classe – em especial, a Irmandade Muçulmana – e através disso nos prepararmos para futuros avanços. Mas a conclusão a que chegaram os líderes dos Socialistas Revolucionários não poderia ser mais equivocada. Eles escrevem:

“Mas essa situação requer organização e unidade das fileiras revolucionárias para se criar uma barreira que previna o retorno ao velho regime. E mesquinhos interesses entre as diferentes forças políticas estão se erguendo como um perigoso obstáculo a essa unidade”.

A que unidade eles estão se referindo aqui? Que fileiras revolucionárias podem criar uma barreira que previna o retorno ao velho regime? Nós respondemos: a única unidade que nos interessa é a unidade do povo revolucionário: isto é, a unidade dos trabalhadores, dos camponeses, dos pobres urbanos, da juventude revolucionária, das mulheres e da intelectualidade. Esta e somente esta unidade pode evitar a vitória da contrarrevolução.

Como essa unidade pode ser construída? Nós respondemos: a unidade do povo revolucionário somente pode ser garantida se a classe trabalhadora se colocar à frente de todas as classes oprimidas e liderar a nação. Mas para isso acontecer, é imperativo que o proletariado seja liderado por uma vanguarda consciente e corajosa: por um partido e uma liderança marxista.

Eleições não resolvem nada

Os que procuram atalhos poderão objetar: “mas esse objetivo é muito ambicioso! Somos muito pequenos e devemos buscar aliados”. O objetivo é certamente muito ambicioso se estivermos falando do curto prazo. A tarefa dos marxistas egípcios não é a de conquistar o poder, mas a de conquistar as massas. Mas isso somente pode ser conseguido através de uma luta obstinada e determinada contra as formações políticas burguesas que estão tentando enganar as massas e induzi-las a apoiá-las: e entre elas está, em primeiro lugar, a Irmandade Muçulmana.

É assim que os marxistas entendem unidade revolucionária. Mas como os líderes dos Socialistas Revolucionários a entendem? A declaração diz: “O fator determinante para o êxito de qualquer uma dessas posições é o desenvolvimento de uma distribuição de forças nas praças, por um lado, e a capacidade das forças revolucionárias de unir fileiras, por outro lado”.

O que isto significa? O que se entende por “desenvolvimento de uma distribuição de forças nas praças” e com quais “forças revolucionárias” supostamente nos uniremos? No parágrafo 12 obtemos a resposta:

“De outro ângulo, devemos por pressão sobre os candidatos do primeiro turno eleitoral que estão próximos da revolução, particularmente Hamdeen Sabbahi e Abdoul Fotouh, para juntar suas fileiras e criar uma terceira alternativa, visando colocar pressão de todas as formas possíveis sobre a Irmandade Muçulmana e cristalizar uma alternativa a Morsi no caso de não recebermos a resposta esperada. Essa terceira alternativa deve propor uma posição clara para as eleições do segundo turno, quer pela formação de um conselho presidencial revolucionário, no qual o candidato da Irmandade participaria, ao aceitar as condições das forças revolucionárias, uma questão que se tornou muito difícil, quer através de uma escalada da onda revolucionária de forma que as massas possam responder através do cancelamento das eleições e da imposição de um conselho presidencial de transição”.

Isso é incrível. De acordo com os líderes dos Socialistas Revolucionários, a Esquerda deve buscar unidade com a Irmandade Muçulmana e Abdoul Fotouh, antigo líder da Irmandade. Supostamente essa seria a única forma de se evitar a vitória da contrarrevolução e a destruição da Revolução.

Lembremo-nos que Ahmed Shafiq, o candidato do velho regime, obteve 24,5% – menos que Morsi, que obteve 24,9% e somente um pouco mais que o candidato da Esquerda, que teve 21,1%. Abdoul Fotouh recebeu 17,8% da votação, em comparação aos 21,1% de Sabbahi e aos 24,9% de Morsi. Mesmo de um ponto de vista puramente aritmético, isso não sugere um risco iminente de retorno do velho regime. Mas a aritmética eleitoral não esgota a questão do equilíbrio de forças de classe.

Em termos gerais, o front eleitoral é um terreno favorável para os políticos burgueses e reformistas. Embora tenha grande importância para os marxistas por razões de tática, não é o seu habitat natural. Pode ser usado para mobilizar os trabalhadores, para avaliar nosso progresso e para testar o êxito de nossas consignas. Mas não é, obrigatoriamente, o front mais importante.

Permitir que nossa política fosse determinada pelas flutuações das eleições, ou mesmo dar muita importância a elas, seria um grave erro. Quem quer ganhe as eleições egípcias (e isto será parcialmente determinado pela máquina eleitoral que está pesadamente inclinada em favor da contrarrevolução), a luta de classes continuará e, de fato, se tornará mais intensa.

Em bases burguesas, não há solução para os problemas mais prementes das massas. Nenhum governo burguês pode resolver os problemas de desemprego, salários baixos e más condições de habitação. Isso vale da Grã-Bretanha aos EUA. E é milhares de vezes mais verdadeiro para o Egito.

A primeira onda da Revolução Egípcia levará ao poder a facção burguesa mais moderada e “reformista”. Essa é uma lei que não conhece exceção. As massas, particularmente as massas pequeno-burguesas, sempre vão em busca da opção mais fácil. Mas, na realidade, tal opção não existe. Elas vão aprender uma lição muito dura na escola da Irmandade Muçulmana.

Como podemos lutar contra a ameaça de contrarrevolução?

Os contrarrevolucionários estão se arregimentando em torno da figura de Shafiq. Isso é claro para todos. Os apoiadores do velho regime estão buscando um novo homem forte. Sob o lema de segurança e estabilidade, eles buscam liquidar a Revolução, como o próprio Shafiq anunciou. Os agentes abertos da contrarrevolução esperavam que a simples derrubada de Mubarak fosse o limite da Revolução.

Shafiq se baseia nos militares, no velho aparato do Estado, e nas elites empresariais, que se deram muito bem em suas relações com o velho regime. Ele também ganhou o apoio de um setor dos Coptas. Mas um grande setor dos Coptas de classe média baixa votou por Sabbahi. Assim, considerando que o aparato estatal e grande parte dos meios de comunicação de massa foram mobilizados para apoiar Shafiq, seu resultado eleitoral foi pobre.

Sem a descarada manipulação, é bem possível que Sabbahi tivesse chegado ao segundo turno. Imediatamente depois das eleições, o povo revolucionário voltou à Praça Tahir e às ruas de outras cidades egípcias. Algumas pessoas estavam exigindo que a junta cedesse imediatamente o poder a um conselho de transição civil composto pelos principais candidatos à presidência.

Isso seria claramente insuficiente. Assume-se que os candidatos existentes têm um mandado popular. Eles não o têm. Como é possível permitir que um homem como Shafiq, um representante assumido da contrarrevolução e militar, tenha uma palavra a dizer na decisão do futuro de um Egito democrático? Isso seria uma zombaria à Revolução.

O problema central é o próprio Estado. Enquanto o velho aparato do Estado, exército e burocracia, permanecer intacto, a Revolução não pode dar um só passo a frente. O povo revolucionário deve pegar uma grande vassoura e varrer todo esse lixo para fora.

Devemos exigir a remoção imediata de cada um dos generais, chefes de polícia e burocratas corruptos, os quais devem ser levados a julgamento por seus crimes contra o povo. Uma vez que os juízes nomeados pelo velho regime têm demonstrado que não merecem mais confiança para condenar seus velhos patrões, exigimos tribunais populares compostos por trabalhadores e camponeses.

Em vez de corruptas comissões formadas pelo velho Estado, exigimos a criação de um conselho inteiramente composto por representantes eleitos do movimento popular. As eleições do segundo turno devem ser adiadas até que o CSFA tenha se retirado e que uma nova constituição seja elaborada. Caso contrário, não temos alternativa senão a de boicotar as eleições.

Parece que a principal tendência do povo na Praça Tahir e do movimento da esquerda é por um boicote ou por rasgar suas cédulas para expressar oposição tanto a Shafiq quanto a Morsi. Isso revela um instinto revolucionário correto. Absolutamente nenhuma confiança deve ser dada a Morsi ou à Irmandade Muçulmana! Eles sequer aceitaram a exigência mais elementar da Revolução: fim imediato do governo do CSFA.

Continuar a participar desse processo eleitoral fraudado é dar legitimidade à presente trapaça. Na prática, significa aceitar as regras dos generais. Quanto à Irmandade Muçulmana, ela continua a realizar seu papel traiçoeiro em cumplicidade com a contrarrevolução. Em vez de combater o velho regime, esses burgueses cínicos estão tentando evitar conflitos com ele.

A Irmandade Muçulmana se opõe a um conselho de transição civil mesmo que este inclua a Irmandade. Também se opõe ao adiamento do segundo turno das eleições. Em outras palavras, os líderes da Irmandade estão colaborando ativamente com o regime para perpetuar um sistema antidemocrático. E mesmo assim alguns da Esquerda continuam a pintar a Irmandade Muçulmana em cores gloriosas, como campeões da democracia e como “baluarte contra a contrarrevolução”. Isso não é totalmente vergonhoso?

A palavra de ordem central deve ser o fim do governo dos militares e a convocação imediata de uma verdadeira assembleia constituinte. Sabbahi apelou pelo boicote no próximo turno e, considerando as circunstâncias, esse é o único lema correto. Um boicote ativo, acompanhado por uma greve geral e por protestos massivos de rua, prepararia o terreno para levar a Revolução a uma etapa mais elevada. O lema do boicote é o único consistente com a demanda central do fim do regime militar, que foi levantada pelo movimento revolucionário desde a queda de Mubarak.

Nas bases atuais não se pode excluir a possibilidade de que Shafiq seja anunciado como vitorioso. Mas seria um caso tão óbvio de fraude que seria capaz de provocar uma explosão. As massas irromperiam novamente em cena como fizeram antes. Da primeira vez, elas derrubaram Mubarak. Em seguida, elas tentaram dar um fim ao governo militar antes das eleições parlamentares do outono passado.

Mais recentemente, vimos manifestações de massas contra a absolvição dos filhos de Mubarak e de outros criminosos do velho regime. Mas esses movimentos empalideceriam quando comparados aos protestos de massas que receberiam qualquer tentativa do velho regime de se restabelecer, escondendo-se por trás da máscara de uma falsa democracia.

“Nada mudou no Egito”. No entanto, tudo mudou no Egito! Depois de despertadas pela Revolução, as massas não serão facilmente pacificadas. O gênio não pode ser posto de volta na garrafa. Bloqueado no front eleitoral, o povo não terá alternativa senão tomar as ruas mais uma vez e novamente. Os resultados serão ainda maiores mobilizações populares, manifestações e revoltas.

A Revolução Egípcia ainda tem poderosas reservas. Marx explicou que a Revolução necessita do chicote da contrarrevolução. É provável que, em sua arrogância, a contrarrevolução vá se enganar, provocando outra explosão popular e uma onda revolucionária ainda mais forte.

Os marxistas egípcios podem ganhar bastante sob a condição de que não se permitam influenciar por sentimentos de impaciência e frustração. Devemos seguir o conselho de Lênin: explicar pacientemente. Mas, para se beneficiar dos futuros desenvolvimentos, é crucial permanecer firmemente sobre uma linha de independência de classe.

Tradução: Fabiano Leite