Filas se formaram em agências da Caixa por todo o país devido ao pagamento do auxílio emergencial Foto: Prefeitura de Caruaru

Mensagem aos colegas bancários e bancárias do Brasil

Tem dinheiro de sobra para os banqueiros e sobram ataques aos trabalhadores

Caros colegas,

Não é de hoje que nossos empregos, salários e direitos conquistados por décadas de luta estão na mira dos governos e dos banqueiros. Demissões no setor privado, reestruturações, planos de demissão e até redução salarial nos bancos públicos, fechamento de agências e postos de trabalho, sobrecarga de serviço, stress, metas e assédio moral com a chamada transformação digital dos bancos, tudo isso já havia se tornado uma pesada rotina do trabalho bancário.

A pandemia de coronavírus acelerou todas essas questões a uma velocidade estonteante. Nós bancários não temos mais certeza de nada: se estaremos empregados amanhã, se vamos trabalhar em home office até o fim da epidemia ou se teremos que voltar às agências e locais de trabalho mesmo com o aumento da infecção. Também não sabemos se os colegas que estão trabalhando em regime de contingência, rodízio ou em serviços essenciais estão protegidos da contaminação como deveriam.

Já os colegas que se afastaram do serviço por fazerem parte do grupo de risco e não tiveram autorização para realizar trabalho remoto foram surpreendidos com o confisco de férias atuais e futuras, abonos e licenças para pagar os dias não trabalhados. E como se tudo isso não fosse suficiente, podem ficar com saldo negativo no banco de horas e terem seus salários cortados se não conseguirem compensar depois. Esse confisco foi permitido após a publicação da Medida Provisória 927 pelo governo Bolsonaro.

E não para por aí! Outras MPs já foram emitidas e mais perguntas surgem: será que os bancos vão implementar a MP 936 que estabelece redução de jornada e salário e suspensão do contrato de trabalho se a quarentena for estendida? E a MP 905 que acabava com o direito à jornada de seis horas diárias/30 horas semanais vai ser reeditada como prometeu o governo?

Todas essas preocupações se somam às outras relacionadas com a epidemia, pois desde o governo federal, passando por governos estaduais e municipais, anuncia-se a flexibilização do isolamento social, relaxamento da quarentena e até mesmo reabertura do comércio e essa pressão gera ainda mais ansiedade, pois sabemos que os casos oficiais de Covid-19 só crescem, mesmo com a evidente subnotificação e falta de testes.

Nossos locais de trabalho são ambientes fechados e climatizados – não para o conforto dos funcionários, mas para segurança e proteção do dinheiro em espécie e manutenção das máquinas, servidores e computadores – e basta um cliente, usuário ou trabalhador contaminado (mesmo que assintomático) para espalhar o vírus para dezenas de pessoas.

Governo libera pacote aos bancos sem burocracia

Enquanto seguem os ataques aos bancários e nosso futuro permanece incerto, enquanto clientes e usuários continuam se aglomerando nas agências da Caixa Econômica Federal para receber um auxílio de R$ 600 – que, aliás, ainda não foi liberado para milhares de pessoas que teriam direito –, o governo Bolsonaro liberou um pacote de ajuda aos bancos de R$1,2 trilhão logo no início da epidemia. Dinheiro rápido, sem burocracia e direto para o caixa dos bancos, apenas através de algumas operações bancárias, como redução da alíquota de depósitos compulsórios e alterações nas regras de títulos e fundos financeiros. Um valor equivalente a 16,7% do PIB para os bancos, sem nenhuma contrapartida e sem necessidade de discussões políticas junto ao Executivo, Legislativo ou Judiciário e com a concordância geral dos comentaristas das grandes emissoras televisivas.

E se há um setor econômico que não precisaria de nenhum tipo de ajuda é o setor financeiro. De 2010 a 2019, o lucro dos quatro maiores bancos brasileiros saltou de R$ 38,91 bilhões para R$ 81,51 bilhões, quebrando recordes ano após ano. Esses números foram turbinados pelo pagamento regular de juros e amortizações da dívida pública, cujos bancos são os maiores credores. Somente em 2019, o governo federal gastou R$ 1,038 trilhão do orçamento público para enriquecer ainda mais banqueiros e especuladores nacionais e internacionais.

Movimento sindical nas cordas

Mas por que diante de tantos ataques aos nossos direitos e tanta ajuda dos governos aos banqueiros, o movimento sindical parece não fazer nada?

Em grande parte porque, além de ajudar os banqueiros, o governo também ataca os sindicatos. Surfando na onda da reforma trabalhista aprovada pelo governo de Michel Temer, todas as MPs do governo Bolsonaro autorizam os patrões a implementar os ataques diretamente sobre os empregados, com ou sem anuência das entidades sindicais. E o Judiciário já proferiu decisões que garantem que tais acordos individuais entre patrões e empregados sejam implementados.

No entanto, as atuais direções sindicais também não estão à altura para responder a esses ataques. São décadas de adaptação à administração burocrática das estruturas sindicais e décadas de acordos negociados pacificamente com o governo e os patrões. Em tempos de guerra de classes declarada que estamos vivenciando agora, são incapazes de liderar a luta que se faz necessária.

Pelo contrário, vão cada vez mais à direita e assinam acordos que reduzem salários e direitos ou, quando muito, atuam apenas no sentido de minimizar o estrago e não para evitá-lo ou revertê-lo. É como um pugilista cansado de apanhar que desiste, joga a toalha, mas a luta não para e, no próximo round, volta novamente às cordas e não sabe mais como se defender e vai entregando os pontos.

Uma nova leva de ativistas sindicais pela base terá que se formar no fogo da luta de classes para retomar o movimento sindical e substituir o pugilista cansado que já entregou a luta por outro mais preparado e com novos métodos para vencer.

Nada vai voltar ao normal

Nossa expectativa é que tudo volte ao normal o mais breve possível, porém, a combinação de crise sanitária, econômica e política torna a situação permanentemente instável. “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas”, como bem caracterizou Karl Marx no Manifesto do Partido Comunista.

Esse é exatamente o momento histórico que estamos passando. É hora de questionar todo o sistema por ter falhado em resolver os problemas da humanidade, mesmo existindo meios de produção, técnicos e científicos suficientes para garantir vida digna a todos os habitantes do planeta.

É hora de questionar a incapacidade do atual regime social em preservar a saúde dos seres humanos e se indignar por quererem colocar o lucro acima da vida e do meio ambiente. Enfim, é hora de enxergar que nossa difícil condição de assalariado é semelhante com a de todos os trabalhadores do Brasil e demais países e, portanto, é hora de encarar com seriedade a frase “trabalhadores do mundo, uni-vos”.

Nós da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional, publicamos um Programa Emergencial para a Crise no Brasil, com 10 medidas para enfrentar o vírus e a crise do capitalismo. Além disso, por todo o país, estamos reunindo e formando Comitês de Ação pelo Fora Bolsonaro. Por enquanto, em caráter virtual, mas com o intuito de já irmos nos preparando para os grandes combates que serão necessários para reconquistar direitos e revolucionar a sociedade, pois o governo atual e o sistema capitalista não têm nada a oferecer, a não ser mais cortes e sofrimentos. Por isso, lutamos por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais que somente pode ser alcançado com a organização e mobilização independente da classe trabalhadora e da juventude para pôr pra Fora Bolsonaro.

Lutamos pelo fim do capitalismo e por um sistema socialista, no qual os trabalhadores controlam democraticamente os rumos do país e colocam a produção e a distribuição para satisfazer as necessidades humanas e não mais para enriquecer uma parcela extremamente minoritária da sociedade como é hoje.

Assim, convido os colegas a ler e conhecer nossas ideias e a entrar em contato para fazer parte desse movimento.

  • Fora Bolsonaro!
  • Por um governo dos trabalhadores sem patrões, nem generais!
  • Pelo fim de toda exploração e opressão!
  • Pelo socialismo em escala internacional!