A segunda onda da pandemia

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 19, de 12 de novembro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

A estabilidade, ou mesmo a redução no número de novas contaminações e de mortes provocadas pela Covid-19, tem sido um forte argumento para que Bolsonaro, governadores e prefeitos iniciem um processo de retomada do que entendem ser o “normal”. Entre outras coisas, isso mostra o cinismo da burguesia e seus representantes, que desde o início da pandemia procuram, de todas as formas, expor os trabalhadores à contaminação e à morte para garantir o funcionamento do capitalismo.

Além disso, soa um tanto quanto estranho (para não dizer mórbido) que uma média de cerca de 20 mil novos casos diários, e aproximadamente 400 mortes, seja um dado a ser considerado positivo, ou mesmo um indício de melhora. Há poucas semanas atrás o governo e mesmo a imprensa comemoraram os “apenas” 15.203 novos casos e 340 mortes, registrados no dia 31/10. Contudo, a redução da média de contaminações e mortes diárias escondem, por exemplo, que em 11 estados os números seguem estáveis, ou seja, não aumentaram nem diminuíram, e em 6 outros estados aumentaram.

Desde o começo da pandemia se fala na iminência de uma “segunda onda”, embora o que pareça haver no Brasil, neste momento, é apenas uma amenização da primeira. Em países que antes conseguiram controlar o alastramento da doença, o aumento de casos e mortes é mais perceptível, em especial na Europa. Países como Alemanha, França, Itália e Reino Unido anunciaram novas medidas de confinamento, ainda que mais suaves que nos meses de março e abril, em uma tentativa de conter o avanço da segunda onda da Covid-19.

O presidente Emmanuel Macron, da França, anunciou medidas que impedem as saídas não justificadas, e também pequenas reuniões e eventos coletivos, além de forçar o fechamento de negócios considerados não-essenciais. Mas, ao contrário do primeiro lockdown, de março e abril, escolas permanecerão abertas e indústria, agricultura, construção e administração pública continuarão em funcionamento, embora com algumas restrições. No final de outubro o número de mortes no país voltou a crescer, registrando um total de mais de 35.500 óbitos desde o início da pandemia. No final de outubro o país passou a registrar mais de 30 mil casos diários, num total de mais de 1,2 milhão.

Na Alemanha, o governo de Angela Merkel anunciou novas limitações, visando reduzir o crescimento de contágios, que voltou a bater recordes no final de outubro. No mês de novembro, bares, cinemas, teatros, academias e piscinas devem ficar fechados, enquanto os restaurantes só poderão servir refeições para levar. Os contatos devem ser reduzidos ao máximo de 10 pessoas pertencentes a duas unidades familiares. No final de outubro o país estava registrando, diariamente, cerca de 15 mil novos casos e 85 mortes.

Na Itália, o governo, afirmando querer salvaguardar a economia, duramente afetado nos últimos anos, afirma que tem a intenção de evitar um segundo confinamento. Para conter o aumento de casos, o governo de Giuseppe Conte decretou restrições parciais, como o fechamento de cinemas, teatros e academias, e a redução do horário de funcionamento de bares e restaurantes. Essas medidas se deram sob o protesto dos setores prejudicados, apesar da aprovação de um pacote de ajuda de 5,4 bilhões de euros (36,4 bilhões de reais) para as empresas afetadas.

Esses elementos mostram como os governos se limitam a apresentar medidas que apenas diminuem o número de novos contágios e de mortes, afinal sua prioridade passa por garantir o aumento na exploração da força de trabalho e os lucros da burguesia. No Brasil, o governo Bolsonaro em nenhum momento apresentou qualquer alternativa para que se superasse a primeira onda da pandemia, menosprezando o número de mortes e defendendo os interesses da burguesia, e muito menos dará importância para um possível aumento de contágios e mortes. Os governos dos demais países capitalistas, ainda que alguns se apresentem com um verniz progressista, não têm interesse na preservação da vida dos trabalhadores.

Continua urgente a necessidade de defender um programa emergencial, apresentado pela Esquerda Marxista ainda no começo da pandemia, que passa pela defesa de salário e emprego dos trabalhadores, pelo funcionamento apenas de setores essenciais da economia e pela estatização, sob controle dos trabalhadores, de todo o sistema de saúde. Esse programa está ligado invariavelmente à necessidade de, pela luta e mobilização dos trabalhadores, derrubar os governos que defendem a exploração capitalista e acabar com esse sistema.