A seção norte-americana da CMI está construindo as forças do socialismo revolucionário em todo o país. Banca dos militantes de Boston, de fevereiro de 2020

Cresce a força do marxismo nos EUA

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 05, de 30 de abril de 2020. Confira a edição completa

A decadência do sistema capitalista é nítida em seu coração: o imperialismo americano. A dita recuperação econômica após a crise de 2008, além de muito débil, não significou melhorias nas condições de vida da maioria da população. Ao contrário, o que houve foi o aumento da desigualdade, o rebaixamento dos salários e a maior exploração dos trabalhadores. Uma nova crise, que já se preparava antes da pandemia, agora ganha proporções gigantescas. À frente do país, o demagogo Donald Trump joga mais combustível na situação política. É nesse contexto que o socialismo tem ganhado, nos últimos anos, popularidade nos EUA, especialmente entre a juventude.

Segundo pesquisa de 2019 do Instituto Cato, 50% dos jovens americanos (com menos de 30 anos) são favoráveis ao socialismo. Na população que tem entre 24 e 39 anos (a chamada geração millennials), 36% dizem ser a favor do comunismo! Um militante da seção americana da Corrente Marxista Internacional (CMI) relatava no início do ano que em uma difusão pública do jornal, que tem o mesmo nome da organização, Socialist Revolution (Revolução Socialista), um jovem se aproximou e disse que não iria comprar o jornal. Questionado sobre a razão, ele explicou que não era socialista, e sim comunista. Um pouco confuso o entendimento sobre socialismo e comunismo desse jovem, mas compreensível quando o candidato que se diz “socialista”, Bernie Sanders, defende na realidade um reformismo do Estado burguês.

Esse estado de ânimo geral na sociedade se expressou em movimentos recentes, como Occupy, Black Lives Matter, o aumento das greves operárias e também, de certa forma, no apoio a Sanders nas prévias do Partido Democrata para as eleições presidenciais de 2016 e deste ano. 

A pandemia do novo coronavírus está mostrando toda a falência do sistema capitalista. Os EUA se tornaram o epicentro mundial da crise, com mais de 1 milhão de infectados e 57 mil mortes causadas pela Covid-19 (dados de 28/04). Ou seja, as vítimas da doença praticamente já se equivalem ao total de soldados americanos que morreram na Guerra do Vietnã. Sem um sistema público de saúde, o nível de renda é determinante para definir quem vai morrer e quem vai sobreviver. 

Milhões de americanos simplesmente não têm como buscar tratamento por não terem um seguro de saúde nem condições de pagar por uma consulta, e temem deixar dívidas imensas para suas famílias. Além disso, problemas de saúde pré-existentes, como hipertensão e diabetes, que agravam o quadro da doença, são predominantes entre a população de baixa renda, que não tem acesso a uma alimentação saudável. Com isso, os que mais estão sofrendo com a pandemia são os negros e os imigrantes latinos.

Os impactos na economia também são profundos. O próprio FMI prevê uma retração de 5,9% do PIB dos EUA em 2020. Desde março, 26,5 milhões de americanos perderam o emprego. Toda esta situação está tendo impactos na consciência das massas e tende a aprofundar ainda mais o ódio ao sistema. 

Bernie Sanders poderia utilizar a popularidade que ganhou para encabeçar um amplo movimento contra o capitalismo, em defesa da vida e dos direitos da classe trabalhadora. Porém, mais uma vez, capitulou. Em 2016, após as prévias manipuladas do Partido Democrata terem bloqueado sua candidatura, favorecendo Hillary Clinton, ele se recusou a se lançar como candidato independente e apoiou a candidata de seu partido alinhada ao sistema. Neste ano, mais uma vez, ele abandonou a disputa e já declarou apoio a Joe Biden, o ex-vice de Obama.   

Isso revela mais uma vez todas as limitações do reformismo, da ilusão vendida de que é possível melhorar o capitalismo em sua época de decadência. A única saída positiva para a classe trabalhadora está no combate independente contra a burguesia.

Por isso os marxistas da Socialist Revolution, mesmo buscando diálogo com os apoiadores de Sanders, não declararam apoio ao candidato na disputa no interior do partido de uma ala da burguesia imperialista americana. O que sempre apontamos foi a necessidade de Sanders romper com o Partido Democrata e ajudar na construção de um verdadeiro partido da classe trabalhadora. 

O Partido Democrata não é “menos pior” que o Partido Republicano. Os democratas também organizaram guerras contra povos ao redor do mundo, atacaram a classe trabalhadora americana e estiveram a serviço dos patrões e banqueiros – é só lembrar do dinheiro público revertido aos bancos “grandes demais para quebrar” pelo governo Obama na crise de 2008. Enfim, os dois partidos podem ter táticas diferentes, mas com o mesmo objetivo: defender os interesses da burguesia imperialista.

A posição coerente e firme da seção da CMI nos EUA tem proporcionado um significativo crescimento da organização. A traição de Sanders, na realidade, confirma nossas análises e eleva a autoridade entre os contatos. Logo após a desistência de Sanders foi publicado o chamado “Um apelo revolucionário aos apoiadores de Bernie: Não lamentem, organizem-se!”. Os camaradas relatam que 167 pessoas entraram em contato querendo conhecer a organização apenas na primeira semana após Sanders sair da disputa.

O socialismo ganha popularidade no coração do sistema e a organização revolucionária está se fortalecendo. Os desenvolvimentos da luta de classes nos EUA têm repercussões em todo o mundo. O proletariado americano saberá recuperar suas tradições revolucionárias e será parte fundamental da revolução socialista mundial.