Foto: Valdo Leão, Semcom

Amazonas: Covid-19 volta a crescer e o governo culpa a população

Após sete meses desde o primeiro caso de Covid-19 e com um número gigantesco de mortos e infectados, o Amazonas volta a ver as internações crescerem por conta da doença.

A notícia não é nenhuma surpresa. Mesmo durante a explosão de casos nos meses de abril e maio, o governo jamais tomou qualquer medida concreta para impedir que o vírus se espalhasse.

O fechamento do comércio, bases, restaurantes e escolas (uma resposta à pressão popular e tentativa de adiar o colapso do sistema de saúde) sofreu oposição da burguesia local desde o início e foi suspenso muito antes do tempo necessário.

O Distrito Industrial da cidade, que movimento centenas de milhares de trabalhadores todos os dias e os coloca em convívio próximo por várias horas, continuou funcionando normalmente sob o olhar complacente do Sindicato dos Metalúrgicos (Sindmetal-AM) dirigido pelo PT.

Nos bairros mais pobres da cidade, a situação sanitária já era crítica muito antes da pandemia: falta água encanada diariamente, o sistema de esgoto é inexistente e a maior parte dos resíduos é despejada sem tratamento nos igarapés que cortam a cidade e sobre os quais se erguem milhares de palafitas.

Neles jamais se conheceu qualquer isolamento, o comércio continuou funcionando normalmente e não se vê ninguém de máscara em locais públicos. O governo, que em momento algum se preocupou em garantir atendimento médico, renda e condições mínimas para que os trabalhadores ficassem em casa, agora culpa a população que mais sofreu com a pandemia pelo aumento dos casos.

Ao anunciar o fechamento de bares e balneários e a reabertura das escolas de Ensino Fundamental, o governador Wilson Lima (PSC) tentou moralizar a questão e disse que “não deixaria as baladas abertas e as escolas fechadas”. Parece piada de mau gosto, mas a afirmação saiu da mesma boca que afirmou que o Amazonas havia vencido o pico da pandemia.

No início do mês foi revelado um vídeo mostrando que os números divulgados pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) estavam errados e o número real de mortes era pelo menos 24% maior que o oficial. O erro aconteceu inclusive nos dias 24 de junho e 4 de julho, quando o governo comemorou “zero mortes” pela doença.

Se associarmos o erro nos dados à falta de testes para todos e a recomendação no início da pandemia de que as pessoas só procurassem ajuda médica em caso de sintomas graves, fica fácil perceber que a situação está completamente fora de controle no Amazonas.

Contribui para isso a total inércia dos sindicatos frente ao descaso do governo com a vida e a segurança dos trabalhadores. Além da postura criminosa do Sindmetal-AM, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), dirigido pelo PCdoB, se limitou a “denunciar” as atitudes do governo na justiça burguesa e nas redes sociais. Nenhuma greve por tempo indeterminado foi organizada para impedir a reabertura e o sindicato chegou até mesmo a fazer uma vistoria nas escolas para fiscalizar as medidas de segurança anunciadas pelo governo: o mesmo que dizer que é possível retomar as aulas antes de se ter uma vacina se as tais medidas forem cumpridas.

Wilson Lima escapou de um impeachment na Assembleia Legislativa do Amazonas, mas continua ameaçado pelas investigações acerca da compra superfaturada de respiradores no momento em que pessoas eram enterradas em valas comuns na capital. Mesmo com 68% de reprovação, ele sabe que um novo fechamento deve colocar a burguesia do estado de vez contra ele e vai se equilibrar em medidas inúteis e bravatas para manter tudo como está.

Sua política é a mesma de Bolsonaro, ainda que não tenha a mesma sinceridade do presidente. Ambos servem apenas aos interesses das classes dominantes e vão fazer tudo para manter seus lucros custe o que custar.

Os trabalhadores e jovens do Amazonas, assim como de todo o Brasil, devem estar organizados para lutar contra os ataques nas escolas, universidades, locais de trabalho e nas ruas. Somente um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais pode defender de fato nossas vidas e abrir caminho para a total superação desse sistema que explora, oprime e mata.

  • Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!
  • Fora Wilson Lima!
  • Pelo direito à quarentena com salário integral!
  • Aula presencial, só com vacina!
  • Saúde pública, gratuita e para todos!