PT e PSDB: a coligação de BH (Parte 1)

O boi passou em 1987. Em 2008, a boiada quer passar por Minas Gerais para chegar a Brasília em 2010.

Serge Goulart

O Encontro Municipal do PT, de Belo Horizonte (MG), em 13/04/08, decidiu pela construção de uma candidatura a prefeito que tem por base um “consenso com o PSDB” e a participação numa coligação com o PSB e o PSDB.

Fernando Pimentel, prefeito petista de Belo Horizonte, explica numa entrevista à revista “Isto É”: “Há uma agenda comum sendo construída. Ela envolve responsabilidade fiscal, compromisso com os contratos assumidos, metas claras do ponto de vista monetário e econômico que permitam dar segurança para o investimento externo e interno, para o investidor que busca um horizonte seguro para seu dinheiro. Isso não é coisa dos tucanos, é uma agenda do País. Tanto é assim que o governo Lula manteve em larga medida esses parâmetros”. Esta aliança já tem até nome: “Projeto País”.

E segundo a “Isto É”, na tarde de 22 de Março, Pimentel esteve no Palácio do Planalto para pedir o aval de Lula. Depois disso Pimentel e Patrus, ex-prefeito e atual ministro, comandaram a aprovação desta política conquistando 85% dos votos no Encontro Municipal de Belo Horizonte.

Um escândalo completo! Mas como se chegou a isto?

No 5º Encontro Nacional do PT, em 1987, Zé Dirceu, com apoio de Lula, conduziu a aprovação da “tese” da Articulação (hoje, conhecida como Campo Majoritário) que definia a política de “Acumulação de Forças” (nunca se podia lutar porque estávamos na “etapa de acumular forças”!) de onde decorria a “Etapa Democrática e Popular” e a constituição de “Governos Democráticos e Populares”. Esta política revogava a política das origens do PT.

Se impunha assim a política de colaboração de classes e a busca de “burgueses progressistas”. Começou com as alianças com o PDT e as chamadas Frentes Populares. Era só o começo.

Hoje, isto já chegou ao PMDB, ao PP e qualquer partido disposto a devorar cargos e projetos no governo. O governo de coalizão atual é a expressão desta política nefasta de colaboração de classes.

A Frente Popular (governos com setores da burguesia) obviamente não pode avançar nas lutas da classe trabalhadora, pois “provocaria” os aliados capitalistas. Assim, as lutas devem ser paralisadas. E as medidas do governo devem animar e soldar as alianças com os capitalistas e por isso não podem satisfazer os interesses da classe trabalhadora. Todas as medidas desta política concreta que mantém a exploração de uma classe sobre outra são sempre apresentadas como de “interesse nacional” ou “para o bem de todos”.

Mas não há na história nenhum exemplo de governos de partidos da classe trabalhadora com partidos capitalistas que tenha sido um sucesso em qualquer aspecto ou que não tenha terminado em derrotas imensas ou em tragédia. Nenhum!

A política definida em 1987, no 5º Encontro, “progrediu” e hoje tem o apoio de todas as grandes correntes do PT (Campo Majoritário, DS, Articulação de Esquerda, Movimento PT, PT de Lutas e Massas, etc.). Estas correntes têm votado todas as resoluções em conjunto nos últimos anos. Suas cúpulas só se dividem quando os cargos, no partido e no governo, estão em disputa. Agora estão assustados com o monstro gerado ou melhor com seu próprio futuro se Aécio acaba o candidato de Lula em 2010.

Obviamente que as correntes “de esquerda” do partido estão, bastante discretamente, se posicionando contra este verdadeiro acordo de união nacional. Mas, a proposta de Pimentel é lógica do ponto de vista da política de alianças definida e praticada por Lula junto com todas estas correntes. Só que é difícil convencer os militantes de que não existem mais inimigos de classe e que se pode abraçar todo mundo. Lula tem dito há anos que gostaria de fazer “um partido com os homens de bem do PT e do PSDB”.

Mas isso vai provocar crises e desmoralização nas fileiras destas correntes e nas suas bases sindicais que estão diretamente pressionadas pelas reivindicações dos trabalhadores. Enquanto Lula governa com um crescimento econômico sustentado pela ampliação artificial do crédito e por entradas maciças de capital internacional, ele tem fôlego para manobrar. Mas quando a crise internacional se aprofundar e atingir o Brasil a margem de manobra acaba e esta política provocará choques imensos na base.

Combatendo desde o início o governo de coalizão de Lula com os capitalistas, a Esquerda Marxista se opõe a esta aliança contra-revolucionária. A tarefa dos revolucionários, hoje, é preparar as bases de construção de uma grande corrente marxista intervindo na luta de classes, formando militantes, agrupando os que buscam resistir e explicando as conseqüências da política da direção do partido e como a classe operária pode construir uma saída em direção ao socialismo.

Trechos da incrível entrevista de Pimentel

“Aliança PT/PSDB é risco calculado e está indo bem.”

“O Patrus em um dado momento externou até publicamente: mas não seria melhor uma chapa PT com o PSDB de vice?”

Sobre candidaturas a presidente em 2010:
“Eu acho que o governador (Aécio Neves) reúne essas qualidades. Eu acho que o ministro Patrus reúne essas qualidades, que a ministra Dilma (Casa Civil) reúne essas qualidades. Eu tenho um pouco de dúvida em relação ao governador José Serra, mas o respeito muito”.

“Mas eu vou sempre trabalhando por ele (Lula) e apoiando o governador (Aécio)”.

Fonte: www.fernandopimentel.com.br

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