Carol Solberg na disputa de bronze do Circuito Brasileiro. Foto: CBV

Parabéns, Carol Solberg! Fora Bolsonaro!

Eu, que já fui atleta profissional, tendo participado de duas Olimpíadas e sendo a primeira brasileira a vencer a corrida de São Silvestre, presto toda minha solidariedade à jogadora de vôlei de praia Carol Solberg que, após a conquista da medalha de bronze em etapa do Circuito Nacional, gritou “Fora Bolsonaro” em entrevista ao vivo para a TV.

O desabafo repercutiu aqui e no mundo. Sua atitude desagradou, tristemente, a muitos colegas de profissão, inclusive. A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) lançou nota em que expressa “de forma veemente o seu repúdio” ao ato de Carol e conclui que “tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”. A Comissão de Atletas da CBV vergonhosamente também lançou nota contra “manifestações de cunho político em competições esportivas” e diz que vai lutar “ao máximo para que este tipo de situação não aconteça novamente”.

As fortes declarações da CBV e da Comissão de Atletas revelam a submissão destes órgãos aos interesses de cartolas e patrocinadores. Centralmente, temem perder o patrocínio do Banco do Brasil à modalidade. Os cartolas e patrocinadores querem a obediência permanente do atleta. Não estão acostumados às críticas, acreditam que, pelo poder econômico, podem exigir o silêncio. NÃO!!!! A liberdade de expressão e manifestação é um direito conquistado. Os atletas tem todo o direito de expressar suas opiniões sem receber ameaças.

Esses senhores, que se julgam donatários do esporte, se voltam contra Carol, que quebrou a ordem vigente da obediência e da coluna curvada… Ao contrário, ela usou o seu melhor momento não para fazer os agradecimentos simplistas, moldados por assessores de imprensa, mas para soltar um oportuníssimo “FORA BOLSONARO”!

Governos, patrocinadores estatais ou não, não estão fazendo nenhuma bondade em patrocinar competições e esportistas. Eles usam o privilegiado espaço nos uniformes e locais dos eventos para divulgar as suas marcas. Eles agem pelo lucro, sempre. Os atletas, que treinam, realizam sacrifícios, são a base para que todo o negócio do esporte gire. E, mesmo que existam alguns atletas milionários, a grande maioria sofre com o descaso e a total falta de incentivo público.

Eu já estive nessa estrutura como profissional do atletismo e com patrocínio de uma estatal. Conheço as pressões existentes, mas é preciso resistir. Temos os exemplos da história e da atualidade de atletas que utilizaram a projeção do esporte para evidenciar a luta contra este mundo de opressão e exploração. Lembremos de Tommie Smith e John Carlos com seus punhos cerrados no pódio das Olimpíadas de 1968; Muhammad Ali e seu posicionamento contra a Guerra no Vietnã; Sócrates, Wladimir, Casa Grande e a Democracia Corinthiana; as ações de jogadores da NBA e da NFL contra o racismo e em apoio ao movimento Black Lives Matter, etc.

Diante de tudo isso, é triste ver atletas atacando Carol e defendendo uma censura aos esportistas.

Em meu nome, como ex-atleta, e em nome da organização que participo, a Esquerda Marxista, prestamos nosso apoio e solidariedade à Carol. A Esquerda Marxista levantou o “Fora Bolsonaro” já em março de 2019. Tudo o que tem se desenvolvido neste governo, os ataques aos direitos dos trabalhadores, o descaso com as vidas proletárias vítimas da pandemia, as mentiras e o incentivo ao desmatamento na Amazônia e Pantanal, o discurso reacionário, contra a ciência, de propagação do preconceito e discriminação, toda a submissão aos banqueiros e grandes empresários, tudo isso só reforça a necessidade de pôr fim a este governo para abrir caminho a um verdadeiro governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais.

Parabéns por sua manifestação, Carol! Não se intimide com as ameaças de cartolas, patrocinadores e bolsonaristas nas redes sociais. Estar ao lado da maioria, dos explorados e oprimidos, vale mais do que qualquer troféu.