Imagem: Sinte/SC, Facebook

O completo fracasso do XII Congresso do Sinte/SC

A Corrente Sindical Esquerda Marxista, da Organização Comunista Internacionalista (OCI), esteve presente no XII Congresso do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte/SC), em Urubici, nos dias 15, 16 e 17 de novembro. Com todas as barreiras impostas pela burocracia, realizamos nossa intervenção e diálogo com os trabalhadores presentes defendendo a independência e liberdade sindical.

Há um ditado popular que diz: “nada está tão ruim que não possa piorar”. De fato, na atual conjuntura com a situação da classe trabalhadora penando sob as garras do capitalismo em sua fase senil, nossa vida tende a piorar. Não temos dúvida, é “socialismo ou barbárie”.

Mas e quando o ataque vem da nossa própria entidade sindical? A impressão que todos os participantes do congresso sindical, principalmente os professores que estavam vivendo a experiência de um congresso pela primeira vez, foi o de presenciar a completa decomposição da entidade promovida pela direção estadual com sua programação articulada para impedir a discussão e a formação política da categoria.

Denúncias sobre a ausência de democracia perpetrada por membros da direção do sindicato; exclusão da inscrição de teses de tradicionais correntes políticas que constroem a entidade; microfones cortados em falas da oposição; palestras que mais ofendem aos professores do que os formam e até uma denúncias de assédio sexual e homofobia que, aparentemente, foi acobertada pela direção do Sinte. Tudo isso fez parte de um dia e meio de atividades, já a política de luta não vimos.

Historicamente, o sindicato é uma das ferramentas construídas no contexto da revolução industrial para somar forças e organizar a luta coletiva dos trabalhadores de uma categoria ou mesmo de toda classe. Não precisamos “chover no molhado” e explicar para nossos companheiros de trabalho que as coisas estão cada vez mais difíceis no sistema em que vivemos, e, portanto, a união de todos os trabalhadores é fundamental para combater o sistema e vislumbrar mudanças reais em nossa vida. Mas o que parece óbvio para a categoria massacrada em seus locais de trabalho é ignorado pela direção do Sinte, como veremos a seguir.

Todo congresso tem por objetivo ouvir a categoria, começando no momento que sua direção o anuncia e pede para que as forças políticas presentes entre os trabalhadores apresentem teses de como interpretam a conjuntura atual e qual metodologia mais assertiva deveria ser usada para as lutas do próximo período. Esse primeiro momento é crucial para os trabalhadores que estão fora do aparelho ou conselhos consigam se expressar com o mínimo de decência. Porém, o que vimos desde o início foi a direção do Sinte escondendo de todos que não fossem seus aliados ou estivessem dentro do conselho deliberativo, os períodos hábeis para a apresentação de teses. Nem o regimento para tal. Um duro golpe em vários grupos políticos, inclusive na Corrente Sindical da OCI que não pôde contribuir com o debate.

Várias vezes os representantes da Organização Comunista Internacionalista, assim como representantes de outras correntes sindicais, entraram em contato com o Sinte e em nenhum momento nenhuma informação nos foi passada. Uma evidente tentativa de esvaziar o debate. Tudo isso sendo feito de caso pensado por quem se acostumou ao ar condicionado, e há muito não sabe a dureza do dia a dia da escola.

Além de passar por cima de vários grupos políticos de oposição, a direção do sindicato mostrou mais uma vez o quão tendenciosa é ao escolher o local para fazer o congresso. Nada contra a cidade escolhida, Urubici, na serra catarinense. A cidade, assim como seus habitantes, recebeu muito bem as mais de 600 pessoas presentes. Mas a estrutura onde foram feitas as poucas discussões políticas não eram apropriadas para estimular o debate. Um salão paroquial, sem o mínimo de conforto, onde quem estava ao fundo não conseguia ouvir quem falava na frente e quem falava na mesa não conseguia se concentrar por conta do lugar não ter sido construído para o debate, mas sim para as atividades religiosas e festivas da cidade. Além de tudo, as refeições eram feitas no mesmo local, gerando filas longas e acabando com a concentração de todos que gostariam de construir os próximos anos do sindicato.

Um congresso sindical deve ter como principal objetivo o debate político e a formação dos indivíduos que estão mais dispostos à luta, o que pouco foi visto durante o evento. As apresentações culturais, que também tem sua importância, ou as palestras, algumas compostas de pessoas que não sabem a rotina exaustiva da sala de aula, dominaram o congresso, não agregando em nada para que os delegados que estivessem ali saíssem mais motivados para a luta ou formados teoricamente. Resultado: sem debate, formação, construção ou mesmo empolgação dos companheiros presentes.

Logo no começo do congresso, o coordenador geral do Sinte, Evandro Accadrolli, fez um balanço de sua gestão frente ao sindicato. Segundo Evandro, o sindicato nunca esteve tão bem como agora, nunca teve tantos filiados e a gestão nunca foi tão participativa na luta e no convencimento da categoria, visitando cada escola três vezes no ano. O que despertou gargalhadas, inclusive de delegados apoiadores. Uma mentira descarada de quem vê a burocracia sindical derreter sua gestão composta por várias correntes petistas, que criticam e veem muitos problemas entre si, na política adotada pelo sindicato, mas seguem votando em bloco em nome de cargos e do aparelho sindical.

Segundo Evandro Accadrolli, coordenador geral do Sinte, o sindicato foi tão participativo nas lutas da categoria quanto agora, o que despertou gargalhadas, inclusive de delegados apoiadores

Na apresentação das teses, o primeiro momento político do congresso depois de horas, percebemos o quão distante da realidade estão as contribuições da direção e como as teses de oposição tem falhado em noções teóricas básicas.

Ao longo do congresso, as principais defesas das correntes petistas Articulação Sindical (Art Sind), Reconstruir e Esperançar (RC) e O Trabalho (OT) se dividiram em duas partes: modificações pequenas, preciosistas e sem sentido prático, como a mudança de nome do coordenador estadual do Sinte para presidente, e a traição completa da classe trabalhadora visando reforçar a burocracia, como a mudança do estatuto para que as eleições passassem de três para quatro anos. Cada vez menos o trabalhador participa de seu sindicato, antes só via seus dirigentes de três em três anos. Agora o intervalo será maior, a cada quatro. Revoltante!

Por outro lado, o que se espera da oposição é manter-se atenta a esse tipo de situação e combater o bom combate para não cair nesse tipo de jogo burocrático, coisa que não se viu. Pior, acabou propondo mudanças no estatuto do sindicato que só revelam não compreender a real função da direção e a relação que essa direção sindical deve ter com a classe trabalhadora. A proposta de mudança na proporcionalidade da direção sindical, a qual publicamos um texto explicando nossa posição, revela que os companheiros estão equivocados em sua concepção e dispostos a cair na cilada de dividir a direção de um sindicato com a burocracia do PT, ou ainda com setores da direita. Nós, comunistas, afirmamos: não queremos meia direção, ganha por mudanças burocráticas de estatuto. A queremos por inteiro, ganhando as eleições na base e varrendo a direção pelega que impera e apequena a entidade.

Outro golpe promovido pela direção foi o de encerrar o congresso antes do tempo com a desculpa das condições climáticas terem piorado. De fato, as condições climáticas castigam o Estado de Santa Catarina, em especial a Região da Serra Catarinense onde estava sediado o congresso. No entanto, a pouca discussão política não poderia ter sido limitada por conta disso, o correto seria ter cancelado o congresso no meio e continuar as discussões em outro momento.

Mesmo sob temporal, a direção petista resolveu promover as atividades até a madrugada do dia 17, sexta-feira, e a toque de caixa empurrar de cima para baixo o mandato de 4 anos, agora vigente. Se esquece que o futuro da categoria de mais de 50 mil trabalhadores da educação depende diretamente do futuro do congresso, mas como já relatado antes, a discussão política nunca foi o principal objetivo dos que organizaram esse congresso.

Trotsky já falava no Programa de Transição (1938), pouco antes da Segunda Guerra e dos horrores do nazismo, que a crise da humanidade era a crise das direções da classe trabalhadora, pois já estávamos em condições de passar a ordem socialista há muito tempo porque quem segurava o movimento revolucionário era justamente suas lideranças. A maioria das direções sindicais, também em nosso tempo, tem agido como organizadora de derrotas ao invés de promover a vitória da classe trabalhadora.

Para construir o sindicato que queremos, devemos convencer nossos companheiros de categoria que a atual direção é péssima e que grandes mudanças que ocorreram na humanidade tiveram a organização do conjunto da classe trabalhadora como protagonista

Em Santa Catarina, por exemplo, o salário do magistério é o segundo menor no Brasil, a porcentagem de trabalhadores em regime temporário chega a mais de 65% e as escolas sofrem com a falta do mínimo necessário para acolher os estudantes. Tudo isso estando em um dos estados mais ricos da união.

Como Lênin explicou, para os verdadeiros militantes marxistas, o sindicato é a escola da revolução, uma ferramenta poderosa de intervenção na sociedade que, utilizando os métodos corretos que foram construídos ao longo da história pelos trabalhadores, se torna o catalisador de vitórias do proletariado. Mas, para a burocracia e os oportunistas, esse instrumento torna-se a escola da corrupção e do bloqueio à organização independente do proletariado.

Para construir o sindicato que queremos, devemos convencer nossos companheiros de categoria, na base cotidiana, que a atual direção é péssima e que grandes mudanças que ocorreram na humanidade tiveram a organização do conjunto da classe trabalhadora como protagonista. Portanto, nossa tarefa não é abandonar o sindicato, desfiliando-se, mas disputá-lo e conquistá-lo para os interesses da categoria.

A máxima de que a “emancipação da classe trabalhadora será feita somente pelos trabalhadores” é nossa mais concreta verdade, enquanto o capitalismo existir e imperar no mundo.

Por isso, camaradas da base do Sinte/SC, devemos organizar a oposição contra as forças políticas que dirigem derrotas há décadas e que nada mais tem a oferecer aos profissionais do magistério catarinense. Para isso é fundamental que aprendamos a combater os maus dirigentes com teoria, discussão e luta política, não com mais burocracia ou oportunismos.

Os problemas que vivemos hoje de direções traidoras já foram vividos inúmeras vezes ao longo da história, e sempre foram combatidos com luta e organização. A classe trabalhadora não é ingênua, saberá separar o joio do trigo e escolher o melhor lado se estiver convencida disso.

Para tanto, convidamos a todos que leram este texto a integrar as fileiras da Organização Comunista Internacionalista. Uma organização que visa não somente combater as direções pelegas ou patrões de maneira isolada, mas que tem a ousadia de lutar por um mundo novo, onde a exploração dará lugar a liberdade.