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Nos EUA, negros e latinos são os que mais morrem na pandemia

Com 660 mil casos confirmados e mais de 30 mil mortos de Covid-19, os EUA rapidamente se transformaram no país mais afetado pela pandemia. Grandes cidades como Nova Iorque estão entre as mais atingidas, mas já há casos em todos os estados e até mesmo nos territórios marítimos.

 A crise sanitária nos EUA é fortalecida pela ausência de um sistema de saúde universal e gratuito para os trabalhadores americanos. Os custos de atendimentos médicos básicos chegam aos milhares de dólares e mesmo antes da pandemia era comum que pessoas se negassem a chamar uma ambulância porque não tinham como pagar.

Os planos de saúde e hospitais privados lucram milhões de dólares todos os anos e exercem uma pressão fortíssima para que qualquer medida que leve à universalização do sistema de saúde seja barrada no Congresso e mesmo candidaturas que defendem esse direito, como a de Bernie Sanders, são sabotadas já nas prévias no interior de seus próprios partidos.

Em todos os países a pandemia deixa claras as contradições do capitalismo e no coração do sistema não poderia ser diferente. Mas a situação é ainda mais dramática para aqueles que são os mais explorados entre os trabalhadores norte-americanos: negros e latinos.

Segundo um estudo do Instituto de Política Econômica (EPI), menos de um quinto dos trabalhadores negros e menos de um sexto dos latinos conseguem trabalhar de casa durante o isolamento. Maioria nos serviços essenciais, como supermercados e drogarias, esses trabalhadores permanecem obrigados a trabalhar mesmo sob condições inseguras e com salários que não cobrem o básico de suas necessidades. Outra pesquisa, publicada pelo Pew Research Center no início de abril, já mostrava que 40% dos latinos ouvidos tiveram redução de salários em suas famílias e 29% perderam os seus empregos.

Além dos efeitos econômicos, negros e latinos estão entre os que mais morrem devido ao novo coronavírus. Na semana passada, dados divulgados pela prefeitura de Nova Iorque mostram uma taxa de mortes para cada 100 mil pessoas de 22,8 entre os hispânicos e de 19,8 entre os negros. O mesmo índice para a população branca é de 10,2. No Bronx, distrito mais pobre do país e de maioria latina, já morreram mais pessoas que em todo o estado de Connecticut e a situação é igualmente ruim em bairros de maioria negra como o Queens e o Brooklyn.

As principais causas para essa mortalidade são a impossibilidade de trabalhar em casa e doenças agravantes como hipertensão, asma e diabetes. Ambas são resultado das terríveis condições de pobreza e exploração em que vivem esses trabalhadores no país mais rico do mundo. Nos EUA, o salário mínimo federal, pago à maioria dos negros e latinos, é de apenas US$ 7,25 a hora. Um trabalhador que ganhe esse valor precisa trabalhar em média 100 horas por semana só para pagar o aluguel.

Na ausência de um sistema de saúde universal e gratuito, esses trabalhadores precisam pagar por planos de saúde e atendimento médico privado e são os que menos têm cobertura de seguros-saúde. Além disso, mesmo os que têm como ir a um hospital são obrigados a enfrentar o racismo fortemente enraizado na sociedade americana e recebem cuidados inferiores por parte de médicos e enfermeiros.

Os negros norte-americanos também têm maior propensão à obesidade, diabetes e hipertensão, doenças fortemente relacionadas à dificuldade de acesso a alimentos saudáveis e com alto valor nutritivo. Os chamados “desertos de comida” no país são bairros ou regiões inteiras onde não se encontra um supermercado ou feira, o que obriga os moradores a se alimentarem com produtos industrializados vendidos em lojas de conveniência.

A divisão dos trabalhadores em linhas raciais é um instrumento histórico da burguesia para reduzir os salários, rebaixar a consciência de classe e justificar todo tipo de violência e atrocidade contra a parcela mais pobre da população. A luta de classes nos EUA tem exemplos riquíssimos de luta antirracista, como o movimento pelos direitos civis nos anos 1960 e o partido do Panteras Negras nos anos 1970, e movimentos recentes como o Black Lives Matter mostram que a revolta e o ímpeto de luta continuam presentes.

Um partido de trabalhadores que seja capaz de romper com as ilusões do bipartidarismo burguês e elevar a consciência da classe se faz mais necessário do que nunca. Somente a organização da classe trabalhadora poderá garantir as condições mínimas de saúde e sobrevivência diante da pandemia e somente a superação do capitalismo permitirá o fim da opressão contra os trabalhadores, especialmente os negros e latinos.