Imagem: Organização Comunista Internacionalista (OCI)

Nasce a Organização Comunista Internacionalista

Editorial da 33ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura agora! Apoie a imprensa comunista.

Estas palavras ficaram célebres no Manifesto Comunista de 1848:

“Já é tempo de os comunistas exporem abertamente perante o mundo inteiro o seu modo de ver, os seus objetivos, as suas tendências, e de contraporem à lenda do espectro do comunismo um Manifesto do próprio partido.”

Já se passaram 175 anos desde que estas palavras foram escritas e, mundo afora, com a ascensão da “nova direita” (Bolsonaro, Trump, Milei etc.) o mundo deu giros para trás e todo adversário político desses senhores é agora acusado de comunista. Mas o Manifesto também explica esta situação e o que fazem os acusados:

“Onde está o partido de oposição que não tivesse sido vilipendiado pelos seus adversários no governo como comunista, onde está o partido de oposição que não tivesse arremessado de volta, tanto contra os oposicionistas mais progressistas como contra os seus adversários reacionários, a recriminação estigmatizante do comunismo?”

Depois de mais de 175 anos do Manifesto e de mais de 100 anos da Revolução Russa de 1917, a juventude do mundo inteiro, desencantada com o capitalismo, busca um contraponto radical ao sistema que a oprime. Para entendermos tal fato, precisamos aplicar o que diz o Manifesto: a história da humanidade é a história da luta de classes. Vamos falar um pouco da história das últimas décadas.

Resumidamente: a Revolução Russa de 1917 levou ao poder, pela primeira vez, um partido que representava o proletariado e defendia os interesses da maioria explorada. Em uma negociação, acusado por um general alemão de que o governo bolchevique se mantinha pela força das armas, Trotsky respondeu: “sim, fazemos isso. Só que usamos a força contra os patrões e não contra os trabalhadores. Isso é o que vos espanta!”.

Lênin analisava que a Rússia era o elo mais fraco da cadeia imperialista e que a Revolução Russa ia ser o início de uma série de revoluções que mudaria o mundo. Mas as revoluções que se seguiram foram derrotadas, particularmente na Alemanha. Com isso, o Estado operário ficou isolado no mundo, sob o fogo da burguesia.

Lênin analisava que a Rússia era o elo mais fraco da cadeia imperialista e que a Revolução Russa ia ser o início de uma série de revoluções que mudaria o mundo. Mas as revoluções que se seguiram foram derrotadas, particularmente na Alemanha / Imagem: domínio público

Esta situação levou a uma contrarrevolução que não se completou: um dos antigos bolcheviques, Stalin, assumiu o poder e liquidou toda a velha guarda bolchevique. Centenas de milhares de comunistas foram executados pelo regime stalinista. Em 1938, só dois antigos bolcheviques que eram do Comitê Central de 1917 estavam vivos: Stalin e Trotsky, exilado. Em 1940, Stalin liquidou a fatura, assassinando Trotsky.

Na 2ª Guerra Mundial, a coletivização dos meios de produção mostrou sua força e a URSS venceu a Alemanha. E só não ocupou todo o território alemão porque Stalin chegou a um acordo com o imperialismo: os famosos acordos de Yalta e Potsdam, que dividiram o mundo em “zonas de influência”. Com o fim da guerra “quente”, a antiga aliança entre a burguesia e a burocracia russa se desfez e começou a “guerra fria”.

O que levou a isso? Stalin tinha deixado de ser um revolucionário e passou a ser um defensor do status quo, onde os interesses da burocracia não eram de realizar novas revoluções, mas, ao contrário, de impedir novas revoluções para preservar seus interesses de casta burocrática.

Assim, os partidos comunistas e a Internacional Comunista (3ª Internacional) traíram as diversas revoluções a partir de 1927 – greve geral inglesa, revolução chinesa em 1927 e, a pior de todas, entregou o poder sem luta a Hitler em 1933, dividindo os proletários e chamando os operários sociais-democratas de sociais-fascistas, enquanto buscavam se aliar abertamente aos fascistas na Itália.

Trotsky, no exílio, declara que a 3ª Internacional está morta para a revolução e começa o trabalho de fundar a 4ª Internacional. Stalin se dedica a fuzilar todos os opositores comunistas no interior da URSS e assassinar o restante nos outros países do mundo. Mais de 80 mil operários aderentes à 4ª Internacional são fuzilados na URSS. Também é fuzilada a oposição de direita ligada a Bukharin e os centristas ligados a Kamenev e Zinoviev.

Do congresso do partido de 1934, no qual todos, absolutamente todos, eram stalinistas, dois terços foram fuzilados. Assim, destruiu-se o maior partido revolucionário que o mundo já conheceu e um rio de sangue separava os comunistas que não reverenciavam Stalin de todas as outras frações comunistas.

Nos Partidos Comunistas (PCs) de todo o mundo era inscrito no estatuto a proibição absoluta de “conversar com trotskistas”. Um membro do partido podia ser expulso por dizer bom dia a um membro da 4ª Internacional em uma reunião.

A 4ª Internacional, os bolcheviques-leninistas, estavam, nas palavras de Trotsky, “exilados de sua própria classe”. Mas a história ensina e ela é uma madrasta cruel.

No fim da 2ª Guerra Mundial a URSS parecia invencível. Nos países ocupados pelas tropas soviéticas, por pressão das massas de um lado e do imperialismo do outro, o capital foi expropriado e foram constituídos estados burocratizados. A Revolução Chinesa levou o Partido Comunista Chinês ao poder. A Revolução Cubana mostrou que o comunismo estava às portas de “Tio Sam”. E isso tudo apesar de todo o esforço contrarrevolucionário da burocracia soviética, com Stalin e seus sucessores fazendo o possível e o impossível para impedir a revolução.

Em 1944 as tropas soviéticas pararam na fronteira da Grécia e assistiram impassíveis enquanto os ingleses massacravam o PC grego que tinha expulsado os nazistas. Revoluções políticas na Polônia, em Berlim Oriental e outros países da “Europa do Leste” foram esmagadas pelas tropas soviéticas, culminando com a invasão da Tchecoslováquia em 1968.

Mas a força da revolução brotava por todos os poros e o imperialismo norte americano é derrotado e expulso do Vietnã. Kissinger, mais do que depressa, costurou um acordo com a China, culminando com a visita do reacionário Nixon à China! Sim, todas as burocracias faziam de tudo para preservar o status quo.

As revoluções coloniais tinham arrancado as colônias do controle direto do imperialismo, mantendo suas condições de países semicoloniais, nas quais a economia e o mercado interno e externo são controlados pelo capital financeiro internacional.

E o desenvolvimento atrasado dos países onde o capital foi expropriado pesou. A produtividade da economia soviética nos anos 60 era quase seis vezes menor do que nos países imperialistas. E isso, em determinado momento, quando a perspectiva de revolução internacional foi substituída pela construção do socialismo em um só pais (ou em cada país em particular, nos países onde o capital foi expropriado) levou a um estrangulamento econômico. A saída política – as revoluções políticas que girassem a revolução rumo à luta pelo socialismo em nível internacional – foram afogadas em sangue. E o peso da economia fazia soçobrar a URSS.

Uma última tentativa foi feita por Gorbachev, a Glassnot, a abertura. Mas isso levou somente a que os últimos pedaços da burocracia voassem pelos ares, com cada burocrata pilhando a propriedade estatal em seu próprio nome. A China restabeleceu a propriedade privada dos meios de produção, caiu o muro de Berlim, caiu a URSS e o que sobrou foi uma economia mafiosa que se estendia por todos os antigos países da Europa do Leste.

Uma última tentativa foi feita por Gorbachev, a Glassnot, a abertura. Mas isso levou somente a que os últimos pedaços da burocracia soviética voassem pelos ares / David Broa, Wikimedia Commons

A revolução política foi esmagada pelos tanques na Praça Celestial em Pequim e o caminho para a restauração capitalista à moda chinesa – lenta e gradual – foi consolidado.

Trotsky em 1935 aventou que a URSS poderia ter dois destinos – a revolução política e a retomada da luta da classe operária ou a restauração do capitalismo e, nesse caso, seria a maior derrota que o proletariado sofreria. A segunda hipótese se concretizou e o mundo voltou atrás em termos sociais.

As conquistas da classe operária foram sendo atacadas no mundo inteiro pela chamada “globalização”. As “reformas” nada mais eram que a destruição das antigas reformas do capitalismo das quais a socialdemocracia tanto se orgulhava. Os antigos PCs desapareceram na poeira dos tempos ou se transformaram em partidos socialdemocratas ou diretamente capitalistas (como o PC italiano). Sobraram alguns grupos que tentavam ir em direção à revolução ou simplesmente adotaram uma política centrista. A Internacional Socialista perdeu qualquer política internacional e toda a sua atividade se transformou na melhor forma de aplicar os planos do capitalismo. Os novos partidos e as novas lideranças, como na Grécia (Syriza), Espanha (Podemos), França (França Insubmissa) e Inglaterra (Corbin no Partido Trabalhista) traíram mais rápido que qualquer novo partido desde então.

Os restos da 4ª Internacional que tinham sobrado da destruição de 1948/52 se adaptaram a uma política rasteira sindicalista ou se tornaram identitaristas, sem relação com a classe operária.

Os marxistas, organizados na CMI, fizeram um balanço correto da derrota dos anos 89/90 e começaram a abrir caminho para a reconstrução de uma Internacional Comunista e de partidos comunistas em todos os países do mundo. Neste caminho, encontramos vários grupos que se salvaram da debacle dos PCs e procuram uma via revolucionária. É este o caminho que tomamos agora.

No Brasil, nós decidimos sair do PSOL. Este foi um dos novos partidos construídos a partir da virada à direita do PT no início dos anos 2000. Ele muito cresceu nos anos 2010, mas passou e assumiu uma política cada vez mais identitarista e governista, que se completou com a participação no governo Lula/ Alckmim de união nacional.

Os comunistas têm outro lugar. Juntos à classe operária, nada temos a perder, a não ser a opressão e repressão que se abate sobre o proletariado. Por isso, modificamos nosso nome, somos agora a Organização Comunista Internacionalista (OCI), e caminhamos orgulhosamente para a reconstrução de um verdadeiro Partido Comunista, de uma verdadeira Internacional Comunista.

Viva a classe operária!
Viva a Internacional!
A emancipação dos trabalhadores será obra deles próprios!