Foto: Anthony Quintano, Flickr

Intensificam-se os expurgos de grupos de esquerda das redes sociais

A censura dos grupos de esquerda nas mídias sociais continua, com o Facebook recentemente removendo e restringindo páginas anarquistas e antifascistas dos EUA. Isto é parte de um padrão em que se veem movimentos semelhantes em outras plataformas. Estes expurgos demonstram de qual lado estas enormes corporações estão e porque nós devemos lutar pelo domínio público e a propriedade das mídias sociais.

Expurgos de contas

As contas que foram removidas incluem It’s Going Down, CrimethInc Ex-Workers Collective, Pacific Northwest Youth Liberation Front e Enough is Enough. O próprio Facebook sugeriu que quase 1000 grupos e mais de 500 páginas fossem removidos. E um grande número de hashtags e contas tiveram restrições impostas a elas.

Simultaneamente, em torno de 800 grupos e 100 páginas ligadas a teoria QAnon de extrema direita foram restritas ou removidas. Isto é parte de uma mudança política na qual o Facebook escolhe como alvos “movimentos crescentes que, embora não organizem a violência diretamente, celebram atos violentos, mostram que eles têm armas e que deveriam usá-las ou tem seguidores individuais com padrões de comportamento violento” enquanto incluem alguns “que tem demonstrado riscos significantes a segurança pública, mas não reúnem critérios rigorosos para serem designados como organização perigosa”.

Com um critério muito vago como “seguidores individuais com padrões de comportamento violento”, está claro que esta política permitirá, e está permitindo, que o Facebook censure páginas devido as suas visões políticas, não por “ameaças de violência”. Isto também demonstra porque nós não podemos confiar na classe dominante para permitir a liberdade de fala quando existir uma ameaça ao seu sistema.

Seguindo as ordens de Trump

Coincidentemente ou não, este ataque aos grupos antifascistas e anarquistas acontece ao mesmo tempo em que os ataques públicos a classe dominante nos EUA têm se intensificado. Donald Trump comparou recentemente bandidos que aterrorizam comunidades com os grupos que se organizam para enfrenta-los, e esta é a mesma tática usada pelo Facebook. Isto é, eles equiparam fascistas com antifascistas. Provavelmente, a melhor descrição de sugerir que aqueles que tentam se opor fisicamente a grupos que cometeram vários atos de terrorismo são, de alguma forma, os mesmos que realmente realizam os atos, é absurda.

Isto não deveria ser uma surpresa, com a tentativa de Trump de solidificar seu apoio entre as camadas mais atrasadas para a eleição presidencial dos EUA. Este movimento de imitação do Facebook procura não somente desviar a culpa pela violência para longe dos responsáveis, os bandidos reacionários de extrema direita, mas também tenta desacreditar qualquer movimento que talvez ameace o sistema capitalista.

Não que fosse necessária qualquer outra prova, mas também foi apontado que a extrema direita foi responsável por no mínimo 329 assassinatos nos últimos 30 anos nos EUA, enquanto os movimentos de esquerda não foram responsável por nenhum.

Esta está longe de ser a primeira vez que as companhias de mídia social tem tomado ações contra contas de esquerda. Em janeiro, numerosas contas do Twitter ligadas ao governo venezuelano foram suspensas sem aviso. Isto se estendeu aos apoiadores da revolução bolivariana, incluindo a conta a Lucha de Clases da própria CMI.

E somente no último mês, a conta do jornal cubano Juventud Rebelde foi suspensa pelo twitter, e o YouTube fechou as contas dos canais de TV da Venezuela e Cuba.

Estes são somente alguns exemplos, e não incluem ações tomadas contra postagens individuais, fotos e vídeos. Como exemplo, ativistas têm reportado que tiveram postagens deletadas por tentar culpar o sistema capitalista pela crise do coronavírus, com a afirmação que isto era fake news!

Também deveria ser pontuado que estas regras não são aplicadas igualmente, como sendo um exemplo a recente recusa em banir o político indiano T. Raja Singh. Singh, uma liderança do governo Modi, postou comentários islamofóbicos, chegando até mesmo a pedir que os muçulmanos fossem fuzilados. O próprio Facebook reconheceu que isto viola as regras de discurso de violência, mas se recusou a apagar sua conta para evitar a ameaça aos seus interesses de negócios na Índia. O mesmo é verdadeiro para diversos outros membros proeminentes do BJP, partido de Modi, que incitaram o ódio contra os muçulmanos. É claro que o Facebook não tem interesse em “prevenir a violência”, mas isto é puramente, para fortalecer seus próprios interesses, e das classes dominantes dos EUA.

O poder das mídias sociais

O poder que as companhias de mídia social têm não pode ser subestimado. Estima-se que metade da população mundial tem no mínimo uma conta em uma mídia social. O Facebook tem 2.6 bilhões de usuários, o Youtube tem 2 bilhões, Instagram 1.1 bilhão e o Twitter 326 milhões. Com esta imensa cobertura, as plataformas detém imenso poder sobre a liberdade de discurso. A importância disto foi demonstrada nos anos recentes, com a organização nas redes sociais desempenhando um papel na Primavera Árabe e em outros movimentos recentes.

Além do mais, enquetes tem mostrado que 50% dos adultos recebem notícias pelas mídias sociais ao invés dos tradicionais jornais e noticiários da TV.

Corporações das mídias sociais

As plataformas de mídia sociais são um grande negócio em seu próprio âmbito. A renda do Facebook é de quase US$ 60 bilhões por ano, do Youtube é de US$ 20 bilhões, do Instagram e do Twitter são mais de US$ 3 bilhões. O fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, é um dos indivíduos mais ricos do mundo, e ele é propriedade, junto com outras companhias de mídia social, dos investidores mais ricos do mercado das ações.

E é por esta razão, e não por qualquer razão de “mau comportamento” nas plataformas das mídias sociais, que a censura está tomando lugar. E não é do seu interesse permitir visões que talvez ameacem o sistema capitalista, por isso o que lhes interessa é removê-las. Isto é semelhante a como a mídia é apropriada privadamente, para assegurar que as visualizações em tais plataformas sejam somente aquelas que não ameacem o capitalismo. Estas plataformas não são politicamente neutras, mesmo que forneçam ferramentas para todos os tipos de organizações de esquerda. O Facebook permitiu que direitistas como Bannon e Mercer, na Cambridge Analytica, usassem os dados pessoais do Facebook para direcionar mensagens racistas e inflamatórias para aqueles que eles considerassem uma audiência suscetível durante as eleições no mundo todo. Isto foi somente a ponta do Iceberg, e só foi revelado porque as “travessuras” de Mercer & Cia estão indo contra o interesse de outra ala da classe dominante. As revelações de Snowden mostraram o acesso de longo alcance dos serviços de inteligência dos EUA e de seus parceiros para reunir dados, e eles estão, indubitavelmente, da mesma maneira.

Propriedade pública das mídias sociais

Nós não podemos confiar no Estado capitalista e nas companhias privadas para prevenir que os fascistas e os racistas se organizem ou promovam seus pontos de vista. Na realidade, quando lhes convém, eles permitem que estas pessoas reinem livremente, seja Bannon ou Raja Singh. Somente o movimento dos trabalhadores e a classe trabalhadora podem se prevenir contra as organizações de extrema direita.

Nós somos totalmente solidários com os grupos de esquerda que foram censurados e somos contra qualquer tentativa da classe dominante de impedir a organização de esquerda. A única maneira de garantir a livre expressão é lutar pela propriedade e o controle da classe trabalhadora sobre a mídia impressa e as plataformas de mídias sociais. Com a mídia e as mídias sociais sob a propriedade pública, nós poderíamos assegurar uma plataforma semelhante para os pontos de vista da classe trabalhadora e não simplesmente para uma pequena minoria da classe dominante.

A classe dominante talvez permita a “livre expressão” quando esta ameaça muito pouca a sua posição, mas a história mostra que ela não hesita em agir quando o caso é o contrário. A radicalização por conta do movimento Black Lives Matter representa tal ameaça e, por esta razão, as seções de militantes da classe trabalhadora estão enfrentando a censura.

TRADUÇÃO DE JOSÉ GUTERRES

PUBLICADO EM MARXIST.COM