É urgente combater os cortes e mobilizar estudantes e trabalhadores

Entrevista entre universitários: a crise do capital, a pandemia e os impactos no ensino superior privado

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 15, de 17 de setembro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

Uma prova de que Bolsonaro e o Congresso Nacional não representam os trabalhadores é a proposta de orçamento do governo para 2021, que prevê cortes de investimentos em educação, ciência e saúde. Estes cortes impactam diretamente nas vidas dos trabalhadores e da juventude, ainda mais sob uma pandemia, na qual a saúde é uma questão emergencial para salvar vidas. Neste contexto, a grande maioria dos trabalhadores depende dos serviços públicos de saúde, enquanto os ricos se tratam nos melhores e mais caros hospitais privados.

A Esquerda Marxista e a Liberdade e Luta entendem que a única saída para que a classe trabalhadora e a juventude deixem de sofrer todos esses ataques, opressões cotidianas e risco de vida pela contaminação da Covid-19, é a garantia dos direitos à quarentena e aos serviços públicos, gratuitos e para todos. Para isso, é necessário que os trabalhadores se organizem na luta pelo Fora Bolsonaro, e que constituam um governo seu; ou seja, um governo dos trabalhadores sem patrões e nem generais.

Convidamos para uma entrevista a estudante Naylla Manenti, para falar sobre a situação de estudantes e trabalhadores das universidades privadas.

Cassio Eduardo: Naylla, qual é a realidade atual dos estudantes das universidades privadas?

Naylla Manenti: Bom, primeiro é preciso explicar que há uma diferença gritante entre a quantidade de universidades públicas e privadas. A realidade hoje é a dominação do ensino superior por parte dessas instituições privadas que visam apenas o lucro. Antes mesmo do atual cenário, os estudantes já sofriam diversos ataques e agora no meio da pandemia isso só se agravou.

Além das mensalidades, as mantenedoras não garantiram nenhuma das condições necessárias para a continuidade dos estudos e do trabalho, com a distribuição de equipamentos necessários para o acesso às aulas (como computadores e internet), levando muitos estudantes a trancarem seus cursos, pois não tinham como continuar. Podemos citar também as demissões em massa que ocorreram em diversas instituições, só no primeiro semestre de 2020.

Como se tudo isso não bastasse, com a volta às aulas agora, no segundo semestre de 2020, enfrentamos salas de aulas virtuais superlotadas, com mais de 100, 150 e até 200 estudantes. Há relatos, na Uninove[1], por exemplo, de salas virtuais com quase 500 estudantes, gerando uma enorme sobrecarga de trabalho aos professores. Tudo isso para reduzir os gastos da universidade, uma vez que a quantidade de aulas e salas caíram.

Importante ressaltar que além das condições de estudo e trabalho totalmente inadequadas, podemos esperar por demissões em massa muito maiores que a anterior, e não só dos professores, como dos trabalhadores que prestam serviços para as instituições. Isso porque, com a superlotação das salas, os professores estão tendo sua grade reduzida. Se antes um professor ministrava aulas para quatro turmas, agora essas turmas estão todas juntas virtualmente, fazendo com que os professores percam aulas e, portanto, tenham salários reduzidos. Além disso, com a junção das turmas, o outro lado da moeda são os professores que já foram demitidos por terem suas turmas remanejadas para aqueles que ficaram. As demissões já estão acontecendo e até o final do ano é provável que cresçam ainda mais.

Cassio Eduardo: Todos esses ataques que os estudantes e trabalhadores da educação estão sofrendo agora na pandemia, estão ocorrendo somente neste momento ou já aconteciam antes? E, na sua opinião, qual a relação desses ataques com o sistema capitalista?

Naylla Manenti: Não. Na verdade, isso já acontece desde muito antes. As grandes empresas que administram as instituições privadas, as famosas mantenedoras, atacam diariamente os estudantes da classe trabalhadora que estão majoritariamente nas universidades privadas.

As demissões em massa de professores qualificados não são de hoje. Em decorrência disso, há o aumento de aulas EaD em cursos presenciais. Basicamente são aulas gravadas (muitas vezes não são por professores da área) e disponibilizadas para os estudantes de diversos cursos.

Algumas instituições, como a FMU, colocam estágio como matéria; ou seja, se os estudantes não cumprirem aquela determinada carga horária dentro do semestre recebem DP e precisam pagar para refazer a “disciplina”, além de algumas cobranças em exames e o aumento das mensalidades de maneira abusivas todo semestre.

O EaD é outro problema. Em cursos de Psicologia, por exemplo, na Unicsul[2], as cinco aulas presenciais, durante a pandemia, foram transformadas em quatro aulas EaD. Ou seja, aulas gravadas para milhares de estudantes e apenas uma aula remota, isso porque é um curso ligado à área da saúde…

E fica claro que todos esses ataques são ataques do sistema capitalista, porque a grande verdade é que nenhum desses tubarões do ensino (mantenedoras), que administram as universidades e faculdades privadas, estão preocupados de fato com a educação. Para eles, o que importa é simplesmente o lucro e é exatamente assim que eles agem. Todas as ações são unicamente pensadas com esse intuito.

Cassio Eduardo: E qual é a saída para os estudantes e trabalhadores da educação para combater esses ataques e por uma boa educação?

Naylla Manenti: Nós, da Liberdade e Luta, defendemos que a educação precisa ser pública, gratuita e para todos. Nesse sentido, reivindicamos a federalização das universidades privadas, vagas para todos nas universidades públicas e o fim dos vestibulares, pois só assim o ensino superior será para todos verdadeiramente.

E alguns podem estar se perguntando o que seria a federalização? Essa é nossa luta pela estatização das universidades privadas, colocando-as sob responsabilidade do Estado. Ou seja, transformando as universidades privadas em públicas, acabando com esses oligopólios de ensino superior.

Claro que de nada adiantará se o controle for para o Estado como está configurado hoje, por isso somente a federalização não basta. Portanto, nós também defendemos o Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões, nem generais. E que as universidades sejam controladas pelos que nelas estudam e trabalham.

Cassio Eduardo: Obrigado, Naylla. Você trouxe aspectos muito importantes sobre a atual realidade das universidades privadas e de como lutar por uma educação realmente pública, gratuita e universal. Agradeço e gostaria de saber se você tem considerações finais?

Naylla Manenti: Gostaria de agradecer a conversa. É muito importante trazer esse debate, principalmente agora que a classe trabalhadora tem sofrido ataques diariamente. Quero deixar aqui meu convite a todos para participarem conosco do Comitê de Ação por Fora Bolsonaro das Universidades Privadas em São Paulo, que terá seu segundo encontro realizado no dia 11 de outubro, às 11 horas. Todos podem entrar em contato conosco através desse link.

Venha somar com a gente nesse combate pela educação pública, gratuita, de qualidade e realmente para todos!

Convido também todos vocês para se organizarem na Liberdade e Luta e na Esquerda Marxista, construindo um verdadeiro partido revolucionário pela emancipação da classe trabalhadora e da juventude.

[1] Universidade Nove de Julho.

[2] Universidade Cruzeiro do Sul.

* Naylla Manenti é estudante de Marketing no Centro Universitário FMU e militante da Liberdade e Luta.

** Cássio Eduardo é estudante de História no Centro Universitário FMU.

Conheça e assine o Manifesto da Liberdade e Luta, contra a aprovação do orçamento de guerra proposto pelo governo Bolsonaro, que corta investimentos em ciência, saúde e educação.