Convocatória: Conferência em defesa da luta dos trabalhadores/as da Flaskô

 

Evento faz parte do esforço em defesa de tudo que a luta a luta dos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô representa nestes últimos 13 anos para o conjunto da classe trabalhadora e para a juventude.

Nota da redação: A Esquerda Marxista se orgulha de, desde o primeiro momento, ter se colocado ao lado dos operários que, corajosamente, tomaram a decisão de ocupar as fábricas para defender seus postos de trabalho, constituindo o Movimento das Fábricas Ocupadas. Após o combate na Cipla, Interfibra, Flakepet, Deslor, Ellen e tantas outras fábricas, hoje mantém-se sob controle operário e em luta pela estatização a Fábrica Ocupada Flaskô.

A Flaskô passa por sérias dificuldades financeiras, reflexos da crise econômica, mas também responsabilidade direta dos governos Lula e Dilma que, desde 2003, se recusaram a estatizar a empresa, deixando os trabalhadores reféns do mercado. Além do ataque direto à ocupação da Cipla e Interfibra, em 2007, com a intervenção federal.

A profunda crise do capitalismo, os ataques de governos e patrões, já é acompanhada pela luta de jovens e trabalhadores. Grandes explosões se preparam na luta de classes. As fábricas ocupadas, a Flaskô que se mantém de pé, são exemplo que ensinam e inspiram os caminhos a seguir.

Todo apoio aos trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô! 

Abaixo, segue convocatória de Conferência que será realizada em 10 de dezembro pela defesa dos trabalhadores da Flaskô e seus postos de trabalho.


10/12/2016 – SÁBADO – das 14h às 17h

Os trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô, que resistem desde 12 de junho de 2003 na defesa dos postos de trabalho, dos direitos e da continuidade da atividade produtiva, sob controle operário, vêm, através desta carta, convidar trabalhadores, sindicatos, movimentos sociais, partidos, coletivos, estudantes, etc., para uma conferência em defesa de tudo que esta luta representa nestes últimos 13 anos para o conjunto da classe trabalhadora e para a juventude.

Os trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô têm conseguido manter a fábrica aberta diante de todas as adversidades, com a ocupação e a retomada da produção sob controle operário. Para defender os empregos e direitos, contra o fechamento, o abandono e o sucateamento provocado pelos patrões, a organização operária mostrou sua capacidade de produzir e resistir.

Junto com os trabalhadores da Cipla e Interfibra, de Joinville/SC, nos conformamos enquanto Movimento das Fábricas Ocupadas e atuamos em quase 40 fábricas desde 2002. Reivindicando a estatização sob controle dos trabalhadores, a partir das experiências históricas da classe operária, nos enfrentamos diretamente contra os patrões, suas entidades patronais, Judiciário e governos, nas três esferas e mesmo de setores sindicais reformistas.

Muitas conquistas foram realizadas justamente por não termos a apropriação privada da riqueza. Conseguimos organizar melhor a produção. Reduzimos a jornada de trabalho de 44 para 40, e depois para 30 horas semanais, sem redução de salários. Criamos espaços democráticos como o Conselho de Fábrica e a Assembleia, tomando as decisões coletivamente. Houve um processo riquíssimo de avanço no processo de consciência dos trabalhadores e combatemos a alienação do trabalho convencional do capitalismo. Criamos um novo ritmo de trabalho e a pautamos a prioridade no caráter social da produção.

Criamos o projeto da Fábrica de Cultura, Esportes, Educação e Lazer, com centenas de atividades que mobilizaram várias crianças, jovens, toda a comunidade, coletivos de cultura e de educação popular. Muitos viram peças teatrais pela primeira vez numa fábrica ocupada!

No terreno que estava ocioso na época patronal, organizamos uma incrível luta por moradia, com a ocupação da área e a consolidação da Vila Operária e Popular, com 564 famílias que lutam hoje pela regularização de suas moradias, com importantes avanços conquistados na luta, como acesso à água e luz. Ainda há muito o que fazer, mas essa comunidade possui a particularidade de ser a única ocupação de moradia em um terreno de uma fábrica ocupada. Mostra, assim, a necessidade da unidade na luta.

Criamos o Centro de Memória Operária e Popular, organizando publicações e o arquivo de toda esta história, articulando estudantes, professores para melhor registrar a memória da luta da classe trabalhadora, para que esta rica experiência siga como uma referência para todo o movimento operário.

Recentemente criamos o Restaurante e Bar da Flaskô, seguindo as tradições do movimento operário, criando fundos de luta, atividades e refeições como forma de conseguir levantar fundos para a manutenção das lutas realizadas e manter um espaço de sociabilidade entre os trabalhadores.

Obviamente, com todos estes avanços e toda esta fantástica articulação a burguesia reagiu e passou a atacar o movimento das fábricas Ocupadas. O mais emblemático foi a gravíssima ação em maio de 2007, com a criminosa intervenção nas fábricas de Joinville/SC, afastando o controle operário, provocando demissões, perseguições, um terror contra o movimento. O Juiz diz textualmente: “Imagine se a moda pega?”. Mais explícito do que isso, impossível! A burguesia é inteligente e possui muito medo da organização dos trabalhadores. Por isso, quando se faz necessário, a repressão foi brutal.

Este golpe contra os trabalhadores também atingiu a Flaskô. Ficamos 42 dias sem energia. Imaginem o que é isso?! Mas conseguimos resistir na Flaskô e depois de muitas dificuldades, sobrevivemos mais nove anos, após a intervenção em Santa Catarina. No entanto, as dificuldades seguem enormes. Não temos ilusão: “Não há socialismo num só país, muito menos sobreviverá uma fábrica ocupada isolada”.

O que nos manteve aberto até hoje foi a dedicação diária de todos os trabalhadores combinada com a articulação política realizada, pela solidariedade de classe, com todos os movimentos sociais, sindicais, estudantes, coletivos, etc., que sempre estiverem lado a lado conosco em cada batalha que realizamos. Seja para barrar os leilões de máquinas, seja para reverter decisões de penhoras e falência no Judiciário, seja pelas sabotagens patronais, seja pelos ataques dos governos, seja para realizar as atividades da luta.

Passados treze anos de governos do PT, sempre buscamos realizar um debate sobre a opção feita por um modelo de cooperativismo e da economia solidária, ao invés da luta pela planificação da economia e a organização da produção enquanto classe trabalhadora, com a estatização sob controle operário de qualquer fábrica que fosse ocupada, diante das ameaças de fechamento e demissões.

Brigamos bastante, discutimos muito, aprendemos todos com as experiências, e, finalmente, em outubro de 2014, conseguimos avançar para concretizar um passo importante para adjudicar por interesse social toda a propriedade da fábrica, como expressão prática de nossas reivindicações, e a constatação, pelo governo petista, que o que apresentávamos poderia ser feito nas indústrias que passassem a ser ocupadas. Constata-se que muitos avanços poderiam ter sido realizados, como aponta o próprio estudo realizado pelo GPERT (Grupo de Pesquisa de Empresas Recuperadas por Trabalhadores).

No entanto, a profunda crise do capitalismo de todo o mundo atinge duramente o Brasil, tendo como consequência também, sua expressão como crise política. Vimos o que foi este impeachment e a aceleração e aprofundamento dos ataques contra a classe trabalhadora e a juventude, destacando a PEC 241 (PEC 55 no Senado), as contrarreformas previdenciária, trabalhista e do ensino médio (MP 746), a subordinação do Judiciário aos

interesses da burguesia, retirando direitos sociais historicamente conquistados e atentando às liberdades democráticas basilares.

Nesta conjuntura de profunda crise econômica o que vemos são inúmeros fechamentos de fábricas, demissões e ataques aos direitos trabalhistas. Sem investimentos, mercado parado, o setor industrial brasileiro faz sua opção diante da pergunta: Quem vai pagar a conta? Jogam nos trabalhadores o ônus criado pela lógica de exploração capitalista. No setor químico e plástico isso é bastante evidente.

Neste cenário, imaginem a situação da Flaskô. Se já não bastassem todos os ataques nos últimos 13 anos, imagine agora? Se com o PT no governo já era difícil, o que é possível conquistar da pauta da estatização sob controle operário num governo Temer? Se o sucateamento das máquinas já era grande em 2003, imagine agora em 2016? Se o Judiciário já nos atacava antes, inclusive sob toda perspectiva de criminalização enquanto movimento social, imagine agora?

Desta forma, para continuidade da atividade produtiva e da resistência da fábrica ocupada Flaskô, os trabalhadores estão sendo obrigados a adotarem novas táticas com o objetivo de seguir adiante, com os mesmos princípios que temos, mas com as flexibilidades táticas necessárias. Sabemos da importância da luta destes 13 anos e como podemos ser um ponto de apoio e ajuda num contexto de profunda polarização da luta de classes e duros ataques ao movimento operário. Saudamos e prestamos nossa solidariedade às ocupações das escolas, às ocupações dos movimentos de moradia e de terras, e convidamos a todos para que se somem às reflexões e encaminhamentos necessários para pensar a defesa da luta dos trabalhadores da Flaskô.

As dificuldades são enormes, mas o ânimo de saber que todos os passos dados até aqui foram importantes para fortalecer a luta da classe trabalhadora e escancarar as contradições do capitalismo e os métodos dos patrões em demitir os trabalhadores, retirar direitos e fechar as fábricas, nos levam à conclusão de que todo o esforço até aqui tem valido a pena.

Organizaremos a resistência e fazemos um pedido de solidariedade política e financeira, tudo que for necessário para garantir as conquistas da luta da Fábrica Ocupada Flaskô. Desde já, pedimos que comprem livros, tambores e bombonas, camisetas, broches, aprovem ajudas financeiras nos sindicatos, coletivos e organizações. Somem-se aos combatem que seguimos travando pela continuidade da atividade produtiva e a garantia dos empregos e direitos dos trabalhadores da Flaskô e tudo que esta luta significa.

A unidade da esquerda, a unidade do movimento operário e camponês, do sem teto e dos estudantes, somente poderá avançar com frentes únicas, com intervenções claras e permeadas pela ampla solidariedade, e, assim, poderemos dar os próximos passos para reconstruir a luta pelo socialismo no Brasil e no mundo.

Viva a luta da classe trabalhadora!

Viva a unidade do movimento operário, camponês e estudantil!

Ocupar, produzir e resistir!

Socialismo ou barbárie, venceremos!

Trabalhadores do mundo, uni-vos!

Trabalhadores da Fábrica Ocupada Flaskô, Sumaré/SP, Brasil, 04 de novembro de 2016.