Antonio Villalba/Real Madrid

Caso Vini Jr. e o caráter do racismo

Semana após semana, especialmente quando atua fora do Santiago Bernabéu, estádio do clube em que trabalha, o atacante brasileiro Vinícius Júnior, um dos melhores jogadores de futebol do mundo na atualidade, é alvo do racismo praticado pelas torcidas adversárias na Espanha.

No último domingo, 20 de maio, o jovem de 22 anos sofreu o auge deste crime, quando mais de 40 mil racistas nas arquibancadas do Mestalla, casa do Valencia CF, chamaram-no quase em uníssono de “macaco”.

Como deve ser feito, Vini Jr. se negou a continuar jogando, partindo para cima dos criminosos, revoltando-se contra esse mecanismo capitalista de segregação. O resultado imediato foi o árbitro da partida expulsar o brasileiro, seguindo à risca o que LaLiga, entidade privada responsável pelo campeonato espanhol, ordena: condenar a vítima e inocentar os criminosos.

As ações de LaLiga e da Justiça espanhola, além da própria conivência do empregador Real Madrid, são explícitas demonstrações de como a burguesia maneja e promove o racismo. Também é simbólico o papel do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez (PSOE), que prestou “solidariedade” a Vini Jr. dizendo ter “tolerância zero ao racismo no futebol”, ao passo que nada faz para a punição aos racistas da arquibancada e à liga.

No Brasil, o governo Lula-Alckmin, pactuado com a burguesia e com as forças de repressão que perseguem e matam os negros no país, também se “solidarizou” dizendo que “cobraria” o governo espanhol, por meio do Itamaraty e dos ministérios de Relações Exteriores, Igualdade Racial, Esporte e Direitos Humanos e Cidadania. Já a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que na atual gestão de Ednaldo Rodrigues descobriu como fazer dinheiro com campanhas defendendo mulheres, negros e LBGTs, protestou contra o racismo, mas sem fazer nada de efetivo no futebol brasileiro, que semanalmente também é afetado com atos homofóbicos, machistas e racistas.

Nós, do Movimento Negro Socialista, sempre repetimos que racismo e capitalismo são faces da mesma moeda e disso não podemos nunca esquecer. O racismo fundou-se pela necessidade histórica da burguesia em criar uma ferramenta viável e indispensável para a exploração do humano pelo humano. Ele não é um ato irracional e meramente psicológico na sociedade, é fruto de condições históricas do florescer do capitalismo, que não repetiu a escravidão da antiguidade clássica, pois inventou o elemento “raça”. A burguesia acionou o trabalho compulsório combinando formas antigas de brutalidade com a genuinamente moderna produção de valor, formulando justificativas ideológicas para o processo de segregação entre a classe trabalhadora, hierarquizando-a para melhor explorar.

O racismo não é uma “coisa da cabeça”, uma questão de ideias ou de educação. Ressaltar sua característica não científica ou o trabalho educacional realizado para reduzir preconceitos pode ser útil para lidar com preconceitos, mas não é suficiente para superá-los. Para alcançar este objetivo, devemos identificar suas reais origens e suas funções sociais, combatendo-as. As pessoas permanecem ou se tornam racistas desde que obtenham benefícios materiais ou sejam convencidas a fazê-lo, operação facilmente realizada pelo sistema burguês de produção e reprodução da vida.

Portanto, não veremos substanciais ações no sentido de punir os clubes, punir os sócios, torcedores ou a paralisação dos jogos, pois os negócios capitalistas não podem parar. O patrocinador de LaLiga é o maior banco da Espanha, o Santander, intolerante ao prejuízo de seus lucros, mesmo que isso signifique consecutivos casos de racismo que atinja o melhor jogador do maior clube do mundo.

Para o Movimento Negro Socialista, uma esquerda que quer ser antirracista de maneira contínua deve então compreender que o racismo só pode ser vencido com a abolição do capitalismo. É importante afirmar que não se trata de uma “contradição secundária” que desaparecerá com o fim da “contradição principal”, isto é, o modo de produção capitalista.

Marx assinalou que o socialismo, a “primeira fase” do comunismo, “ainda é econômico, moral e espiritualmente afligido pelas marcas de nascença da velha sociedade”. Todavia, a superação da sociedade capitalista de exploração e concorrência fornece a base material para erradicar completamente o flagelo do racismo.

Por isso, lutamos por um sistema em que a base material da vida está nas mãos da classe trabalhadora, em que os frutos do trabalho beneficiam a todos, em que todas as questões econômicas e sociais são decididas de maneira democrática. Em um sistema como este, os preconceitos e o racismo não poderiam sobreviver. Por conseguinte, um antirracismo duradouro, tão pregado pela imprensa, pelas campanhas de marketing e pelas empresas que abraçam o identitarismo, nada representa, pois a luta antirrascista é indissociável da luta pelo socialismo internacional.

Convidamos todos que se indignam com o racismo cotidiano a se somar às fileiras da revolução e do Movimento Negro Socialista. Apenas um movimento de massas e de classe poderá derrotar o regime da exploração do trabalho humano, que destina aos negros à segregação, humilhação, violência e morte.

Nossa solidariedade ao craque Vini Jr. e luta com toda nossa classe!

Ser negro não é crime!

Abaixo o capitalismo!