Imagem: Rafa Neddermeyer, Agência Brasil

Carta aberta à população do RS: o povo trabalhador e pobre não pode pagar pela crise das enchentes

O RS vive uma catástrofe capitalista com as enchentes que atingiram cerca de 90% das cidades do estado, deixando mais de 540 mil pessoas desalojadas, 154 mortos até o momento, 94 desaparecidos e um enorme rastro de destruição. Diante da forma negligente dos governos em responder à situação extrema que se coloca, que é de responsabilidade deles e dos capitalistas, a extrema direita busca fortalecer seu projeto reacionário se apoiando no desespero da população gaúcha e difundindo fake news para se fortalecer. Contra essa perspectiva, a saída para a crise no RS tem que ser construída pela classe trabalhadora e as populações mais pobres, maioria entre os atingidos, com independência política em relação aos governos, que estão ao lado dos capitalistas, e combatendo também a extrema direita e o negacionismo climático.

Nós somos ativistas, jovens, trabalhadores, voluntários no abrigo do Julinho, organizações políticas, movimentos sociais e estamos na linha de frente da enorme solidariedade que acolhe desabrigados, recolhe e distribui doações. Nesse momento nos unimos em torno das seguintes bandeiras:

– Que o controle do pix do estado, divulgado amplamente para recolher contribuições para a população, não esteja nas mãos de empresas, como Eduardo Leite determinou, mas sim nas mãos da população atingida pelas enchentes, dos voluntários, das entidades sindicais, estudantis e movimentos sociais, indígenas e quilombolas que estão na linha de frente da solidariedade aos atingidos, nos abrigos, nos centros de distribuição e nas cozinhas comunitárias. 

Esses setores devem gerir e distribuir esses e todos os recursos que forem enviados para reconstrução do estado com total transparência através de uma coordenação entre si organizada a partir de cada espaço e não os setores empresariais que destinam doações de 0,01% de seus lucros,  que são responsáveis pela tragédia climática e não tem que ser recompensados, mas devem sim pagar essa conta, com impostos progressivos, fim de isenções e expropriação  de seus lucros.

– Nesse momento devemos levantar bem alto a bandeira do fim do pagamento da Dívida Pública, tanto federal, quanto estadual, assim como a revogação do Regime de Recuperação Fiscal do RS e do arcabouço fiscal de Lula-Alckmin a nível nacional, mecanismos que estão a serviço de garantir o pagamento dessas dívidas fraudulentas e ilegítimas . São trilhões, que devem estar a serviço da reconstrução das vidas dos trabalhadores. 

– Vimos as consequências das privatizações e desmonte do Estado em curso, pelo apagão, pelo desabastecimento de água, e pela falta de manutenção necessária nas casas de bombas, canais e comportas do DMAE. Somos contra toda privatização e pela reestatização sob o controle dos trabalhadores, mantendo públicas a CEEE, a CORSAN, a Sulgas, o DMAE, a Trensurb e a Carris.

– Contratação emergencial de trabalhadores remunerados e com plenos direitos para que possam seguir funcionando os abrigos, outros espaços de distribuição de doações e alimentos e para a limpeza e reconstrução da cidade. Há uma grande demanda de serviços especializados, como os de saúde e assistência, mas o conjunto do trabalho que hoje é mantido por voluntários deveria ser de responsabilidade do Estado. Que todos os atuais voluntários que são empregados, devem seguir liberados e remunerados.

– Contra o projeto de ‘cidade provisória’, precária e militarizada de Melo e dos capitalistas gaúchos! Por reparação aos atingidos! É necessário mais que os insuficientes auxílios do governo federal e estadual. Pelo direito à moradia digna e gratuita para toda a população atingida, garantido pelo Estado, enfrentando a especulação imobiliária que deixa milhares de imóveis vazios nas cidades e utilizando também terrenos e imóveis públicos que estiverem em condições para isso.

São medidas necessárias diante da enorme crise que vivemos, e que precisam se enfrentar com interesses dos governos e do empresariado. Por isso é preciso organizar pela base uma ampla mobilização social, de forma independente dos governos, em defesa dos atingidos pelas enchentes, em cada bairro, local de trabalho e de estudo, envolvendo quilombos, movimentos indígenas, sindicatos, entidades estudantis e organizações das comunidades. Isso para questionar também a exploração predatória dos recursos naturais gerada pelos capitalistas e particularmente pelo agronegócio, e que seguirá gerando mais e mais tragédias como essa.

Chamamos todas, todos e todes a se somar nessa luta.