Ato público em repúdio aos assassinatos de 9 jovens pela PM em Paraisópolis Foto: Rovena Rosa/Agencia Brasil

A repressão e o preço da carne

Editorial do jornal Foice&Martelo 149, de 4 de dezembro de 2019. Confira outros editoriais aqui. Você também pode conhecer nosso jornal quinzenal e assinar por este link.

Na madrugada do dia 1º de dezembro, domingo, a polícia cercou um baile na favela de Paraisópolis, com espancamentos, tiros de bala de borracha e bombas de gás, que levaram a morte 9 jovens. Eles eram estudantes e trabalhadores. Morreram porque o proletariado dos bairros operários é o inimigo.

No domingo anterior, durante a recepção dos jogadores do Flamengo que tinham ganho a copa Libertadores da América, houve espancamento, gases e balas de borracha. Só não morreu alguém por pura sorte. Durante a semana, entre um domingo e outro, a comissão de negociação dos professores gaúchos que estão em greve foi espancada pela polícia militar.

E como esquecer outras atrocidades como o assassinato menina Agatha de 8 anos, ou do carro com uma família de trabalhadores que recebeu 80 tiros e matou um homem?

Lágrimas de crocodilo

A burguesia chora lágrimas de crocodilo e lamenta. Editoriais de jornais, analistas burgueses e programas de TV pedem que a polícia receba mais treinamento e aprenda a lidar com as multidões.

Os governadores dos dois estados, RJ e SP, bem mais realistas, explicam que a política é atirar para matar nos bandidos e que as incursões nas favelas para impor a ordem vão continuar. Sim, sob o comandos destes novos governadores eleitos junto com Bolsonaro (e que agora o renegam) a letalidade policial aumentou e muito. Bandidos morrem? Pode ser. Já seria um absurdo conceder o direito à polícia para aplicar a pena de morte mesmo contra bandidos. Mas os relatos são de jovens trabalhadores e estudantes mortos, são de crianças mortas, confundidos por que tem um guarda-chuva ou uma furadeira. Aliás, o vazamento de conversas gravadas com autorização judicial, mostra que o atirador, um sargento da PM, estava simplesmente com raiva no dia e queria matar alguém para passar a raiva.

A torcida do Flamengo gritava para os PMs: “Milicianos, milicianos”. Se eles são claros ao identificar polícia e bandido, os jovens transformaram isso em uma reivindicação certeira: — Não acabou? Tem que acabar. Eu quero fim da Polícia Militar!

O AI-5 de Eduardo Bolsonaro e de Guedes

Aterrorizados com o que se passa na América Latina (estes dignos senhores não conseguem levantar a cabeça e olhar o mundo: Líbano, Iraque, Irã, Hong Kong, etc.) eles dizem que se as manifestações vierem, vai ter um novo AI-5 e ameaçam com a Lei do “Excludente de Ilicitude”. Não enxergam o óbvio — o aumento da repressão levou a radicalização das manifestações, como no Equador, Chile e Colômbia.

A burguesia se atemoriza com tudo isso e pede que esqueçam o AI-5. Tentem não fazer tanto barulho. Segurem um pouco o cabresto da PM. Mas nada funciona. Assim, a repressão continua. A raiva é latente e qualquer fósforo pode incendiar o país.

A carne aumenta

Segundo um comerciante, “parece que voltamos aos tempos de Sarney, toda hora a carne aumenta nos frigoríficos e a gente tem que repassar o aumento”. Um dono de açougue relata que antes vendia para duzentos clientes por dia, agora são 150 e, se antes costumavam comprar um quilo, agora compram só meio.

Sim, já houve a inflação do tomate, da cebola e até da banana. Mas parece que o aumento do preço da carne em mais de 50% não encontra ecos nas medidas dos preços oficiais. Porém, é sentido – e como é sentido! – no bolso do trabalhador.

Explicações? Peste suína na China, maior importação de carne pelos chineses, dólar alto, mais carne para os chineses e mais cara em reais, embora o preço em dólar seja igual.

E porque o dólar aumentou? Milhares de explicações, algumas reais, outras simplesmente tentam chamar a boa e velha especulação de nomes mais bonitos. Afinal, porque o ministro da Economia se daria o trabalho de dizer que o dólar aumentaria numa entrevista coletiva nos EUA?

Nós explicamos de uma forma mais direta: o mercado mundial é dominado pelo imperialismo, pelas grandes corporações e bancos, e elas ditam os preços de acordo com suas conveniências. Há muito tempo que o “livre mercado” não existe mais mais, substituído por uma rede monopólios e oligopólios. E, quem sofre? O proletariado no Brasil e no mundo. Por isso, as revoltas e revolução se espalham pelo globo. E, cedo ou tarde, provavelmente chegarão ao Brasil.

O papel das direções

Devemos reconhecer, as direções fazem de tudo para retardar ou impedir as revoluções. Lula saiu da prisão cheio de gás dizendo que precisávamos de manifestações como no Chile, mas já avisava que Bolsonaro “tem um mandato de quatro anos”, mostrando ser contra sua derrubada. Pouco depois desmarca um ato público que abriria o Congresso do PT. E, apesar de dizer que os trabalhadores têm que ir a luta, alguém viu Lula indo ao Rio Grande do Sul apoiar a greve dos professores gaúchos, onde 1.500 escolas estão paradas? Os comerciantes, açougues, mercados, lojas, estampam em suas fachadas cartazes dizendo: este estabelecimento apoia os professores. A greve não é manchete no site da CUT, nem de nenhuma outra central sindical.

Lula realmente se esforça é para conversar com a centro-direita e com os empreiteiros.

Os comunistas sabem o seu papel: armar politicamente a vanguarda, ajudar os jovens militantes e ativistas que estão surgindo nestas lutas a entenderem o que está acontecendo e ajudar os trabalhadores e estudantes a entenderem que é preciso lutar pelo fim da PM, pela estatização sob controle dos grandes meios de produção, o que inclui as grandes fazendas e todo o agrobusiness, para caminhar em direção ao socialismo. Este é o nosso papel, junte-se a nós nesta luta.