A luta contra a privatização da CPTM e o combate dos marxistas

Em todo o mundo, a burguesia busca descarregar o peso da crise do capital sobre as costas da juventude e da classe trabalhadora. Como resultado, vimos uma onda de ataques semelhantes em diversos países: reformas trabalhistas, privatizações, reformas da previdência etc. É nesse contexto que se desenvolve o combate entre Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a classe trabalhadora em São Paulo. No período de crise, as privatizações são uma das formas da classe dominante de retomar em suas mãos uma parte maior da riqueza social. O salário indireto na forma de serviços públicos que o Estado burguês é obrigado a ofertar em diferentes medidas no desenrolar da luta de classes.

Tarcísio veio com a clara missão de entregar nas mãos da burguesia nacional e internacional as maiores empresas do estado mais rico da federação. E nessa missão, encontra um aliado na figura de Lula, que  sem romper com o capital, trabalha para aplicar o mesmo plano econômico de Paulo Guedes. Ao aprovar medidas como o arcabouço fiscal, se negar a revogar o Novo Ensino Médio e manter diversas empresas no plano de desestatizações do governo Bolsonaro (entre elas, a CBTU), o que levou a privatização do metrô de Belo Horizonte e a tentativa do mesmo com o metrô em Recife, Lula mostra seu compromisso com a classe dominante.

A retirada de empresas como a Petrobrás do plano de Guedes – a mesma Petrobrás que o PT avançou na privatização em todos os seus mandatos – trata-se, antes de mais nada, de uma abordagem para o “melhor gerenciamento” do sistema capitalista, e não de uma luta ativa de um partido da classe trabalhadora para a superação desse sistema.

Como mostraram os metroviários de Recife, a única esperança de vitória é o próprio movimento dos trabalhadores. Em São Paulo, os ataques generalizados tem levado os trabalhadores das três empresas visadas (Metrô, CPTM e Sabesp) a buscar espontaneamente a unidade no enfrentamento a esses ataques de Tarcísio.

Assim como explicaram Marx e Engels, os comunistas não têm outros interesses que não os da classe operária, não proclamam princípios particulares segundo os quais querem moldar o movimento operário. Representam sempre, e em toda parte, a fração mais enérgica e resoluta da classe, aquela que impulsiona as demais.

É com essa clara compreensão que temos construído desde 2019 na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) o Comitê de Luta Contra a Privatização da CPTM. O comitê expressa a busca dos ferroviários por se organizar, e enquanto comunistas, nosso combate tem sido para que ele se construa como ponto de apoio e como instrumento útil para a luta dos trabalhadores da CPTM. E nesse último período, a luta pela construção da frente única entre as categorias tem sido o carro chefe de nossa política.

A Frente única como instrumento de luta

Como bem explicou Trotsky em seus artigos sobre a crise na Alemanha, a necessidade da tática nasce da natureza heterogênea da classe operária, dos seus diferentes ritmos de conscientização, que se expressa no seu fracionamento político em diversos partidos e organizações. Também na influência das direções reformistas sobre parte da classe operária. Em resposta aos ataques coordenados da burguesia, surge de maneira natural, a necessidade de superação dessas divisões pela via da unidade na ação contra uma determinada série de ataques. Não se trata de um “truque” astuto dos comunistas para conquistar dos reformistas a influência sobre a maioria do proletariado, e sim de uma necessidade real.

No entanto, se executada de maneira correta, e os comunistas devem ter isso como seu norte.A conquista da confiança do conjunto da classe e a quebra das direções reformistas é o resultado lógico desse processo. Uma vez que os reformistas, incapazes de romper com o capital,não podem ser consequentes e levar a luta até sua conclusão lógica. As organizações que se colocam contra esse instinto saudável de classe pagarão caro e não serão perdoadas pelos trabalhadores.

Isso tudo é ainda mais verdade para a CPTM, que se encontra dividida em dois sindicatos (Central do Brasil e Ferroviários de São Paulo). Por isso, além do trabalho que temos feito entre os passageiros das linhas privatizadas desde 2022 pelo Comitê (campanha pela revogação da concessão das linhas 8 e 9, acesse @Comitecptm no Instagram), o combate pela assembleia unificada, e a construção da frente única têm atraído os elementos mais ativos da categoria para a construção do comitê. Nesse processo os mais avançados já se integraram inclusive à Esquerda Marxista para lutar não apenas contra a privatização, mas também para a transformação do mundo.

O financiamento de panfletagem nas portas das estações, a confecção de bottons da campanha contra a privatização, o salto de qualidade no trabalho nas redes sociais a partir da aquisição de programas para edição de conteúdo audiovisual. Tudo isso só foi possível graças ao financiamento independente dos ferroviários, através da vaquinha impulsionada na categoria pelo comitê que já soma quase R$ 30 mil.

Como já explicamos diversas vezes: o financiamento independente pelos trabalhadores e simpatizantes entre os passageiros, torna possível a total independência política do comitê, que não tem “rabo preso” com ninguém, além de uma clara medida do enraizamento do mesmo na categoria. Ao contrário do que pensam seitas esquerdistas, nos dirigir às direções reformistas para a construção da frente única, tem se mostrado repetidas vezes, como a tática correta tanto para a construção da luta, quanto para a construção da organização revolucionária.

Como Lênin já explicou em “Esquerdismo Doença Infantil do Comunismo” trata-se justamente de não tomar a nossa experiência como a experiência das massas. Nenhuma organização  por mais revolucionária que seja  pode substituir esse processo molecular, é pelo caminho da ação que os trabalhadores poderão tirar suas conclusões e seus aprendizados.

As direções tremem diante do movimento

Em dois artigos recentes, “Greve dos Metroviários mostra a força da categoria e a vacilação do sindicato” e “Sindicato dos Metroviários de São Paulo Vacila Novamente”, explicamos e aprofundamos a crise pela qual passa a direção do sindicato e a pressão crescente da base da categoria.

Na CPTM, o sindicato Ferroviários de São Paulo (que representa as linhas 7 e 10), tem sido o maior freio na luta da categoria e na construção da frente única. Desde o começo do ano, apesar das ameaças de Tarcísio, sequer convocaram uma assembleia para discutir a privatização. A pressão vinda de baixo, principalmente aquela organizada via comitê, tem feito essa direção se mexer em ações públicas, colocando-se contra a privatização em palavras e na prática fazendo tudo em seu poder para afastar os ferroviários da arena de combate.

Através de uma mobilização dos ferroviários de base nas linhas do lado leste representadas pelo Central do Brasil (linhas 11,12 e 13), os trabalhadores têm conseguido colocar o sindicato no caminho de luta. Vale ressaltar que foi justamente aqui que o comitê nasceu e onde tem sua base mais forte, expandindo-se no último período até os companheiros das linhas 7 e 10.

Mas a maior expressão da pressão sentida por todas as direções foi o lançamento das plenárias unificadas das três categorias (Metrô, CPTM e Sabesp) para combater as privatizações. Sendo que nas duas plenárias realizadas até agora, três encaminhamentos principais foram adotados: panfletagem nas estações para os passageiros, lançamento de um plebiscito sobre a privatização, e o encaminhamento de uma greve unificada em outubro.

Tem sido notória a falta de interesse de participação dos trabalhadores da base nessas plenárias e ações de panfletagens. Fora diretores dos sindicatos e dirigentes de centrais e militantes de organizações que intervém na categoria, os únicos trabalhadores da base que participaram foram os ferroviários da CPTM, aqueles chamados e levados a participar pelo combate do comitê.

As panfletagens acontecem às 6 hroas da manhã, um horário muito difícil para quem não é liberado de sindicato ou está de folga no dia. O mesmo impacto nos passageiros poderia ser obtido fazendo esses atos no horário de pico a tarde, como sempre fez o comitê. É gritante o contraste da participação dos trabalhadores nos atos realizados somente pelo comitê em 2022 e 2023, e esses atos unificados. Embora nos atos unificados o número de pessoas seja maior, são quase todos diretores de sindicato, a participação de trabalhadores da base é muito menor nos atos chamados pelos sindicatos, e isso não é acidental.

Vale ressaltar ainda que a iniciativa do plebiscito pode e deve servir como um instrumento de agitação entre a população, mas por si só não basta e não pode substituir a greve unificada. E o que vimos foi justamente um movimento dessas direções para se esquivar da greve jogando todo o peso no plebiscito realizado no dia 5, único momento em que a direção mobilizou trabalhadores em um ato que foi um verdadeiro showmício.

É o caso do sindicato Ferroviários de São Paulo que, em seu boletim sobre a plenária, omite que foi encaminhada a realização da greve e nem sequer fala de assembleia. Mas também é o caso na direção do sindicato dos metroviários de São Paulo, que a portas fechadas, prepara sua saída da greve responsabilizando as direções dos sindicatos da CPTM por “não quererem fazer a greve”, ao invés de combaterem para ajudar a superar esses obstáculos, já preparam a sua retirada novamente pela responsabilização das outras direções.

Por isso, contra as manobras das direções que buscam escapatória dos compromissos que se viram forçados a assumir, fizemos o combate e levamos ferroviários para a assmbleia do sindicato Central do Brasil, no dia 04/08, e conseguimos aprovar por unanimidade de todos os ferroviários o estado de greve e a assembleia em caráter permamente.

A frente única não é a reunião de burocratas em uma mesma sala. A frente única é a imposição do desejo de união de uma ou mais categorias, até mesmo do conjunto da classe, sobre os interesses particulares dessa ou daquela burocracia. Portanto, essas plenárias não são ainda a frente única que lutamos para construir, para que se transformem em tal, precisamos mobilizar ainda as bases e envolve-las na tomada de decisões.

O caminho para isso, como já dissemos acima, passa pelo combate vivo. Pela necessidadedos trabalhadores de medirem na ação suas direções e os caminhos de luta. É assim que nós marxistas pretendemos conquistar a confiança de nossa classe, e nesse combate a construção da greve em outubro tem um peso gigantesco como forma de mobilização para trazer os trabalhadores para o centro da arena política.

Que os reformistas e as direções traidoras tremam diante do despertar da classe operária. Nós acompanharemos nossa classe em todas as etapas desse processo, explicando pacientemente e ganhando sua confiança pela comprovação de nossas ações. É sem dúvida um trabalho penoso, que na nossa categoria já dura por quatro anos, mas que, como mostra a história de nosso combate, é uma etapa essencial para todo militante que se inspira na experiência do maior partido revolucionário da história: os bolcheviques liderados por Lênin e Trotsky. Junte-se a nós nesse combate você também!