8 de março de 2024: para que a opressão da mulher acabe, o capitalismo deve ser derrubado

Publicamos a seguir o panfleto escrito pelos camaradas da seção argentina da Corrente Marxista Internacional (CMI) que será distribuído nas manifestações que ocorrem no país em meio aos ataques do governo reacionário de Javier Milei.

Este 8 de março não é como os outros. Encontramo-nos em situação desesperadora. O governo de Milei/Macri/Caputo, em pouco tempo no poder, deixou-nos com uma liquidação nos salários de 1,13 bilhões no mês de dezembro devido ao aumento na inflação. Além disso, não se contentam apenas em esvaziar os bolsos da classe trabalhadora, mas também declaram guerra contra a liberdade de manifestação e contra muitos dos direitos conquistados graças à luta da classe trabalhadora, especial à das mulheres trabalhadoras nos anos recentes, direitos os quais, com a atual crise, são atacados sistematicamente através da falta de financiamento implicando em enormes retrocessos. O sistema capitalista e sua crise, agudizada ao longo dos últimos meses, têm como resultado uma taxa de emprego baixíssima, contraposta à oferta de trabalhos, precarizados ou informais, os cortes de gastos nos setores de saúde e educação e a pauperização da qualidade de vida, estimando-se que mais de 50% da população se encontra abaixo da linha de pobreza.

Buscou-se revogar, no Decreto Nacional de Urgência (DNU), a lei de Interrupção Voluntária da Gravidez e voltar a penalizá-la, bem como enfrentar o aborto legal ao alterar as leis dos 1.000 dias e a Lei Micaela, todas essas conquistas recentes das mulheres trabalhadoras. A isto se soma inclusive a proibição do uso de linguagem inclusiva, e de tudo o que se refere à perspectiva de gênero, em toda a administração pública nacional, com o adendo de que a inclusão “desnecessária” do artigo feminino deve ser evitada em todos os documentos da administração pública.

Como já mencionamos, este 8 de março não é como qualquer outro. Nele nos encontramos, trabalhadores e trabalhadoras, em situação econômica, social e cultural tão insuportável que o único caminho da luta por direitos é a luta de classes. As mulheres são um dos setores mais oprimidos pelo sistema capitalista, opressão esta que se manifesta na discrepância salarial entre os gêneros, nas dificuldades enfrentadas pelas mães solteiras, no fechamento dos restaurantes públicos nos bairros, nos cortes de cestas básicas distribuídas aos que frequentam colégios públicos.

O sistema capitalista nos engana com ideias que não correspondem à realidade concreta e objetiva, mas que saem das cabeças doentias de seus ideólogos interessadas apenas em manter a opressão da mulher. Dizem-nos que “sempre foi assim” e que a opressão sob a qual vivemos todos os dias é “natural”. Nada mais longe da realidade.

A opressão da mulher não é “natural” e nem sempre ocorreu. A história evidencia como nas sociedades primitivas, apesar de já existir uma divisão do trabalho (a caça por parte do homem e a coleta por parte da mulher), essa divisão não era estrita: algumas mulheres saíam à caça e alguns homens se dedicavam à coleta, uma tarefa que garantia quase 80% das calorias necessárias para a sobrevivência dos grupos sociais. Nestas comunidades – que representam os primeiros 200 mil anos da existência dos seres humanos – não havia nem propriedade privada nem qualquer tipo de opressão de gênero.

A luta da mulher por seus direitos começa com mudanças sociais e econômicas, quando se abre a possibilidade de trabalhar, de sair de suas casas isoladas e de participar da produção social. É uma luta que cresceu de mãos dadas com o socialismo / Imagem: Domínio Público

A opressão da mulher começou há aproximadamente 12 mil anos com a revolução neolítica e com o advento da agricultura. Dessa forma, foi-se marcando com cada vez mais rigidez a divisão do trabalho: com o desenvolvimento de ferramentas mais pesadas para o homem e menor taxa de mortalidade infantil, decorrente do domínio destas novas tecnologias, foi imposto à mulher mais trabalho nas casas e nas cozinhas. Foi assim que, a partir do advento da divisão da sociedade em classes, começou a opressão da mulher: escravas dentro do modelo de família monogâmica burguesa, o método capitalista para a preservação da propriedade privada através da herança, e da exploração da classe trabalhadora, além da pilhagem da riqueza que esta última gera nas mãos de uma minoria.

A luta da mulher por seus direitos começa com mudanças sociais e econômicas, quando se abre a possibilidade de trabalhar, de sair de suas casas isoladas e de participar da produção social. É uma luta que cresceu de mãos dadas com o socialismo.

A Primeira Internacional (a Associação Internacional dos Trabalhadores – AIT), estabeleceu a importância de se ter comitês de mulheres, dos quais poderiam participar ambos os sexos.

Além disso, foi a Internacional de Mulheres Socialistas, em sua primeira conferência em Stuttgart, que defendeu uma resolução instando todos os partidos socialistas a realizar uma campanha em favor do voto feminino, além de lutar pela garantia de seus direitos sociais. Foi esta mesma Internacional que promoveu a declaração de um dia Internacional da Mulher Trabalhadora, o qual foi celebrado pela primeira vez em 1911. Algumas semanas depois, em 25 de março, 146 trabalhadoras têxteis (a maioria imigrantes) seriam mortas no incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist em Nova Iorque. As portas da fábrica encontravam-se trancadas para impedir que as trabalhadoras pudessem ter alguma folga. Em memória destas mulheres trabalhadoras, o Dia Internacional da Mulher foi incorporado ao calendário, em 8 de março.

São inúmeras as lutas que as mulheres travaram a nível mundial, como em 1917 em Petrogrado. Foram elas que, sem esperar as ordens de seus líderes, se lançaram em uma greve geral que, posteriormente, deu lugar à Revolução de Fevereiro, responsável pela derrubada do czarismo na Rússia e antecessora da Revolução de Outubro, o feito histórico no qual a classe trabalhadora russa derrubou o capitalismo.

A história da luta das mulheres trabalhadoras é marcada pela luta de classes. As mulheres, junto ao restante da classe trabalhadora, ao unir suas forças, obtiveram conquistas inquestionáveis: desde o direito ao voto até o recente direito de acesso ao aborto legal, seguro e gratuito em nosso país.

A luta das mulheres alcançou muitas metas, mas ainda resta um longo caminho a percorrer para que se alcance a verdadeira igualdade entre homem e mulher. Vemo-nos ameaçadas constantemente, em todo o mundo: as recentes guerras entre a Ucrânia e a Rússia, o genocídio contra o povo Palestino, o aumento constante de feminicídios, as crianças vítimas de assédio, o crescimento do asqueroso negócio do tráfico de pessoas (que afeta principalmente as mulheres pobres). A lista é grande e contínua.

A cultura misógina floresce sob o capitalismo e é utilizada pela classe dominante quando sua posição se vê ameaçada, como acontece atualmente. Utilizam a divisão da classe trabalhadora como uma arma, para nos fazer enfrentar uns aos outros. Pretendem nos calar mostrando mulheres no poder, como se nossa vida como trabalhadoras proletárias tivesse algo em comum com a de Kristalina Georgieva, a de Margaret Thatcher ou a de Dina Boluarte. Acreditamos que as trabalhadoras de distintos países têm mais em comum com os homens trabalhadores, com pessoas pertencentes a minorias, dissidências de sexo, grupos raciais, entre outros, do que com essas mulheres consideradas pelas classes dominantes como exemplo de êxito, de superação das brechas em relação à sociedade patriarcal e de triunfo do feminismo, tergiversando e até banalizando o que significaram as conquistas obtidas pelos movimentos organizados das mulheres trabalhadoras.

A emancipação final e verdadeira da mulher somente será conquistada quando desaparecer de uma vez por todas a sociedade de classes. Nossa tarefa atual é lutar pela derrubada do atual sistema capitalista opressor, o qual já ultrapassou o seu papel histórico: constituir uma classe trabalhadora unida. Isto não significa que devamos pausar a luta da mulher até conquistarmos o comunismo. Pelo contrário, os comunistas aderem fervorosamente a cada luta pelos direitos dos trabalhadores, celebrando cada conquista frente à classe dominante. Mas a verdadeira meta não deve se perder: a revolução socialista. Só lutando por uma revolução que destroce a sociedade de classes e a opressão das e dos trabalhadores é que as mulheres vamos poder nos livrar finalmente da desigualdade, da exploração e de todas as formas de opressão.

  • Abaixo o capitalismo opressor!
  • Abaixo o Decreto Nacional de Urgência e a Lei Ômnibus!
  • Pelo poder dos trabalhadores – por um governo de trabalhadores!

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.