Mineiros em greve foram recebidos como heróis em Madri

Na noite de 10 de junho mais de 150.000 pessoas saíram às ruas de Madri para receber os mineiros que marcharam por 18 dias percorrendo os 400 km que os separam das cidades de origem até a capital espanhola.

Uma grande multidão de milhares e milhares (o secretário do sindicato CCOO de Madri diz que chega a meio milhão de pessoas) mostrou sua solidariedade com os punhos erguidos, slogans e canções revolucionárias, acompanhando os mineiros por todo o caminho, desde a Cidade Universitária até a Praça Puerta del Sol, o mesmo local onde os indignados se reuniram por várias vezes nas lutas do ano passado.

A manifestação deveria começar às 22 horas, mas já era quase 02h00min da madrugada quando os mineiros finalmente chegaram à Plaza del Sol. Os bombeiros de Madri, também em luta contra cortes e demissões, organizaram e abriram caminho para os mineiros entre a multidão. Eles haviam chegado aos arredores de Madri na noite anterior. A coluna de Aragon finalmente encontrou-se com a de Leon e Astúrias. A multidão cantava a Internacional e o hino dos mineiros de Santa Barbara, enquanto muitos mineiros tinham lágrima nos olhos extasiados com a extraordinária demonstração de solidariedade da classe trabalhadora.

Havia um clima de raiva, mas também de emoção. A multidão ficou ciente de seu próprio poder e começou a gritar: “Si se puede” – “Sim nós podemos” e “Viva a luta da classe trabalhadora”. Mais de 8.000 mineiros de carvão estão em greve desde o final de Maio lutando contra a decisão do governo de cortar subsídios adquiridos para a indústria em 63%. Seus empregos e o futuro de outros 30.000 empregos estão em jogo. No começo eles foram ignorados pela mídia, em seguida, caluniados e difamados, foram descritos como extremistas violentos e até terroristas. O governo e os meios de comunicação de massa têm trabalhado lado a lado para pintar um quadro onde os mineiros ganham bem e aposentam-se cedo e com boas condições. Nada disso é verdade, mas certamente isso surtiu um certo efeito minando lentamente a moral. Noite passada essa tendência foi revertida. Os mineiros sentiram diretamente a enorme onda de solidariedade que sua luta levantou na classe trabalhadora, “o povo está conosco” muitos disseram.

Há dez dias a Espanha ganhou a Euro Copa e a classe dominante tentou usar a alegria compreensível das pessoas comuns para criar um clima de unidade nacional. Ontem à noite dezenas de milhares gritaram “essa é minha seleção” (“esta es mi selección”), entre o mar de Aragon, Asturian, Leon e bandeiras vermelhas (veja o VIDEO da UGT aqui).

Assim que eles entraram na Puerta del Sol, o slogan dos indignados “que no nos representan” (“eles não nos representam”) direcionado aos políticos, juízes e banqueiros tornou-se “que sí nos representan” (“eles sim nos representam”) direcionado aos mineiros.

Há uma boa razão porque a luta dos mineiros se tornou um ponto de referência para milhões de trabalhadores e jovens espanhóis. Eles estão sendo vistos como os que estão sendo preparados para lutar até o fim, custe o que custar. Isso é precisamente o que é preciso, ao contrário da “estratégia” dos líderes sindicais do CCOO e da UGT, que convocou com sucesso uma greve geral em Março, mas não prosseguiu seriamente a luta. Jovens e trabalhadores estão preparados para a luta. Toda sexta-feira o governo anuncia novas medidas de austeridade, mais cortes, mais ataques; os bancos são resgatados enquanto eles expulsam as famílias da classe trabalhadora de suas casas; os trabalhadores são chamados a fazer sacrifícios enquanto juízes corruptos escapam renunciando suas posições. O clima de raiva está crescendo há mais de um ano. Mas não tem nenhum canal para se expressar.

Mesmo em relação à luta dos mineiros, os líderes sindicais não organizaram solidariedade propriamente. É preciso uma campanha nacional de reuniões de massa em todos os locais de trabalho, marchas massivas com discursos dos mineiros, coleta nos locais de trabalho para o caixa de greve dos mineiros – esta seria a única maneira eficaz de combater a propaganda da classe dominante, mas também serviria para preparar o conjunto da classe trabalhadora para mais ações. “Sí se puede” significa que os jovens e trabalhadores estão preparados para lutar, mas apenas se tiverem uma perspectiva de uma campanha de mobilização séria e sustentável para derrotar este governo e suas medidas de austeridade.

Enquanto escrevemos estas linhas, outra enorme manifestação acompanha os mineiros ao Ministério da Indústria, enquanto no Parlamento o presidente Rajoy está explicando as “novas” condições que estão sendo negociadas com a Europa para o resgate dos bancos e a redução do déficit orçamentário. Em suma, em troca do atraso de um ano para alcançar a meta de déficit de 3% do PIB, outro pacote de cortes, que valem 65 bilhões de euro, será introduzido. Ferrovias, aeroportos e portos serão privatizados. Os impostos irão aumentar. Os benefícios aos desempregados serão cortados. A idade para aposentadoria aumentará. Funcionários públicos perderão o bônus de Natal até 2015 (esse bônus é como se fosse o 13º salário aqui do Brasil: nota do editor). Os trabalhadores, mais uma vez, estão sendo requisitados para pagar pela crise do capitalismo.

Significantemente, Rajoy iniciou seu discurso agradecendo ao Partido Socialista por ter formado uma frente única na Europa. Por outro lado, deputados da Esquerda Unida estão vestindo camisetas de solidariedade aos mineiros. Não é estranho que a pesquisa de opinião pública publicada no fim de semana mostra um maior declínio da direita governante o Partido Popular (de 44% nas eleições de Novembro de 2011 para 37% agora), mas um contínuo declínio também do desacreditado Partido Socialista (de 28,7% para 23,1%) que está sendo visto como o introdutor da onda de cortes e austeridade quando estava no governo e concordou com o PP nas questões fundamentais agora. O principal beneficiário é a coalizão de esquerda da Esquerda Unida, subindo de 6,9% que conseguiu em Novembro para 13,2% agora.

O que virá em seguida? De um ponto de vista econômico, o custo para fazer concessões aos mineiros, para desbaratar sua luta, não é tão grande. Os cortes em subsídios à extração de carvão representam “apenas” 200 milhões de euros. No entanto, fazer concessões agora, enviaria uma mensagem muito perigosa aos trabalhadores e jovens que estão sofrendo ataques semelhantes: “a única maneira agora de ganhar é através de uma greve, barricadas e marchas em Madri”.

Por outro lado, até agora, os dirigentes sindicais não elaboraram nenhuma estratégia clara para difundir esta luta ao resto da classe trabalhadora, que seria a única forma para agora aumentar a pressão e intensificá-la. Ainda que em 18 de junho tenha havido uma greve geral nas minas de carvão, desde então, nenhuma ação foi tomada por parte dos dirigentes. Deveria ter havido, pelo menos, uma greve geral em Astúrias e um dia nacional de ação em solidariedade aos mineiros.

Ao mesmo tempo os mineiros estão agora entusiasmados e confiantes. Eles não serão derrotados facilmente ou convencidos a voltar aos seus trabalhos de mãos vazias, principalmente porque eles sabem que se não vencerem esta batalha, seus empregos provavelmente desaparecerão antes do final do ano.

Quando estas duas forças se chocarem o resultado mais provavelmente será uma poderosa explosão. Ou os dirigentes sindicais se colocarão à frente atribuindo-se uma aparência de direção, ou eles correrão o risco de serem varridos por um movimento espontâneo de baixo.

Mais informações sobre a luta dos mineiros:

•        Batalha dos Mineiros Espanhóis em defesa dos empregos + VIDEOS

•        [VIDEO] Marcha noturna dos mineiros espanhóis

•        Espanha: marcha dos mineiros chega a Madri

Veja também: Comitê de Solidariedade aos Mineiros

            Associação de Imprensa VIDEO resumo da luta

            Galeria de Fotos de José Camó – www.josecamo.com:

https://picasaweb.google.com/103315366936682530345/MadridMinersDemo10July2012?feat=flashalbum#5763850212947502578

Traduzido por Marcela Anita