Greves ocorridas nas décadas de 1970 e 1980 fizeram parte do processo de derrubada da Ditadura Militar

Lições das greves operárias no Brasil de 1978 a 1980

Em 1978 a classe operária brasileira, protagonizada pelos metalúrgicos do ABC e Diadema, expressou um salto qualitativo na luta contra a estrutura sindical varguista e a Ditadura Militar. Essa estrutura, vigente até hoje na maioria dos sindicatos brasileiros, originou-se com Vargas e a CLT e se caracteriza essencialmente pelas cobranças de taxas compulsórias sobre os trabalhadores (imposto sindical etc.), assistencialismo e unicidade sindical. Um total atrelamento dos sindicatos com o Estado.

Na época, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, então presidido por Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Campanha salarial do começo do ano decidiu exigir uma negociação direta entre trabalhadores e patrões. Esta reivindicação não foi atendida e o índice de reajuste estipulado aos metalúrgicos foi o decretado pelo governo. Porém, no dia 12 de maio, ao verem o pífio reajuste em seus holerites, os trabalhadores da Scania decidiram cruzar os braços culminando num movimento de greve dos metalúrgicos do ABC, São Paulo e de todo o Brasil.

As bases do movimento de 1978 têm suas raízes na dura repressão da Ditadura Militar sobre todo o movimento sindical brasileiro, na chamada crise do petróleo de 1973 e na intensificação do arrocho fiscal que decorreu deste contexto. Apesar da repressão e quase nenhuma liberdade democrática, de maio a agosto de 1978 “cerca de 117 mil metalúrgicos de 132 indústrias” (http://memorialdademocracia.com.br/card/novo-sindicalismo) conquistaram vitórias nesse ano, representando uma dura derrota econômica e política aos governos da Ditadura Militar.

Fruto da elevação do nível de consciência política da classe trabalhadora do período, em outubro de 1978 no 3º Congresso do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema se discutiu a estrutura sindical brasileira e a necessidade da criação de uma central única para a classe trabalhadora que superasse o sindicalismo varguista.

As vitórias dos metalúrgicos do ABC no ano anterior impulsionaram diversas categorias no Brasil em 1979. De boias-frias a trabalhadores da construção civil e professores, o que se via era o acirramento da luta de classe que se expressava em greves massivas. Em março deste ano, 180 mil metalúrgicos do ABC paralisaram as fábricas Ford e Volkswagen.

A greve do ABC em 1979 foi considerada ilegal e a PM, junto à tropa de choque, foi lançada violentamente sobre a classe trabalhadora. Conforme Lula relatou em seu último discurso antes de sua prisão no dia 7 de abril de 2018, ele defendeu o encerramento da greve apesar da disposição de resistência da categoria. Foi nesse processo, alguns meses depois que morreu o operário Santos Dias.

Em 1980, longe de derrotado, o movimento grevista aumentou. Durante 41 dias mais de 300 mil metalúrgicos em todo o estado de São Paulo se lançaram na luta. O primeiro de maio desse ano, assim como o de 1979, são considerados os dois maiores atos políticos da história do Brasil, ambos concentrando mais de 150 mil pessoas no Estádio de Vila Euclides, em São Bernardo do Campo. Atualmente este estádio é oficialmente chamado de Estádio Primeiro de Maio em referência a sua importância na luta dos metalúrgicos do ABC entre 1978 e 1980.

O governo, acuado, recorreu a uma repressão ainda mais violenta que em 1979. Lula e mais 14 dirigentes metalúrgicos foram presos no período, fora as perseguições. Somente no 41º dia de greve os presos políticos foram libertados. E mesmo sem ganhos econômicos nessa greve, o movimento significou um enorme ganho político à classe trabalhadora na luta por sua reorganização nos eixos da independência de classe.

A sublevação operária contra a Ditadura Militar entre os anos de 1978 e 1980 representou um período de greve de massas no Brasil. O movimento superou o economicismo e partiu a pautas políticas como a luta contra a estrutura sindical varguista e pelas liberdades democráticas. Isso resultou num partido próprio, o PT, e numa central única própria, a CUT, fundada em 1983. Apesar disso, a ausência de uma direção revolucionária suficientemente enraizada fez com que Lula e os adeptos da política de conciliação de classe tomassem as rédeas do movimento na linha de reformar o capitalismo ao invés de superá-lo. O resultado hoje é trágico: a CUT representa as mesmas burocracias contra as quais ela surgiu.

Assim, a tarefa dos marxistas é justamente a luta pela reorganização da classe trabalhadora, pela liberdade e independência sindical, na linha da independência de classe e pela construção de um partido revolucionário de massas. A ausência de uma direção revolucionária é o principal fator que explica que as milhares de greves do país não se unifiquem pela derrubada do sistema. A máxima de Trotsky se mantém: “a crise da humanidade hoje se resume na crise de direção do proletariado” e é tarefa dos marxistas estarem à frente da superação desse processo rumar junto à classe operária até a derrocada final do capitalismo.