Foto: UNE

A unidade para barrar o Fora Bolsonaro

Durante as manifestações do dia 30/05, a UNE lançou uma faixa de 1000m² com a palavra de ordem ‘‘O Brasil se UNE pela Educação’’. Uma faixa enorme, que cobriu milhares de cabeças no Largo da Batata. Mas qual o seu significado?

À primeira vista, o impacto da palavra de ordem parece ser positivo, mas esconde uma perspectiva que não tem base de classe e não se posiciona abertamente pela educação pública e gratuita e para todos.

Na sua convocação para o dia 30/05, além de não defender nunca a educação pública e falar somente da educação em geral, expressa uma posição que é anterior à declaração da UNE, quando se intitula ‘‘O Brasil se une contra os cortes’’ e publicada no dia 17/05, que vem da própria política de conciliação de classes.

Para evidenciar isso, no dia 20/05, o PCdoB (partido que encabeça a direção da UNE desde a década de 1990) reunido com PT, PSOL e outros partidos, incluindo partidos da direita, como PSDB, PDT e PSB, formaram um movimento em defesa da democracia. No mesmo dia, PT, PCdoB, PSOL, PDT e PSB se ‘‘unem’’ para bloquear o elemento espontâneo que apareceu no dia 15/05: o Fora Bolsonaro!

Diferentes meios de comunicação e as declarações dos dirigentes confirmam a confluência de interesses que ‘‘une’’ o Brasil: impedir que uma crise revolucionária se abra no país a partir desse movimento que começa a crescer pelo Fora Bolsonaro.

Esses dirigentes que há muito tempo traíram a classe trabalhadora e sua juventude agora sustentam o regime apodrecido no Brasil, sua constituição e suas instituições. Defendem a democracia burguesa como se ela fosse o último bastião, mas o real sentido disso é que deixaram de confiar na classe operária e no poder de sua auto-organização. É por isso que buscam saídas parlamentares e abafar qualquer foco de radicalidade do movimento.

Interesses do aparato x  Interesse dos estudantes

Há muito tempo a direção majoritária da UNE, o Campo Popular (PCdoB, PT, PDT, Consulta Popular, Levante Popular da Juventude), fez com que a entidade abandonasse a defesa da educação pública, gratuita e para todos. Suas principais bandeiras tem sido a regulamentação do ensino privado, as cotas, o ProUni e FIES. Cada vez mais, a entidade se afasta da base e uma das formas que se utilizou para isso consta no documento de convocação dos atos do dia 30/05. O documento explica:

‘‘No mesmo dia [16/5] o presidente do INEP foi demitido, com um objetivo claro, indicar um novo nome que tenha disposição de burlar a lei de proteção de dados e acessar, de maneira ilegal, informações de milhões de estudantes para emitir Carteiras de Estudante, em uma retaliação às entidades estudantis que tem lutado com firmeza para defender a educação.’’

É claro que somos contra o acesso ilegal de nossos dados! Mas a UNE não explica porque é uma retaliação.

A UNE vem sendo mantida pelo monopólio da carteirinha estudantil. Esse monopólio foi obtido através de uma lei federal que garante à UNE, UBES e ANPG a emissão da carteirinha ‘‘oficial’’, que é aceita para validar o direito dos estudantes de meia-entrada nos estabelecimentos conveniados. E somente a UNE, UBES e ANPG tem acesso ao banco de dados estudantil. Nenhuma outra entidade nacional tem esse mesmo acesso.

Sobra para os estudantes pagarem para ter suas carteirinhas para acessar seus direitos. Na cidade de São Paulo e nas regiões metropolitanas, por exemplo, o direito de passe-livre arrancado pelas manifestações de 2013 apenas é garantido vinculado à carteirinha da UNE, UBES, ANPG. Em outras palavras, o direito do estudante só é válido se ele pagar uma espécie de ‘imposto sindical’ para essas entidades, mesmo que ela não mobilize, não organize e não defenda o conjunto dos interesses dos estudantes. Assim, ela se mantém, sem se conectar com a base, com uma estrutura que frauda eleição em cima de eleição para seus congressos bianuais e que permite fazer uma faixa como a do dia 30/05 para dizer frases de conciliação com a burguesia!

Isso também explica a velocidade da direção da UNE em se movimentar para convocar os atos de 30/05. Seus interesses e seu aparato foram ameaçados pelo governo Bolsonaro, ao mesmo tempo que a entidade tinha que dar uma resposta à pressão que vinha das bases na luta contra os cortes e também de centralizar o movimento, impedindo que novos atos espontâneos fossem chamados após 15/05.

É por isso que precisamos que a UNE, UBES, ANPG, CAs, DAs, DCEs e grêmios estudantis sejam verdadeiros sindicatos de estudantes (de base, independente e socialista). Para que sejam, de fato, entidades independentes da burguesia, conectadas com a base, que assumam um papel para que a educação se torne realmente prioridade, que sejam financiados pelos seus apoiadores e membros filiados na base e através de meios próprios como rifas, festas e etc. Somente assim é possível ter plena independência política!

O atual estágio do capitalismo não permite mais concessões, a única promessa que ele tem é atacar todos os nossos direitos. Assim, se torna-se urgente sindicatos de estudantes, para que as entidades estudantis tomem para si a tarefa de dirigir a luta contra o capital e a burguesia e por um mundo novo, que no Brasil começa com o Fora Bolsonaro!