Um mês de aulas presenciais no Amazonas: mentiras, contágios e nenhuma segurança

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 15, de 17 de setembro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

Após meses de paralisação por causa da pandemia, no dia 10 de agosto professores e alunos do Ensino Médio de Manaus foram obrigados a voltar às aulas presenciais nas escolas da rede pública estadual. A justificativa do governo é que os números da Covid-19 no Amazonas estariam em queda e que um protocolo estaria sendo preparado para garantir a segurança de todos. A realidade, no entanto, não sustenta nem uma coisa, nem outra.

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam), desde a reabertura das escolas 1770 professores já testaram positivo para a doença e 70% das unidades de ensino têm pelo menos um caso confirmado. Tratando-se de uma doença altamente contagiosa, esses números mostram o risco gigantesco aos trabalhadores, mas também aos alunos, seus familiares e todas as pessoas com quem convivem.

Curiosamente, na última sexta-feira (11/09) o governo deu uma coletiva de imprensa em que a diretora-presidente da Fundação de Vigilância e Saúde (FVS-AM), Rosemary Pinto, reclamava das festas “clandestinas” e das aglomerações em praças, praias e cachoeiras da região metropolitana de Manaus. O objetivo é culpar a população, que se acotovela diariamente no transporte público lotado da cidade, pelos aumentos nas internações, mas nenhuma palavra é dita sobre as aglomerações nas escolas, shoppings e zonas comerciais abertas pelo próprio governo.

A ópera bufa se completa com as medidas tomadas pela Secretaria de Educação a partir do suposto protocolo de segurança. As máscaras reutilizáveis entregues aos alunos, além do número insuficiente, viraram piada na internet por causa do tamanho completamente desproporcional mesmo para o rosto de um adulto. O álcool em gel prometido para as escolas, que nunca têm sequer sabão no banheiro para lavar as mãos, só foi garantido às unidades modelo que o governo usa para filmar sua propaganda.

É preciso esclarecer, porém, que se todas as medidas prometidas fossem cumpridas rigorosamente, ainda assim não seria possível garantir a segurança das milhares de pessoas que passam todos os dias pelas escolas públicas de Manaus. Até que se tenha uma vacina e um número grande de imunizados por ela, a única maneira de evitar mais contágios e mortes entre alunos, professores e familiares é manter as aulas remotas e oferecer todos os recursos necessários para o acesso às aulas.

Essa deve ser a exigência dos sindicatos de professores e associações de pais, mas o que se vê é algo bem diferente. Desde que o governo anunciou o retorno, o Sinteam, sindicato majoritário dirigido pelo PCdoB, limitou-se a exigências frágeis que na verdade reforçam o argumento do governo de que é possível reabrir as escolas com segurança se certas medidas forem tomadas. O sindicato chegou a entrar com uma ação na justiça para evitar o retorno, mas a juíza que indeferiu o pedido considerou que não havia provas de que o governo não iria cumprir o protocolo prometido.

A direção resistiu sequer a paralisar até o dia 24.09, data marcada para o retorno do Ensino Fundamental. Diante das inúmeras denúncias o governo recuou, mas as aulas presenciais do Ensino Médio continuam, e até agora nenhuma greve por tempo indeterminado foi chamada ou começou a ser construída pela base. O Sindicato dos Professores e Pedagogos de Manaus (Asprom), minoritário, convocou greve desde a reabertura do dia 10, mas não conseguiu reunir forças suficientes para mobilizar a categoria e enfrentar o Estado.

A única saída para essa política assassina do Governo do Amazonas é a unidade de classe entre professores e demais trabalhadores da educação, estudantes e comunidade. Para isso é necessário que a Asprom e o Sinteam decretem uma greve unificada e por tempo indeterminado com ampla participação para derrotar o governo. Também é preciso que a União dos Estudantes do Amazonas e demais organizações estudantis chamem suas bases para apoiar a greve. Não se deve ter nenhuma esperança de que medidas jurídicas ou burocráticas serão suficientes, só a luta pode garantir a segurança e a vida dos trabalhadores.

Aulas presenciais, só com vacina!

Pelas nossas vidas, dos estudantes e seus familiares!