Objetivos profundos da Lava Jato, no Brasil, da Mãos Limpas, na Itália, e consequências

A operação política que é conduzida por um Judiciário bonapartista que se arroga o direito de prender  quem bem entender, mostra que um setor da burguesia e do aparato de Estado está disposto a liquidar grande parte, a maioria, da atual elite política burguesa do país. Seu grande problema é que eles não têm o que pôr no lugar, exceto um regime títere tutelado pelo Judiciário bonapartista.

A operação Lava Jato tem  objetivo de uma “Limpeza Geral”
 
Como a Esquerda Marxista já explicou outras vezes, o que avança no Brasil é a linha da necessidade burguesa de desmoralizar a esquerda e as organizações dos trabalhadores.Também é de promover uma limpeza geral nas cúpulas políticas burguesas com objetivo de salvar as instituições e destroçar a capacidade de resistência da classe trabalhadora. É o que a revista britânica The Economist, após a votação do impeachment na Câmara, declarou: “toda a classe política decepcionou o país, em um misto de negligência e corrupção. Os líderes brasileiros não vão recuperar o respeito dos cidadãos e superar os problemas econômicos do país a menos que haja uma limpeza geral”.
 
A operação política é conduzida por um Judiciário bonapartista que se arroga o direito de prender parlamentares que têm imunidade. Também de suspender o presidente da Câmara eleito pelos deputados, independente do fato que ele seja um reacionário e acusado de todo tipo de crime, mostra que um setor da burguesia e do aparato de Estado está disposto a liquidar grande parte, a maioria, da atual elite política burguesa do país. Seu grande problema é que eles não têm o que pôr no lugar, exceto um regime títere tutelado pelo Judiciário bonapartista.
 
Semelhança e diferença entre a Operação Lava Jato e a Operação Mãos Limpas, na Itália
 
As duas operações são políticas, no sentido de limpar o aparelho de Estado e salvar as instituições da fúria popular. Na Itália isso levou à liquidação da corrupta elite política burguesa que governava com a Máfia. Chegou à destruição do partido histórico da burguesia italiana, a Democracia Cristã e do Partido Socialista, o partido reformista que se converteu a uma política pró-burguesa, sob a direção de Bettino Craxi durante os anos 1980. A burguesia italiana utilizou o aparato judiciário porque a elite política havia chegado a se apropriar de uma parte demasiado grande da mais valia extraída dos trabalhadores. Aqui, no Brasil, a operação está indo em direção à liquidação da corrupta elite política, levando de roldão o PT, PMDB, PSDB, DEM, PP, etc.
 
A grande diferença, que torna a situação brasileira tão dramática para a burguesia, é que na Itália eles tinham como estepe o grande partido histórico da classe operária, o PCI refundado como PDS, um partido de massas e “limpo” aos olhos das grandes massas. Isso levou ao governo “técnico” de Amato, Ciampi e Dini, apoiado desde fora pelo Pds, e depois com participação direta no governo Prodi e D´Alema (secretário do PDS), dito de “centro-esquerda”. Só depois de seus fracassos respectivos veio Berlusconi, em 2001-2006, depois de uma breve experiência em 1994-95. Com o fracasso de Berlusconi surge Beppe Grilo, o comediante que chegou a fazer 25% dos votos. Foi quando o ex-partido comunista (PCI, PDS) se fundiu com os restos da esquerda da Democracia Cristã e constituiu o atual partido governante, o partido Democrata.
 
No Brasil não existe mais estepe. O PT foi desmoralizado e está em frangalhos politicamente.Sua base social desapareceu e seus laços com a classe operária foram praticamente cortados, como aconteceu com o Partido Socialista Italiano. O que o PT ainda mantém é a influência nas cúpulas dos aparatos sindicais (CUT, MST, UNE). 
 
Aqui, o resultado da ação política do Judiciário está indo em direção a criar uma situação onde “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas” (K. Marx, Manifesto Comunista). Aqui, a liquefação do governo Temer não vai encontrar peça de reposição de mínima qualidade. 
 
A Operação Lava Jato tem objetivos políticos que incluem a “renovação” da liderança burguesa para salvar as instituições e a “normalização” dos ataques, via judiciário, aos movimentos sociais, às lutas da classe trabalhadora e da juventude. O Judiciário se arrogou o papel de árbitro supremo das disputas políticas entre as facções burguesas e entre as classes, assim como sobre todas as instituições políticas burguesas. É um Judiciário bonapartista que pretende governar fora de qualquer lei e impor sob disfarce jurídico os interesses gerais da burguesia, do capital, não importando o que tenha que ser feito para isso.
 
Esses objetivos do Judiciário e suas ações demonstram o desprezo que eles têm às liberdades democráticas. Nunca foi tão claro que a “Justiça” não passa de uma fachada para controle social em tempos de paz e, em tempos de crise, de instrumento de guerra da burguesia para manter seus privilégios e defender o aparato de seu Estado.
 
A perseguição coordenada por dezenas de juízes no Paraná, com mais de 40 ações judiciais contra os cinco jornalistas da Gazeta do Povo, que divulgaram que eles recebem mensalmente valores muito superiores ao definido como teto para o Judiciário, é a prova de uma perseguição política para acobertar a degeneração moral e social de uma elite privilegiada.
 
A tarefa dos revolucionários é explicar que a crise é tão desesperada para o capital que um setor da classe dominante está disposto a sacrificar outro para salvar a própria dominação de classe. Não foi o que fez Luís Bonaparte, o pequeno, em 1852, com o golpe de estado? Ou Hitler, com a instauração do regime nazista?
 
Para o povo trabalhador reformar a fachada do estábulo não vai extinguir nem seu cheiro, nem as doenças que espalha. O que precisamos é constituir uma organização e um movimento proletário tão poderoso que seja capaz de limpar de vez as cavalariças de Augias, como fez Hércules, que limpou em um dia os currais que continham 30 mil cavalos e há 30 anos não eram limpos. O objetivo dos revolucionários é limpar de todo estrume a atual sociedade e seus atuais mandatários.
 
Artigo publicado na edição 92 do jornal Foice&Martelo, de 20 julho de 2016.