Ensino a Distância na rede estadual de SP: entre as mentiras e o aumento da exclusão social

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 06, de 14 de maio de 2020. Confira a edição completa

A partir da declarada pandemia e a posterior quarentena no estado de São Paulo, como sabemos as aulas presenciais foram interrompidas. O governo Dória, que já vinha desenvolvendo projetos privatizantes com o Instituto Ayrton Senna, Google dentre outros, não perdeu tempo e lançou o Centro de Mídia da Educação de São Paulo (CMSP). Este teria o objetivo de continuar os estudos dos alunos a distância.

O modelo do CMSP segue o padrão mais clássico do EAD: palestrantes que dão as aulas, enquanto os professores são reduzidos a tutores. Fora as absurdas convocações dirigidas a professores para entrega de materiais aos pais nas escolas. Ou seja, um descarado desvio de função e o consequente sobretrabalho.

Após quase dois meses do fechamento das escolas a alunos e professores o governo agora lança mão do “Google Sala de aula”, onde professores devem postar as atividades para os alunos realizarem, que serão a contagem de presença, de acordo com documento orientador da própria Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEDUC). Apesar disso, alguns dirigentes de ensino têm a pachorra de exigir que os professores fiquem logados durante todo seu horário de trabalho. Deixamos claro: isso não está escrito em nenhum lugar, e as DEs não tem poder de exigir isso.

Frente a todo esse cenário não falta hipocrisia, nem um amplo repertório verborrágico para disseminar mentiras.

Como já expressamos em outros momentos, nem professores, nem alunos tiveram treinamento para acessaram o “Google Sala de aula” ou para realizarem atividades por meio dessa plataforma. Mais importante do que isso: professores e alunos, em sua maioria, têm meios limitados para tais acessos, em sua maioria conseguem acessar tais meios utilizando somente celulares, e ainda com grande limitação. O Estado não oferece nenhum auxílio nesse sentido, como notebooks, para citar só um exemplo. Ou seja, o resultado será a redução a níveis só vistos na década de 1910 e 1920, do século passado, do acesso a educação pelo proletariado no estado de São Paulo.

No a tragédia caminha a passos largos: enquanto algumas aulas são apresentadas por youtubers (contratados com dinheiro público), em outros a realidade vem à tona de modo trágico. Um exemplo ocorrido nas últimas semanas exemplifica bem o que queremos dizer: em determinado dia, um professor do 8º ano faltou para as aulas ao vivo. A coordenação da CMSP o substituiu por uma professora do 3º ano do ensino fundamental, que conduziu a aula como se estivesse lecionando para essa faixa etária. O resultado não poderia ser outro: a professora saiu humilhada após propor danças infantis. Memes e figurinhas foram feitos. A CMSP pede desculpas de modo hipócrita e segue o barco como antes.

O que vimos no exemplo acima, foi o retrato da falida educação pública no sistema capitalista, mas agora exposta a centenas de milhares de alunos e professores: professor sem recursos e amparo, sem respeito por parte do governo e colocado em situações em que será vítima de violência psicológica das mais diversas formas. Apesar das lágrimas de crocodilo do Secretário Rossieli defendendo o projeto da CMSP, muito mais do que a professora envolvida, o que essa situação expressou são as dezenas de milhares de casos, isso documentado, de professores que já estão ou que dão indícios de problemas psicológicos na rede. E quanto a isso a SEDUC (Secretaria de Educação) nada tem a dizer.

Enquanto tudo isso ocorre, é notória também a paralisia da APEOESP, que se reduz a promover ações jurídicas, fadadas ao fracasso, e questionários para avaliar o grau de exploração dos professores. Tudo isso muito, mas muito insuficiente vindo do maior sindicato da América Latina.

Entre improvisos, trapalhadas e muita hipocrisia segue o CMSP, acompanhada pelo imobilismo da APEOESP. Cabe a nós continuar as denúncias sobre desvio de função e sobretrabalho, exigir o direito pelo acesso à tecnologia aos estudantes e por condições para realização do trabalho remoto aos professores. Não vamos aceitar a mentira do EAD e todos os males que a SEDUC organiza contra a categoria e os estudantes! Junte-se a nós e ajude a construir mais essa luta.