Foto: Feherculano1984

A demissão dos trabalhadores da Cinemateca, o desmonte da cultura e a falência da parceria público-privada

A Associação Comunicativa Educativa Roquette Pinto (Acerp), organização social (OS) responsável por administrar a Cinemateca Brasileira, anunciou na quarta-feira (12) a demissão de todos os funcionários da instituição. Ao todo, são 41 trabalhadores que perderam o emprego e que agora se somam a massa de desempregados do setor cultural e artístico. Uma situação absurda que só demonstra o descaso por parte do governo Bolsonaro com trabalhadores da cultura e a total falência da parceria público-privada que ocorre por meio da gestão das OSs. 

Depois de ser negado pela Justiça o pedido de renovação do contrato do governo federal com a Acerp que permitia a execução de seu orçamento de R$ 14 milhões, a OS entregou as chaves da Cinemateca para o governo na sexta-feira (7) a pedido da Secretaria Especial de Cultura. De um lado, o que ocorre são as políticas de corte do governo Bolsonaro aplicadas ao setor da cultura e a arte, transformando até mesmo trabalhadores mais especializados em desempregados, expondo-os ao risco de morrerem por Covid-19, sem condições mínimas de sobreviverem. Do outro lado, há a completa aceitação por parte da Acerp dos cortes aplicados, se apropriando da verba pública para fins privados, tornando a preservação do acervo, a manutenção e a programação da Cinemateca e a vida dos trabalhadores apenas uma questão de negócios. 

A Cinemateca Brasileira foi criada em 1946, possuindo o maior acervo de “imagem em movimento” da América Latina, formado por cerca de 250 mil de rolos de filme e mais de um milhão de documentos relacionados ao cinema. Seu material original em celuloide é altamente inflamável e deve ser mantido refrigerado. Além dos cortes no orçamento destinado à Cinemateca prejudicar a vida pessoal e profissional de seus trabalhadores – considerando inclusive que neste caso os dois âmbitos se confundem, dada a dedicação quase integral destes a construção de uma história material do cinema brasileiro – também se torna um risco para a manutenção do espaço que sofre com a falta de dinheiro até para o pagamento de suas contas de água e de luz. Alguns danos que possam ocorrer no acervo de originais da Cinemateca são irreparáveis e o risco é de que se perca parte importante da história da arte e da cultura, incluindo a própria história do cinema do país.

Não é de hoje que existe um risco para a preservação do acervo e do próprio espaço da Cinemateca. Vale lembrar que em 2016 um incêndio que atingiu parte de sua estrutura destruiu pelo menos 270 de seus títulos. Hoje, com o agravamento da crise econômica provocada pelo capitalismo, cuja lógica prioriza o lucro das empresas que gerem o setor ao invés das vidas e da preservação da produção cultural e artística, o risco para a Cinemateca é ainda pior. Enquanto isso, a ação do Ministério do Turismo, ao qual a Secretaria Especial de Cultura é ligada, pretende resolver o problema da manutenção da Cinemateca por meio da negociação com uma nova OS. Essa é a forma como a burguesia e seus representantes devem “salvar” a Cinemateca, dando continuidade à privatização do setor cultural, debilitando ainda mais os seus serviços e jogando sobre os ombros dos trabalhadores precarizados a responsabilidade pelo cuidado de seu espaço e acervo.

Por isso defendemos:

  • Imediata readmissão dos 41 trabalhadores da Cinemateca!
  • Fim das OSs e estatização de todo equipamento cultural explorado pelo capital, sob o controle dos próprios trabalhadores!
  • Fora Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!