Vitória de Trump: mais um terremoto para o sistema

A crise do capitalismo tem provocado seguidos terremotos políticos. A vitória do reacionário Trump joga mais combustível no acirramento da luta de classes nos EUA.

A crise do capitalismo tem provocado seguidos terremotos políticos. Em junho deste ano, a vitória no referendo da saída da Grã-Bretanha da União Europeia, o “Brexit”. Agora, um abalo ainda maior do outro lado do Atlântico: a vitória de Donald Trump para a presidência dos EUA.

A vitória deste bufão demagogo é fruto do rechaço generalizado à política tradicional, ao “estabilishment”, à farra de Wall Street. Hillary Clinton era a representante mais visível desse setor. Contraditoriamente, Trump foi identificado como um “outsider”, um candidato de fora do sistema.

Mas o resultado, não significou um aumento de votos nos republicanos, ainda mais se considerarmos o aumento de eleitores entre cada eleição. Vejamos a tabela abaixo:

Ano

Candidato Democrata

Candidato Republicano

2008 (Obama x McCain)

69.456.897 votos

59.934.814 votos

2012 (Obama x Romney)

65.899.660 votos

60.932.152 votos

2016 (Clinton x Trump)

61.782.016 votos

60.834.437 votos

Fonte: FEC (de 2008 e 2012) e BBC (de 2016, visto em 17/11/2016)

É preciso observar que nesse “exemplo de democracia”, Hillary teve mais votos diretos do que Trump, mas não levou a presidência. Os democratas perderam muitos votos, em especial daqueles que tinham esperanças de que Obama faria algo de progressista como primeiro presidente negro e com um discurso de mudança. Após 8 anos, foi mais um governante que oprimiu os povos ao redor do mundo, e atacou a classe trabalhadora norte-americana, em benefício dos poderosos de sempre.

Nestas eleições, aproximadamente 121 milhões de pessoas, 46,6% dos eleitores, não foram votar (estimativa do site United States Elections Project). Ou seja, quase metade recusou-se a escolher entre as duas faces da burguesia imperialista: democratas e republicanos.

Vale notar ainda que houve uma elevação significativa em votos nos candidatos de fora desse bipartidarismo. Na tabela abaixo, é visível o crescimento da busca por uma alternativa fora do dualismo imposto pela classe dominantes.

Ano da eleição

Votos em candidatos independentes e de outros partidos

2008

1.767.575

2012

2.093.550

2016

6.379.990

Fonte: FEC (de 2008 e 2012) e BBC (de 2016, visto em 17/11/2016)

É preciso considerar também que uma parcela de trabalhadores, desesperada com a crise, foi levada pelo discurso de Trump de reavivar a economia norte-americana e suas indústrias com ações protecionistas. Esses irão desfazer suas ilusões rapidamente, diante da impossibilidade do novo presidente de resolver os problemas econômicos dentro dos marcos do capitalismo. Aliás, as medidas que Trump prometeu, aumento de tarifas alfandegárias e redução de impostos para os mais ricos, aumentarão ainda mais o caos, ainda que possam resultar, momentaneamente, num breve aumento da atividade econômica nos EUA.

A vitória do reacionário Trump joga mais combustível no acirramento da luta de classes nos EUA. Logo após a confirmação do resultado, manifestações massivas, com forte participação da juventude, tomaram as principais cidades do país com a palavra de ordem “Não é meu presidente!” e em algumas manifestações uma das palavras de ordem mais ouvidas era “Nossa solução, revolução!”. Novamente a juventude é o primeiro setor a descortinar um ambiente que parecia estar sob controle, como um “abre-alas” inicia a apresentação de um novo período da luta de classes.

É essencial recordar também como a situação convulsiva nos EUA se expressou no apoio massivo à campanha de Bernie Sanders, candidato que se apresentava como “socialista” nas primárias do Partido Democrata, defendendo uma “revolução política”. Sanders capitulou, seguindo o caminho típico dos reformistas, inclusive os de esquerda. Aceitou o resultado fraudulento das primárias do Partido Democrata e, vergonhosamente, declarou apoio à Hillary Clinton, frustrando milhões de apoiadores.

O que vimos com o movimento Occupy Wall Street em 2011, com a ocupação do Capitólio de Wisconsin, com as manifestações contra a violência policial e o racismo e, também, no apoio massivo a Sanders, vai seguir se intensificando com o odiado Trump na presidência.

Todo este desenvolvimento nos EUA tem relação direta com a situação política mundial, incluindo a situação no Brasil, como ficou demonstrado com o resultado das eleições municipais deste ano.

O que sim cresce nos EUA, no Brasil e no mundo é a polarização social. Incluindo o fato de setores da extrema direita se sentirem mais a vontade para defender suas posições reacionárias. Isso é o que mostra a invasão do Congresso brasileiro por um grupo de extrema direita no dia 16 de novembro, pedindo a intervenção militar e contra os comunistas.

Nos EUA, tal fenômeno foi visto no incentivo dado pela campanha de Trump para a propagação de milícias que estariam dispostas a ir à guerra para defender Trump, caso ele saísse derrotado nas eleições. Segundo a organização Southern Poverty Law Center, existem hoje 276 milícias de direita ativas, enquanto em 2008 eram 42. Esses são grupos protofascistas que devem ser combatidos pelo movimento operário.

Não podemos ignorar esses fatos, nem deixar de combater tal espécie de política, mas é preciso compreender as reais forças destes grupos para uma análise correta da situação e a elaboração de nossas táticas. É preciso enfrentar com força e coragem cada ataque às liberdades democráticas, que hoje no Brasil se dão, principalmente, a partir de um judiciário bonapartista e da repressão brutal às mobilizações da juventude e da classe trabalhadora. Não caímos na velha armadilha armada pelos reformistas, que alardeiam o perigo do fascismo na próxima esquina para justificar uma aliança com supostos setores “progressistas” e “democráticos” da burguesia. Tal política de “frentes populares”, de coalizão com a burguesia, já provocou inúmeras derrotas para o proletariado revolucionário na história e não foi justificável mesmo quando o fascismo era um perigo real.

Hoje, é preciso dizer claramente que o conservadorismo não está tomando as massas, muito menos o fascismo. O que segue se aprofundando é a falência do reformismo, dos partidos tradicionais que se venderam ao capital, como o PT no Brasil e os partidos socialdemocratas na Europa. Ao mesmo tempo, vemos as seguidas demonstrações de disposição de luta da juventude e dos trabalhadores ao redor do mundo, apesar dos freios impostos pelas direções. Essa situação foi expressa na busca pelas massas por novas alternativas políticas à esquerda, como Syriza e PODEMOS, na Grécia e Espanha, ou Corbyn e Sanders, na Grã Bretanha e EUA. Pequenas fagulhas podem desatar explosões revolucionárias em nível global. O “processo molecular da revolução” está em pleno desenvolvimento.

A Corrente Marxista Internacional, nos EUA, no Brasil e no mundo, está na batalha, ao lado da classe trabalhadora e da juventude, para construir uma saída revolucionária e socialista para a crise internacional deste sistema decadente. Junte-se a nós nesse combate!