The Boys: super-heróis ou capitalismo?

A série The Boys da Amazon inverte o gênero de super-heróis ao retratar os protagonistas como mercadorias, possuídos, controlados e explorados por um enorme monopólio multinacional. Somente a força da classe trabalhadora pode lutar com o mal do capitalismo.

Uma questão que é frequentemente discutida nas seções nerds da internet é: quem venceria em uma luta, Batman ou Superman? Homem de Ferro ou Capitão América? Thor ou Hulk? The Boys ao invés disso pergunta: super-heróis ou capitalismo? Responde definitivamente que este último venceria.

Neste mundo, os super-heróis são mercadorias como qualquer outra. Eles são de propriedade da cabeça aos pés por um monopólio multinacional, a Vought International, que vende os seus serviços para as cidades; suas imagens para os anunciantes; e seus direitos de filmagem para Hollywood – todos obtendo lucros maciços para seus acionistas no processo.

Enquanto nos filmes tradicionais os heróis se reúnem para derrotar um mal aterrador, em The Boys nós vemos um esquadrão de super-heróis conhecidos como “Os Sete” brigando pela partilha de seus lucros. Em The Boys, nossos super-heróis são a propriedade mais valorosa não por sua habilidade de luta contra o crime, mas pela sua habilidade de trazerem grandes riquezas.

Os Sete supostamente não param por nada em sua luta contra o crime. Mas a maioria dos momentos em que eles salvam o dia são truques de mídia cuidadosamente pré-arranjados, com equipes de câmeras profissionais de prontidão para capturar seus atos heroicos e aumentar as vendas de mercadoria.

Sistema podre

A clara injustiça que o capitalismo cria é demonstrada na nova personagem a se juntar aos Sete: Starlight.

No seu primeiro dia no emprego, Starlight é molestada sexualmente por outro super-herói, o Profundo. Apesar de seu poder superior (ela pode cegar as pessoas com a luz, enquanto ele somente pode falar com os animais), ela é forçada a se submeter à vontade dele, com medo de ser chutada para fora dos Sete e ficar sem emprego.

Esta é a realidade infernal que enfrentam muitas mulheres na indústria sob o capitalismo, e isto foi trazido a superfície pelo movimento #MeToo (“eu também”). Este não é o caso de uma ou duas maçãs podres, mas a própria estrutura da sociedade capitalista, que permite todo tipo de abusos dos ricos e poderosos contra as mulheres – particularmente das mulheres da classe trabalhadora – possa acontecer.

O poder dos monopólios

The Boys vai além disso. Apesar da mãe de Starlight ser uma mãe solteira, ela é completamente relutante a tomar qualquer ação contra Profundo, por causa do impacto nos lucros que isto criaria.

Ela e outra mulher que dirige a empresa até mesmo colocam uma roupa ridiculamente sexualizada em Starlight para aumentar os lucros, apesar de seus protestos. Os capitalistas essencialmente dizem para a super-heroína: “você pode vestir o que quiser. Mas se você quiser permanecer nesta companhia, você veste isto”.

Quando Starlight finalmente expõe a Vought International por suas práticas corruptas, ela é repreendida de antemão por outro super-herói: “Não f*** com o dinheiro”.

Nós vemos que as relações sociais sob o capitalismo não são baseadas no mérito, inteligência, gênero ou mesmo sua habilidade de voar. Pelo contrário, os que têm o real poder são aqueles que possuem os meios de produzir riqueza.

Em The Boys, nós vemos até mesmo um homem que pode correr mais rápido que a velocidade do som, e uma mulher que pode controlar o poder da luz, tremerem de medo dos monopólios e da classe capitalista.

Limites do capitalismo

E é com o personagem Capitão Pátria, porém, que os limites do capitalismo começam a ser expostos.

A segunda temporada mostra este personagem, projetado a partir do nascimento da Vought International, se voltando cada vez mais contra a companhia. Os chefes começam a perder o controle da mercadoria que eles produziram.

Para citar o Manifesto do Partido Comunista, a Vought International se tornou “o feiticeiro que não é capaz de controlar as forças do outro mundo que ele invocou com suas magias”.

Recentemente tem havido uma série de filmes e seriados que criticam o capitalismo. Com este, porém, os escritores de The Boys são, em última instância, incapazes de conceber qualquer outro sistema econômico.

A série mostra como nossa sociedade é dominada pelo dinheiro de todas as formas imagináveis. Mas no fim, falha ao questionarmos: qual é a alternativa?

A verdade é que a riqueza dos capitalistas não vem nem de armas nem de superpoderes, mas a partir do trabalho da classe trabalhadora. Assim que este poder é organizado e desencadeado, nenhuma força na Terra pode pará-lo, nem mesmo estes super-heróis criados em laboratório!

TRADUÇÃO DE JOSÉ GUTERRES

PUBLICADO EM SOCIALIST.NET