Foto: Marcos Corrêa/PR

Recuperação do governo Bolsonaro ou crise das direções?

No dia 13 de agosto, o Datafolha divulgou uma nova pesquisa, em que Bolsonaro chega a sua melhor avaliação desde o começo do mandato. Diante disso, é preciso responder uma questão crucial para a organização dos trabalhadores e da juventude para o presente período: estamos assistindo à recuperação do governo Bolsonaro ou sua nova popularidade é a expressão da crise das direções operárias e estudantis?

Desde a campanha eleitoral à presidência de 2018, os marxistas apontavam que a popularidade de Bolsonaro significava uma reação das massas trabalhadoras contra o sistema decadente e em crise. Por outro lado, diante desse quadro – construído com a crise mundial do capitalismo e com as traições políticas dos governos do PT e das demais direções operárias – setores da esquerda acusavam as massas de reacionárias, conservadoras e, até mesmo, fascistas.

A eleição de Bolsonaro, para essas direções, supostamente confirma suas análises da conjuntura nacional e internacional, desprovidas da ciência oferecida pelo marxismo para a compreensão da realidade e da atuação na luta de classes.

Contudo, a Esquerda Marxista, corrente interna do PSOL, e a Liberdade e Luta, compreendendo o caráter do governo Bolsonaro, que de antissistema nada possui, e visando organizar as massas trabalhadoras e a juventude, convocaram desde o início de 2019 a luta pelo Fora Bolsonaro.

Essa palavra de ordem sempre foi devidamente explicada em todas as nossas intervenções, defendendo que a retirada de Bolsonaro é a aniquilação de todo esse governo e não uma mera substituição pelo vice Morão ou pelos apelos parlamentares e jurídicos do Estado burguês. Ou seja, o Fora Bolsonaro significou, desde seu começo, a luta dos trabalhadores nas ruas, nas fábricas, nos demais locais de trabalho, nas escolas e universidades, como parte da luta por um governo dos trabalhadores.

Ao longo do último ano, em diversas oportunidades, a classe trabalhadora e a juventude foram às ruas armadas com o Fora Bolsonaro, mesmo com as direções sindicais e estudantis tentando barrar esse grito, como presenciamos muitas vezes. Essas direções diziam que não era a hora de exigir isso, pois não havia pessoas o suficiente para a luta, então era preciso conciliar. A velha desculpa dos reformistas e pelegos.

Porém, a juventude, sempre como a propulsora de ânimo para as massas trabalhadoras, passou por cima dessas traições e, dialeticamente, compreendeu que a luta contra os cortes na Educação – a pauta do momento – era a luta pelo Fora Bolsonaro.

No fim do primeiro ano de mandato, a popularidade de Bolsonaro já despencava, algo que se aprofundaria no começo de 2020. A crise econômica, o desemprego, a fome, a saúde e a educação destruídas, enquanto os banqueiros recebiam milhões de reais dos cofres públicos, colocou o Fora Bolsonaro na ordem do dia.

Todo esse contexto se agravou com a pandemia da Covid-19, fazendo a rejeição de Bolsonaro chegar a 44% em junho, segundo o Datafolha. Portanto, já não era possível que as direções sufocassem o Fora Bolsonaro, mesmo em meio à quarentena. Havia panelaço nas capitais diariamente, as redes sociais estavam em polvorosa e diversas atividades foram organizadas nesse sentido.

Obviamente, os partidos e organizações de esquerda adaptados à ordem do capital, que defendem esse regime com unhas e dentes, passaram, como autênticos oportunistas, a reivindicar o Fora Bolsonaro. Contudo, distanciam essa palavra-de-ordem das lutas concretas dos trabalhadores, imobilizando-a nos aparelhos do Estado e no Judiciário.

Papeladas no Congresso solicitando cordialmente o impeachment, buscas por crimes de responsabilidade de Bolsonaro, defesa da renúncia do presidente para que Mourão assumisse e até um Manifesto por uma Frente Ampla com partidos burgueses foi escrito. Tudo para conciliar e acertar as contas em defesa da “democracia” liberal.

Mas o apoio dos partidos da ordem e de alas da classe dominante contra Bolsonaro foi expressão das cisões existentes entre as diferentes frações da burguesia. Os que tentam se colocar como mais ilustrados e humanizados, em contraposição aos “irracionais” bolsonaristas, apertaram as mãos já estendidas das direções de esquerda.

Entretanto, quando Bolsonaro deu um passo atrás, atendendo os setores mais pragmáticos de seu governo, em grande medida, comandados por Paulo Guedes – por exemplo, deixando de enfrentar o STF ou afastando Abraham Weintraub do governo –, as frações burguesas antes ferrenhamente adversárias do governo, passaram a dialogar. Claro, pois os pacotes de austeridade do capital seguem sendo feitos por Guedes e o Congresso.

Assim, as direções de esquerda perdem espaço político em suas limitadas ações meramente institucionais. Chegam a exaltar alguns recuos de Bolsonaro e a debandada de ministros. Dão glórias às migalhas oferecidas pelo governo via Auxílio Emergencial, sem explicar o caráter disso. Por fim, as direções do PT, PCdoB, PSOL, PCB e seus braços pelos sindicatos e entidades estudantis assistem à falência dos processos criminosos cometidos pela família Bolsonaro. As ilusões pequeno-burguesas e reformistas vão se desmanchando no ar com a realidade.

Com as semanas e meses passando, mesmo com as mortes pela Covid-19 chegando a mais de 100 mil, houve um aumento da popularidade de Bolsonaro, resultado da reorganização do governo, com posicionamentos menos atrapalhados, pagamento do auxílio emergencial e, essencialmente, com a falência das direções operárias e estudantis.

A pesquisa Datafolha divulgada no dia 13, citada no início deste texto, aponta que 37% dos entrevistados consideram o governo Bolsonaro como “ótimo” ou “bom”. Sua rejeição caiu para 34%, enquanto 27% considera-o “regular”. Porém, no frigir dos ovos, esses números são de responsabilidade da atuação execrável das direções da esquerda, não de uma efetiva melhora do governo ou qualquer outro elemento.

A grande jogada de Bolsonaro e seu governo nada mais foi que seu recuo e, politicamente, sua aliança com o “centrão”, oferecendo cargos e verbas às velhas raposas.

Portanto, esse crescimento é produto da total ausência de oposição ao governo, que convoque os sindicatos e as entidades estudantis à luta, que defenda a palavra de ordem pelo Fora Bolsonaro! Por um Governo dos Trabalhadores, sem patrões nem generais!

Isto é, na prática, um mar calmo para Bolsonaro navegar até o fim de seu mandato com o Judiciário ditando as regras e para que os ataques contra a classe trabalhadora e a juventude, que morrem aos milhares diariamente, continuem passando.

É possível que as direções reformistas e pelegas retirem da gaveta os ataques aos trabalhadores, chamando-os de conservadores e fascistas, responsabilizando-os por uma certa estabilidade do governo. Contra isso, devemos efetivar uma tarefa fundamental: colocar o Fora Bolsonaro no centro da mobilização e organização de nossa classe.

Com a aproximação das eleições, precisamos explicar o papel que os comunistas exercem nesses momentos da vida política nacional. Ou seja, denunciar o Estado burguês e seus processos eleitorais que se autoproclamam democráticos, mas que em nada representam as necessidades dos trabalhadores e jovens.

Usar esse momento como um grande megafone para explicitar o Programa Emergencial para a Crise no Brasil, onde toda a produção e organização social seja destinada para a superação da miséria em que vivemos, agudizada pela pandemia da Covid-19. É preciso exigir e realizar a independência da classe, rompendo com todos os setores da burguesia que possam se colocar contra Bolsonaro.

Isso significa colocar toda nossa disposição e energia para esses combates, para além das urnas e da ordem estabelecida.

Referência

Folha de S. Paulo. Aprovação a Bolsonaro sobe e é a melhor desde o início do mandato, diz Datafolha. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/08/aprovacao-a-bolsonaro-sobe-e-e-a-melhor-desde-o-inicio-do-mandato-diz-datafolha.shtml?origin=folha>. Acesso em: 18 ago. 2020.