Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Quando a repressão não basta? Intervenção!

A intervenção federal por meios militares no Rio de Janeiro continua liberando sua cortina de fumaça para as contradições sociais, com apoio da grande mídia monopolizada. Assim como a classe dominante de uma época não consegue pensar em soluções para conflitos sociais que possam ameaçar no futuro o seu próprio posto de comando, a mídia controlada por essa classe é cega para suas reportagens passadas se elas trazem acontecimentos que ameacem o motivo de sua existência, que é legitimar e defender seus sponsors (patrocinadores). Todos os documentos oriundos de atuações passadas das forças armadas no Rio de Janeiro demonstram o fracasso da bandeira que levantam. Sendo assim, a intervenção mostra uma atitude desesperada, que evidencia a falta de opções da burguesia e de seus governantes em reerguer a Nova República, que não para de se fragmentar. Os que mais sofrem com essa guerra são principalmente jovens em plena idade produtiva, majoritariamente negros e pobres moradores de favelas.

É fácil perceber que nas favelas e em bairros pobres e proletários a participação ilegal do Estado na manutenção dos grupos de traficantes e milicianos armados despóticos é um pesadelo sem fim para seus moradores. Nesse sentido, tanto o tráfico, a milícia, a polícia ou o exército fazem parte de um mesmo aspecto objetivo: apesar de nem sempre comporem a mesma instituição e terem fontes de sustento distintas, umas mais impostas que outras, nenhum desses grupos existe para defender ou proteger o povo (a maioria) contra uma minoria que age somente em busca do próprio prazer, como diria Rousseau sobre o “contrato social”. Alguns grupos se proclamam abertamente como defensores do povo. Contudo, em nenhum deles o povo pode participar democraticamente, com exceção da participação enquanto obstáculo ou destino para os projéteis das armas de fogo. Mas por quê?

Atrás da cortina de fumaça está a negação do que defendeu Rousseau. Todos estes recursos (milícia, tráfico, polícia, exercito) são usados como saídas, mais ou menos deliberadas ou desesperadas, para manter o controle de uma minoria sobre a maioria. Tendencialmente, onde há maior pobreza haverá também mais contradições e indignados contra o sistema. Sabiamente, a burguesia patrocina seitas, ONGs e empresas para que se expandam nestes locais e nutram esperanças para além da vida (religião) ou em saídas “empreendedoras”; já que a esperança real para a vida é derrubar este sistema. Quando nem isso é suficiente, bastou criar e nutrir uma guerra que arrancasse apoio da pequena burguesia reacionária e do proletariado atrasado melhor remunerado. Mas nem isso vem bastando. Eis que surge a intervenção: uma mostra de poderio bélico do Estado burguês e de desespero da classe que o controla, já que não há hoje força humana organizada mais potente em uma sociedade burguesa que as forças armadas. Eis que mais corpos de jovens favelados então “aparecem”, sem vida.