Repressão policial no RJ em 28/4

Qual o sentido da repressão policial no Rio de Janeiro?

A classe trabalhadora, principalmente seu setor mais jovem, foi para as ruas em massa no dia 28 de abril para lutar contra as contrarreformas trabalhistas e previdenciária a partir de uma Greve Geral convocada pelas centrais sindicais. Logo após a demonstração de força no dia 15 de março e de recuos do presidente Michel Temer, revelando a fraqueza do governo, a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ) decidiu mostrar no dia 28 de abril seu ódio de classe. As caríssimas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral (cada uma custando por volta de R$1.000) foram arremessadas às centenas para todos os lados, inclusive no palco construído na Praça da Cinelândia – a intenção era claramente acertar quem estava lá.

Uma noite de protesto onde era possível ver trabalhadores de todas as idades, categorias e cidades do Estado, transformou-se em uma noite de horror coordenada pela PMERJ como não era vista desde 2013. Nenhum pequeno grupo esquerdista ou terrorista individual justifica a implosão do protesto pelas forças policiais. Não foi apenas isso, e o momento seguinte provou! Após a dispersão do ato começou uma verdadeira caçada que obrigou as pessoas a se refugiarem em estabelecimentos, prédios, ou onde pudessem. Veja abaixo dois vídeos do que aconteceu no Centro do Rio de Janeiro:

Video 1: https://www.youtube.com/watch?v=cvEiMATCFB4

Video 2: https://www.facebook.com/ruajuventudeanticapitalista/videos/776692985831313/?hc_ref=PAGES_TIMELINE

É claro que para a repressão política seletiva o governador Fernando Pezão há dinheiro, mas para pagar salários dos servidores e sustentar educação e assistência social básica de milhões de pessoas é diferente. A morte em filas de hospitais públicos e o desmonte de escolas e universidades (como é o caso da UERJ) é justificável para Pezão. E os milhões gastos em bombas entregues na mão dos cachorros loucos da PMERJ? Dia 28 entrará para a história como uma virada nos ânimos das massas. A palavra de ordem “Abaixo a repressão!” está de volta para aos protestos de rua.

Não podem haver passos para trás. A resposta das organizações sindicais, principalmente da CUT, deveria ser mais firme para manter a continuidade das greves e as ruas cheias.  Focar na defesa da candidatura de Lula em 2018 é desmobilizar. Não é isso que abalará o sistema, e Lula vem demonstrado sua submissão à burguesia e aos bancos. É preciso colocar para fora o Temer e o Congresso Nacional, e nesse sentido precisamos organizar um ENCLAT (Encontro Nacional da Classe Trabalhadora).  É preciso dar palavra à base, é preciso dar à base o direito de decidir o seu próprio movimento numa organização que reúna todos os sindicatos, as centrais, todos os movimentos sociais e decida o que fazer para botar pra fora Temer e o Congresso, barrando as reformas e finalmente avançando na luta – avanços travados há muito tempo pela prioridade dada às reformas parlamentares por amplos setores da esquerda.

Mas estar nos atos de rua no Rio de Janeiro hoje demanda participação organizada. Organizações políticas e sindicatos devem se organizar para proteger os manifestantes durante o deslocamento e o reagrupamento diante dos ataques da polícia, assim como para denunciar qualquer truculência e ataque às liberdades democráticas.

O aumento da repressão só é a demonstração do desmoronamento da Nova República. Se Temer não tem apoio das massas, Pezão tão pouco. O Rio de Janeiro hoje é a maior evidência da decadência da democracia bastarda e corrupta. A repressão policial não é nova na história do estado, muito menos no Rio de Janeiro. Junho de 2013 foi apenas um aviso para o que estaria por vir.

Não é possível derrubar a máquina policial do Estado Burguês pelo terrorismo individual. A quebra de vidraças, placas e estabelecimentos comerciais por jovens durante protestos certamente não é a origem da repressão policial. Mas tais ações dão justificativa para o monstro da repressão e a má fé da mídia burguesa.

A luta de classes no Brasil está chegando em um novo estágio. O modelo ato-festividade coordenado pelas direções sindicais oportunistas está se esgotando. A repressão do Estado não permite mais uma estrutura fixa nos protestos e desmascara a representatividade burguesa ao mostrar a real face do Estado: uma máquina especial de repressão. É preciso superar as ilusões com o velho Estado e organizar a rebeldia, incentivando assim que os trabalhadores criem seus próprios organismos deliberativos, pela base.

Numa acepção teatral, é esse o sentido da repressão policial: quando um novo mundo espreita atrás das cortinas, atacar todos aqueles que olham para o palco é uma medida preventiva imposta pelos dominadores do velho mundo. Compreensível, afinal, se esse novo mundo conseguir colocar alguns de seus personagens em evidência no palco da luta de classes, vivemos uma situação política que favorece cada dia mais, e em grande velocidade, uma identificação de massas com os atores. Quando o novo mundo contagiar a plateia para que também suba ao palco e se torne atora e autora de sua própria história, os soldados do velho mundo tremerão e se dividirão… estaremos diante de uma situação revolucionária que trará junto com ela a parteira do socialismo!