O fracasso da Educação a Distância no Paraná

O estado do Paraná conta com 1.073.310 estudantes matriculados e 45.576 professores, 7,4 pedagogos, 4,2 mil diretores e 5,6 mil afastados por diversos motivos1. Ratinho Junior (PSD), junto com seu secretário de educação (Renato Feder), foi um dos primeiros governadores a adotar a Educação a Distância (EAD) durante o período de suspensão das aulas presenciais devido ao coronavírus. Para colocar seu plano em marcha, instituiu basicamente quatro plataformas de trabalho, são elas: a) Aplicativo Aula Paraná; b) Google Classroom; c) Transmissão de aulas por meio de canais de TV; d) Aulas gravadas disponibilizadas no Youtube. Abaixo apresentamos uma avaliação geral de cada uma das plataformas e os motivos pelos quais consideramos que a EAD em geral e no estado do Paraná, em particular, converteu-se em um fracasso e em um mecanismo que restringe ainda mais o direito da juventude à educação.

Aplicativo Aula Paraná

Este deveria ser um dos instrumentos utilizados pelo governo do Paraná para efetivar a comunicação entre professores e estudantes via chat durante a aula expositiva. Até o momento, o aplicativo foi baixado em um pouco mais de 500 mil aparelhos. Ou seja, metade dos professores e estudantes baixou o aplicativo. Após alguns dias de uso, o aplicativo demostrou problemas que, segundo a Secretaria Estadual de Educação (SEED), seriam gradativamente resolvidos. Desses, 10.410 avaliaram o aplicativo atribuindo nota média de 2,4, em uma escala que vai de 1 a 52.

Além dos problemas de funcionamento, o aplicativo possui um sério agravante. Os termos de uso permitem acesso ao histórico de navegação, tempo de uso em cada site, geolocalização, entre outros. O aplicativo foi criado pelo mesmo desenvolvedor da plataforma MANO, utilizada pela família Bolsonaro com a finalidade de difundir suas posições e driblar os limites impostos por whatsapp, etc. 

Para teoricamente suprir as debilidades do aplicativo “Aula Paraná”, a SEED introduziu o Google Classroom como instrumento paralelo para comunicação entre a Secretaria de Educação, professores, estudantes e postagem de atividades; tornando-se, no desenvolvimento do processo, a ferramenta oficial para aferir presença de estudantes e, possivelmente, de professores.

Google Classroom

De acordo com a APP-Sindicato, menos da metade dos estudantes (402 mil) se cadastraram nesta plataforma que, atualmente, é a principal ferramenta utilizada pelo governo do estado. Dos 63 mil profissionais, apenas 41 mil (65%) conseguiram se cadastrar e acessar o Google Classrooom3. Além disso, constata-se um baixíssimo retorno das atividades propostas por múltiplos motivos, que vão da baixa qualidade dos equipamentos utilizados pelos estudantes até o desinteresse ou abandono produzido pela dificuldade de acompanhar as aulas. Não temos números detalhados sobre isso, mas a experiência prática e os relatos dos professores evidenciam isso. Em uma pesquisa realizada por professores do Paraná, 61, 9% afirmam que o retorno dos estudantes não chega a 10%. Para tentar de forma burocrática e autoritária reverter este quadro e aumentar a participação, o governo do estado determinou que os estudantes que não entregarem atividades devem receber falta, o que, pode produzir o efeito contrário, ou seja, um aumento ainda maior da evasão escolar e, portanto, do impedimento do acesso da juventude à educação. 

Além das situações relatadas, a SEED tem utilizado “Robôs” para enviar atividades aos estudantes em nome dos professores, sem o consentimento dos mesmos, inclusive em horários inoportunos como finais de semana e madrugada, o que tem gerado indignação de professores, estudantes e pais.

Transmissão de aulas por meio de canais de TV

A SEED disponibiliza aulas gravadas, transmitidas por meio de alguns canais de televisão. O governo do estado repassou R$ 2,7 milhões para RIC (Record) transmitir as aulas. Porém, a emissora não possui sinal em 114 dos 399 municípios4. Não temos dados sobre o número de estudantes que acompanham as aulas pela televisão.

YouTube

A SEED também disponibiliza as mesmas aulas gravadas no youtube. No canal do youtube, existem 285 mil inscritos5. O número de visualizações em cada uma das aulas é extremamente baixo e apresentam uma tendência decrescente. Quanto às aulas, há diferentes problemas técnicos que vão desde a dificuldade de leitura dos slides por parte dos estudantes, quanto à qualidade do som. Os questionamentos pedagógicos também são válidos, como conteúdos inadequados para a idade/série/ano, conforme próprio currículo proposto pela mantenedora, falta de organização de sequência lógica dos conteúdos e as aulas seguintes, tempo de trabalho para explicação de cada conteúdo, etc. 

Gastos do governo do estado

Os gastos sem licitação realizados pelo governo do estado do Paraná ultrapassam R$ 22,1 milhões6. A maioria dos recursos vai para empresas de telefonia (R$ 20,9 milhões) para que os estudantes tenham acesso ao aplicativo Aula Paraná e Google ClassRoom. O restante é destinado a canais de TV que transmitem as aulas. 

Sobre os trabalhadores em Educação

Os professores estão sendo submetidos a um trabalho desgastante, burocrático e sem eficácia, tendo que exercer uma carga horária que, muitas vezes, ultrapassa a jornada normal de trabalho. Não bastasse isso, o governo do estado publica uma resolução que obriga os professores, caso convocados pelas direções, a realizarem trabalho pedagógico nas escolas em plena pandemia, além de ameaçar constantemente os trabalhadores temporários (PSS) de demissão.

Outras ações estão na agenda do governo, entre elas, o corte do auxílio transporte recebido em dinheiro e que possui o caráter de uma complementação salarial; e um projeto de lei que visa acabar com a função de funcionário de escola, com o objetivo de terceirizar o trabalho futuramente.

Conclusão

A EAD implementada pelo governo do estado do Paraná é um rotundo fracasso na medida em que cerceia ainda mais o acesso à educação e aprofunda as desigualdades. Isso ocorre, dentre outros motivos, porque o governo do estado ignora que: a) um número expressivo de professores e estudantes não possuem celulares, computadores e até televisores por questões diversas; b) muitos que têm acesso a celulares e computadores, possuem equipamento obsoleto incompatível com os aplicativos disponibilizados; c) muitos lugares não conseguem captar a transmissão de televisão e internet; d) muitas famílias que possuem os equipamentos precisam compartilhá-los entre os diferentes membros da família (a mesma televisão, celular e computadores); e) muitos professores e estudantes não dominam o uso das tecnologias; f) o ambiente familiar de uma quantidade expressiva de crianças e jovens é inadequado para o estudo; g) os estudantes maiores, em muitos casos, precisam cuidar do irmão mais novo enquanto os pais trabalham neste período, o que dificulta o estudo; h) existe o problema “do tempo de tela”. As crianças e adolescentes não possuem condições de manter a concentração por muito tempo sem que exista interação e acompanhamento.  

Os trabalhadores em educação e estudantes precisam denunciar a EAD e abrir uma perspectiva de luta para defender suas vidas e seus direitos. É nesse sentido que a Esquerda Marxista apresenta uma Plataforma Emergencial para crise, que busca conectar as necessidades mais sentidas dos trabalhadores e jovens com a luta pelo Socialismo, única saída viável para o conjunto da humanidade. Abaixo elencamos as reinvindicações que fazem parte da nossa plataforma de luta para educação! Junte-se a nós neste combate!

  • Fim do Enem! Vagas para todos nas universidades públicas!
  • Todo estudante deve passar direto para a universidade este ano! Todo estudante deve receber seu diploma no final do curso! Que a burguesia pague pela crise, não os jovens!
  • Educação pública, gratuita e para todos, da creche à pós-graduação.
  • Revogação da Reforma do Ensino Médio!
  • Tecnologia para o ensino SIM! EAD Não!
  • Garantia de todas as condições para que todos os estudantes possam continuar seus estudos!
  • Os estudantes não vão pagar pela crise! Suspensão da mensalidade já! Federalização das universidades privadas!
  • Fora Escola Sem Partido! Abaixo a lei da mordaça!
  • Os professores e servidores não vão pagar pela crise! Garantia de todos os direitos e manutenção dos salários dos professores e servidores! Não ao sobretrabalho!
  • Contratação imediata de novos servidores!
  • Efetivação de todos os professores com contratos temporários e sucateados!
  • Não ao pagamento da dívida, todo dinheiro necessário aos serviços públicos!
  • Em defesa da educação pública, gratuita e para todos!
  • Revogação da Reforma da Previdência!
  • Revogação da Emenda Constitucional do Teto dos Gastos!
  • Abaixo o capitalismo! Fora Bolsonaro, por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!

Notas e Referências:

1 <http://www.consultaescolas.pr.gov.br/consultaescolas-java/pages/templates/initial2.jsf;jsessionid=ja1Lpx4SR-R77RN2f1O7HW4jbJckv8tjW4HE6H6l.sseed75003?windowId=10d>

2 Verificado em 11/05/2020.

3 <https://appsindicato.org.br/ead-exclui-60-dos-estudantes-feder-e-ratinho-comemoram/>

4 <https://appsindicato.org.br/tv-contratada-por-ratinho-para-ead-nao-tem-sinal-em-114-municipios-do-parana/>

5 Verificado em 11/05/2020.

6 <https://appsindicato.org.br/sem-licitacao-ratinho-torra-mais-de-r-221-milhoes-para-implantar-ead-que-nao-funciona/>