O fantasma da revolução ronda o mundo – Parte 5

Quinta parte de artigos de fundo sobre a situação econômica e política no Brasil e no Mundo.

Concluímos aqui a publicação de uma série de 5 artigos da Esquerda Marxista sobre a situação econômica e política do Brasil e do mundo, com o objetivo de ajudar na compreensão da época em que vivemos e as decorrentes tarefas dos revolucionários. Escritos em Janeiro de 2008, estes artigos continuam absolutamente atuais e, como poderá se comprovar, estão plenamente confirmados pela marcha dos acontecimentos.

V: PERSPECTIVAS E TAREFAS DA ESQUERDA MARXISTA

Os altos níveis de popularidade de Lula estão baseados nesta situação política e econômica de conjunto (examinadas nos artigos anteriores). E toda ação da oposição burguesa não é mais que atacar a maquiagem buscando preservar as instituições e preparar o futuro para o momento de novas disputas eleitorais.

Esta situação poderá ser alterada bruscamente, quando a crise que se desenvolve internacionalmente atingir seu pico e pegar de cheio o Brasil, podendo fazer entrar em cena, poderosas e grandes mobilizações de massas. Obviamente não podemos prever os ritmos e prazos nos quais se desenvolverá esse cenário. Porém, enquanto essa situação não se precipita o governo Lula seguirá com sua popularidade e com certa calmaria.

Por isso não se podem prever grandes mobilizações de massa ou greves de massa no próximo período. Mas, se o governo Lula se beneficia deste conjunto para aprofundar as privatizações e a entrega do Brasil ao capital internacional, como está fazendo e pretende continuar, isto prepara uma reacomodação das forças da classe para um período posterior onde tudo será questionado. A ruptura da bolha de crédito, a crise mundial de superprodução que se aproxima, o aprofundamento dos sofrimentos das massas exploradas, tudo isso vai deixar o governo Lula e seus defensores nus e na rua. É para esta situação que é preciso se preparar, sabendo que nada está previsto para acontecer no curto prazo. Tudo depende de acontecimentos e circunstâncias, do desenvolvimento da força das leis que regem a economia capitalista e de ações políticas nacionais e internacionais que o proletariado conseguir empreender.

A perspectiva, portanto para o próximo período imediato é de um desenvolvimento relativamente “pacífico” e relativamente “controlado” da luta de classes de massa. Na presente situação, em que convivem revolução e contra-revolução, é provável que no próximo período ocorram radicalizações de vanguarda ao mesmo tempo em que uma crescente desilusão, e mesmo rupturas de amplos setores e camadas dos trabalhadores com o governo e com a direção do PT.

Mesmo que haja uma radicalização de setores de vanguarda e uma crescente desconfiança, desilusão e mesmo rupturas, de amplas camadas dos trabalhadores com o governo Lula e a direção do PT, perder ilusões não quer dizer entrar em combate. Lula e a maioria da direção do PT trabalham para desmoralizar os militantes e a classe trabalhadora tirando-lhes qualquer perspectiva de classe e de luta pelo socialismo.

Mas, uma coisa é certa. As massas não foram derrotadas e convivem com uma situação revolucionária de conjunto na América Latina, e podem ser levadas a um movimento de “transbordamento” do controle das direções se o governo e o Congresso insistem em aprovar as duas Reformas propostas, a Previdenciária e a Trabalhista. Aí se concentram questões explosivas que tocam diretamente a vida da classe operária.

Ao mesmo tempo temos uma situação econômica especial, onde a economia brasileira recebe injeções maciças de capital produtivo e de certa maneira “troca de pele” (transformando-se em Plataforma agro-mineral). No campo, a face mais visível deste aspecto é a mecanização acelerada para o agro-negócio, provocando desemprego rural e concentrando terras ao mesmo tempo em que amplia a contratação de mão de obra especializada – mecânicos, tratoristas, etc. O investimento aumenta também na produção mineral, com aumento das fábricas de processamento do mineral bruto, campos de exploração petrolífera e gás (inclusive com a possibilidade de o Brasil passar a ser exportador de petróleo), refinarias, etc.

Esta situação contraditória permitirá e impulsionará muitas lutas operárias e populares, mesmo que inicialmente localizadas, por melhorias salariais e outras reivindicações. O que significa que haverá um terreno para construção da Esquerda Marxista na luta de classes diretamente na classe operária fabril, industrial. É nossa tarefa principal explicar esta complexa situação para os trabalhadores e jovens mais avançados.

Esta situação exige uma tática política clara que permita a qualquer trabalhador identificar facilmente a Esquerda Marxista e se identificar com ela. Este é o sentido da exigência que Lula e a direção do PT rompam com a burguesia liquidando o governo de coalizão, expulsando o imperialismo e atendendo as reivindicações. Assim como um aprofundamento da construção da Esquerda Marxista através da formação política e teórica dos militantes, da divulgação das idéias do verdadeiro marxismo e da luta pela revolução socialista em todo o mundo.

A luta contra a capitulação ao capitalismo é a luta pela construção da organização revolucionária

Com o governo de Coalizão e a capitulação programática explicita do III Congresso do PT, uma batalha pelos militantes honestos está aberta. Mas, se esta disputa é importante, e em alguns locais mais que em outros, é na intervenção direta na luta de classes e junto com os trabalhadores e com a juventude que reuniremos as forças capazes, inclusive, de influenciar estes velhos militantes ou quadros do PT.

Na atual situação podemos afirmar com segurança que só uma reativação da luta de classes, manifestações e greves de massa, choques econômicos e políticos com o governo farão despertar esta camada de militantes petistas que está hoje desmoralizada ou desorientada. E que ainda tenta se agarrar na única coisa que vê à sua frente, seus dirigentes históricos e o partido fruto de tantas lutas.

Enquanto intervém na luta de classes, a Esquerda Marxista denuncia esta capitulação programática da direção do PT aos capitalistas, com dados e fatos. E explica aos trabalhadores que esta posição leva ao desastre e à destruição do PT como partido de trabalhadores, abre a via da liquidação dos sindicatos e da CUT, como organismos de frente única e de luta dos trabalhadores. Esta política dá permissão para que a burguesia retire todas as conquistas e direitos duramente arrancados pela luta de classes.

A luta contra a Barbárie

A política de destruição dos direitos sociais levou ao aprofundamento da miséria e da criminalidade nos bairros populares das grandes cidades em todo o Brasil. Isto se amplia agora com a mecanização do campo. O tráfico e a criminalidade ocupam os bairros populares. Se até o começo dos anos 80 havia a imagem do “bom bicheiro” ou do “bom traficante”, isto acabou. O narcotráfico funciona como qualquer empresa capitalista. Caminha de um patamar inicial onde vende a mercadoria por um valor alto, num mercado que se desenvolve, para uma situação “normal de produção”. A normalização traz os “impostos” cobrados pela Polícia (subornos mensais ou semanais), onde o valor salarial dos “soldados” do tráfico iguala-se com os valores salariais das parcelas mais desqualificadas da classe operária. O resultado é o aumento da violência nas cidades de forma geral, onde as armas do tráfico são usadas para assaltos comuns, onde a violência nos bairros populares explode, onde os “donos” das favelas passam a cobrar “impostos” sobre gás, transporte e outros serviços públicos, controlam diretamente a TV a cabo, eletricidade, etc.

A burguesia utiliza esta situação para uma “fascistização” das relações sociais, em virtude da crise que se aproxima (olhando a largo prazo). A “permissão” dada a PM para matar na crise do PCC de SP, a ação do BOPE nos morros do Rio, as “milícias” de policiais que “expulsam” o tráfico e passam a controlar o gás, transporte, TV a cabo, etc., mostram a decomposição mafiosa e policial-militar da sociedade capitalista. Para a burguesia, neste momento, trata-se de aprofundar a repressão legal.

Outro aspecto, e conseqüência imediata desta situação, é o aprofundamento da “Criminalização dos Movimentos Sociais”. Exemplos disto são os ataques judiciais contra os dirigentes das fábricas ocupadas, os ataques contra os metroviários de SP, contra os dirigentes e militantes do MST. Mas, também as ameaças de morte do comando da PM de SC a um dirigente sindical da Esquerda Marxista, os processos pessoais de um juiz do Trabalho contra uma dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Justiça do Trabalho, de SC, por causa de uma greve, todos falando em “formação de quadrilha e bando”. E em Joinville a condenação em primeira instancia do camarada Vereador Adilson Mariano, do PT, por liderar protestos juntamente com os estudantes contra o aumento abusivo da passagem de ônibus na cidade e por sua atuação ao lado das fábricas ocupadas.

Um lugar especial deve ocupar esta luta contra a chamada “Criminalização dos Movimentos Sociais”. Trata-se da tentativa de substituição da luta política pela luta judicial, ou seja, pela transformação dos movimentos sociais em “casos de polícia”. O que está sendo questionado pela burguesia é o direito democrático de luta de classes, de organização sindical, política da classe trabalhadora, o direito às liberdades democráticas de reunião, manifestação e organização. E no caso dos processos contra dirigentes é o questionamento da democracia do mandato, pois os dirigentes eleitos têm um mandato e à sua base devem obedecer e prestar contas, não ao judiciário. E é deste ponto de vista que a classe operária deve enfrentar a questão denunciando os juízes e instituições que buscam se utilizar de instrumentos judiciais criminais para resolver e impedir a luta de classes.

Assim, ao mesmo tempo, cada dia fica mais claro para amplas camadas dos trabalhadores que o judiciário é um instrumento de dominação da burguesia sobre a classe trabalhadora e que sempre que podem os juizes simplesmente ignoram nossas conquistas de classes inscrustradas na legislação pela luta das ruas.

Esta atitude do judiciário é permitida e incentivada pela política e pelas atitudes do governo Lula de colaboração de classes (sustentação da burguesia contra a classe trabalhadora) e demonstra, de fato, um passo a mais de afundamento na barbárie a que a sociedade capitalista empurra a humanidade.

É neste contexto que ocupou um lugar importante o “Tribunal Popular Nacional para Julgar a Intervenção na Cipla e Interfibra”, realizado em 06 e 07 de julho de 2008, em Joinville, SC. Este Tribunal adotou ,medidas de continuidade da campanha contra a intervenção e reuniu as denúncias de criminalização de movimentos fazendo ecoar nacional e internacionalmente o que se passa no Brasil sob a batuta e o acordo do governo Lula e seus ministros. Todas as suas decisões estão sendo divulgadas e foram entregues ao governo Lula, ao Senado e à Câmara de Deputados.

Nesta luta pelas liberdades democráticas e em defesa de nossas organizações, de nossas lutas, os métodos utilizados sempre devem ser os métodos da luta de classes pelo socialismo. É preciso explicar aos trabalhadores mais amplamente que esta situação deriva da decomposição social do capitalismo e que só a revolução socialista pode interromper este vulcão de sofrimento, sangue e lágrimas em que se transformou a vida da maioria da Humanidade.

Nesta luta é absolutamente necessário combinar a agitação com a propaganda, sob pena de deslizar sobre o programa e se adaptar à “luta pela democracia”, que une todos os que abandonaram a luta pelo socialismo assim como os que não reconhecem, ou abandonaram, a teoria da revolução permanente. Dito de outra forma, todos os que têm ilusões de que é possível reformar ou dar face humana ao capitalismo ou que é possível fazê-lo recuar sem a revolução proletária e sua ameaça. Estes são os renegados do socialismo. A Esquerda Marxista luta contra a “Criminalização dos Movimentos Sociais” como parte integrante de sua luta pela revolução e pelo socialismo.

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