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O caso de Moïse Kabagambe e a barbárie capitalista

“Coberta de ignomínia, chafurdando em sangue, pingando imundície – assim se apresenta a sociedade burguesa, assim ela é. Ela se mostra na sua forma nua e verdadeira não quando, impecável e honesta, arremeda a cultura, a filosofia e a ética, a ordem, a paz e o Estado de direito, mas como besta selvagem, anarquia caótica, sopro pestilento sobre a civilização e a humanidade” (Rosa Luxemburgo)

Na terça-feira (25/01), Moïse Kabagambe, um imigrante do Congo, foi assassinado de forma brutal, sendo amarrado e espancado até a morte. O caso ocorreu no Rio de Janeiro, próximo ao posto 8 da praia da Barra da Tijuca após o jovem de 25 anos cobrar o valor equivalente a duas diárias de serviços prestados ao estabelecimento em que trabalhou. Algo em torno de R$ 200, segundo o relato de parentes.

O que era para ser uma situação simples de um trabalhador recebendo por seu trabalho acabou virando uma grande tragédia. O que mais espanta é a brutalidade da reação. Afinal, o congolês foi agredido com porretes e amarrado, mesmo quando não podia mais reagir.

Os envolvidos no crime alegaram estar socorrendo o responsável do estabelecimento em meio a toda confusão que se criou e, de acordo com um deles, não havia a intenção de tirar a vida do jovem e a agressão não teria sido fruto de racismo ou xenofobia. Inclusive, alguns dos agressores também eram negros. Mas, a verdade é que Moïse Kabagambe não receberia esse tratamento se fosse um jovem branco e rico da Barra da Tijuca. O racismo, a xenofobia e outras formas de discriminação são armas tão sofisticadas na sociedade capitalista que colocam os explorados uns contra os outros.

Moïse veio como refugiado em 2011 para o Brasil, fugindo dos conflitos armados que ocorrem na República Democrática do Congo há décadas, isto é, da barbárie que assola seu país de origem, e foi morto aqui pelo simples fato de querer receber por seu trabalho.

Devemos exigir uma investigação e os culpados precisam ser penalizados. Entretanto, é preciso compreender que esta ação é produto da barbárie a qual a crise do capitalismo está nos levando. As cenas, que são de embrulhar o estômago de qualquer ser humano, infelizmente não são novidade. Situações bárbaras como a de Cláudia da Silva Ferreira sendo arrastada por uma viatura da Polícia Militar do RJ, em 2014, ou da jovem estuprada em seu local de trabalho, em 2020, entre tantas outras que poderíamos citar, são corriqueiras nos noticiários e no dia a dia dos bairros proletários brasileiros.

O capitalismo há muito que deixou de desempenhar um papel progressista, e se converteu num monstruoso obstáculo para o desenvolvimento da humanidade. A crise mundial do capital é um reflexo do desenvolvimento das forças produtivas que é travado pela camisa de força da propriedade privada e do Estado nacional. Marx assinalou que no capitalismo a espécie humana possui dois caminhos, o do socialismo ou da barbárie. É evidente que “(…) sob a fina camada de cultura e civilização modernas, há forças que se assemelham à pior das barbáries”, o assassinato de Moïse é a prova disso, e não podemos fechar os olhos diante do fato de que “as normas civilizadas podem-se romper facilmente e os demônios do passado podem ressurgir (…). Sim, a história conhece uma linha ascendente e outra descendente!”. (Civilização, barbárie e a visão marxista da história, Alan Woods)

Em diversas partes do mundo os imigrantes acabam sofrendo com os piores empregos, afinal, a sua condição de refugiados os empurra a aceitar qualquer trabalho para sobreviverem.

A fome tem levado a classe trabalhadora ao desespero, de aceitar qualquer emprego e de estar disposto a fazer de tudo para sobreviver. A prostituição, por exemplo, aumentou na pandemia assim como a quantidade de jovens que vendem fotos sensuais.

Hoje foi Moïse, um negro, mas, em breve, pode ser qualquer outro trabalhador, que será agredido e morto por cobrar o mais básico de seus direitos, que é receber pelo suor de seu trabalho.

Não podemos aceitar que a humanidade se afogue na barbárie, por isso, a solução é organizar o nosso ódio. Manifestações já foram convocadas nas capitais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais para pedir por justiça por Moïse e devemos participar desses protestos. É preciso fazer uma luta contra o governo Bolsonaro, que atua de mãos dadas com as forças de repressão e com os patrões, o que faz com que cada vez mais uma massa maior de pessoas trabalhe por migalhas e passem por todo tipo de humilhação para sobreviverem e sustentar suas famílias. A única saída é um governo dos trabalhadores em que os direitos conquistados a tanto custo por nós sejam garantidos, que todas as contrarreformas sejam revertidas e que haja uma escala móvel de salários, garantindo uma vida digna para os trabalhadores. De modo que os patrões paguem por sua crise e não os trabalhadores.

As condições para o socialismo estão mais que maduras. Uma nova sociedade precisa ser construída, erguida sobre os valores da igualdade, fraternidade, liberdade e da camaradagem. O capitalismo só pode nos oferecer uma sociedade com uma moral bestializada, em que cada trabalhador veja o outro como inimigo, quando os verdadeiros inimigos são aqueles que nos obrigam a trabalhar e não nos pagam o que nos é de direito.

  • Queremos justiça para Moïse! Que todos os envolvidos paguem por seus crimes!