Foto: Alan Santos/PR

O agro faz pobres e Paulo Guedes também

Artigo publicado no jornal Foice&Martelo Especial nº 18, de 29 de outubro de 2020. CONFIRA A EDIÇÃO COMPLETA.

A alta inflacionária dos alimentos e o impacto sobre os trabalhadores

Quem cumpre a tarefa semanal ou mensal de comprar os produtos que comporão sua alimentação e da família tem experimentado na prática o quanto seu esforço diário das horas de trabalho tem sido sistematicamente desvalorizado, para se dizer o mínimo. E isso se faz verificar na taxa de inflação: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo da primeira quinzena mensal (IPCA-15)1 registrou 0,94%, a maior taxa para o mês de outubro desde 19952 e a maior alta mensal desde dezembro do ano passado3.

Entre os preços monitorados pelo IBGE para o estabelecimento do IPCA estão exatamente os produtos que compõem a cesta básica dos brasileiros. Entre eles estão o arroz, o óleo de soja, leite longa vida (de “caixinha”), as carnes e um velho conhecido de outros momentos de instabilidade política do país: o tomate. E estes poderiam ser chamados os “grandes vilões” do aumento da taxa e, consequentemente, pela inflação. Entre os mais malvados da “gangue”, o óleo de soja, o arroz e o tomate são os destaques com, respectivamente, aumentos de 22,34%, 18,48% e 14,25%, de acordo com os dados do IBGE. Contudo, mesmo as carnes vêm apresentando um aumento em outubro bem inferior aos demais “comparsas”, de 4,83%, na verdade seu preço já acumula a quinta alta mensal consecutiva, acumulando um aumento de 11,40% no ano. O leite longa vida teve um aumento de 4,26% em outubro.

Alguns podem alegar que estes aumentos se devem às entressafras, período que coincide com baixa na produtividade ou fora da estação, o que tornariam os produtos realmente nos “vilões”. Tais alegações podem ser explicações cabíveis para o tomate, cujo cultivo depende de condições climáticas adequadas, principalmente de disponibilidade de água em quantidade certa; ou para o leite, cuja produção é afetada pelo período de estiagem. Entretanto, basta verificar as exportações brasileiras para se verificar quem realmente são os responsáveis pela principal vertente da alta inflacionária.

Observando o gráfico, que apresenta a variação percentual da produção anual por safra 2018-2019 e 2019-20204 e das quantidades e valores exportados de janeiro a setembro de 2019 e 20204, é possível constatar que, com exceção da carne de aves, a soja em grão (insumo fundamental para a produção do óleo), o arroz e as carnes bovina e suína tiveram uma variação positiva em quantidade e valor exportados. No caso do arroz e das carnes bovina e suína, inclusive, a variação do valor foi superior ao da quantidade, demonstrando uma alta do preço no mercado mundial. Considerando o arroz, é possível ver uma variação negativa na produção anual por safra, apontando para uma diminuição da área plantada. Fato semelhante se apresenta com relação à produção de carne bovina, com uma diminuição no abate.

Todas as análises que o gráfico permite fazer apontam para os verdadeiros vilões da inflação: o agronegócio e o governo Bolsonaro, especificamente seu Ministro da Economia, o Chicago Boy Paulo Guedes. Os latifundiários monocultores e pecuaristas, em sua ânsia por maiores lucros, destinam suas produções para o comércio exterior. Além da alta no preço dos produtos em dólar (a variação do valor apresentado é na moeda estadunidense), com exceção da soja, o que também consideram para isso é a desvalorização do real frente ao dólar, levada a cabo tanto pela atual crise econômica mundial, mas também pela política cambial adotada pelo governo Bolsonaro6. E aqui entra Paulo Guedes e sua condução da política econômica. Mesmo com a alta nos preços dos produtos alimentícios, impactando diretamente milhares de famílias trabalhadoras, principalmente em na situação de pandemia do coronavírus, como a perspectiva na alta da inflação é de ficar abaixo da meta central estipulada pelo Banco Central, de 4,0%, a posição do governo é de, simplesmente, não fazer nada e deixar o agronegócio faturar e deixar a balança comercial favorável para as exportações, principalmente com a China, cuja importação de soja brasileira aumentou 51% em setembro deste ano7.

A classe trabalhadora, por sua vez, paga o lucro do agronegócio com o aumento dos preços dos produtos mais básicos de sua alimentação. Não fosse só isso, vê sua renda atacada não só pela inflação, mas pelo achatamento salarial e pela precarização das condições de trabalho, conduzida com maestria por Paulo Guedes e o governo Bolsonaro que, já não bastasse tudo isso, ainda corta recursos da educação e saúde públicas.

A solução para tudo isso é:

Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!

1 Índice oficial de monitoramento da inflação do país, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nos grandes centros urbanos brasileiros.

2 IBGE. IPCA-15 tem alta de 0,94% em outubro. 23 out. 2020.

3 ALVARENGA, Darlan. IPCA-15: prévia da inflação oficial acelera a 0,94% em outubro, maior alta para o mês em 25 anos. G1, 23 out. 2020.

4 Dados disponíveis em: CONAB. Série histórica das safras. Arroz Total (Irrigado e Sequeiro). 8 out. 2020. CONAB. Série histórica das safras. Soja. 8 out. 2020. IBGE. Pesquisa trimestral do abate de animais. 23 out. 2020.

5 Dados disponíveis em: MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Comex Stat. Exportação e importação geral. 23 out. 2020.

6 A esse respeito ver o artigo A nota de R$ 200 e a inflação (final).

7 REUTERS. Importações de soja brasileira pela China disparam 51% em setembro. G1. Agro, 26 out. 2020.