Foto: Jornal de Brasília

Manifestações pró-Bolsonaro atiçam guerra de classes

O Governo Bolsonaro já se demonstrou ótimo em fomentar as divisões abertas pela crise do capitalismo na classe dominante brasileira e em trazer para si, em pouco tempo, a reprovação da população, como demonstrado nas recentes pesquisas de opinião. As manifestações pró-governo ocorridas neste domingo, dia 26 de maio, abriram os “portões do inferno”. Enquanto isso, só cresce a desconfiança das classes dominantes para a capacidade de Bolsonaro governar mantendo os ritos e tradições da institucionalidade corrupta brasileira. Tudo aquilo de atrasado, obscurantista, que a burguesia preferiria manter sob segredo – coberto pelo verniz da democracia formal em conjunto com a atuação conciliatória do PT – teve seu espaço neste domingo nas ruas.

O presidente, elevado por essas criaturas à posição de herói nacional, parece ser a única esperança para tirá-las do porão do esquecimento e da decadência econômica e política. A bandeira que a unificou os presentes foi a luta por um executivo tenha super-poderes para fazer o que bem entender, mesmo que para isso tenha que fechar instituições como o STF e o Congresso Nacional. O ponto de partida para a realização das “manifestações espontâneas”, como Bolsonaro defendeu que eram, foi a divulgação de um texto via WhatsApp pelo próprio chefe do executivo dizendo que havia no país uma ação organizada pelas grandes corporações que tornava o país ingovernável se não baseado nos interesses das mesmas.

Monarquistas, ex-torturadores, clubes de motociclistas, ricaços em busca de adrenalina, reformados das forças armadas, e o próprio clube militar institucionalmente, convocaram os atos e marcaram presença, cada um a sua maneira. Porém, o mesmo não pode ser dito do próprio presidente Jair Bolsonaro e alguns parlamentares do PSL, que preferiram recuar para não entrarem em choque direto com a institucionalidade. Eles sabem que não há força suficiente em sua base social para romper com as atuais instituições. Movimentos que reivindicam o liberalismo econômico, mas que não apoiam o bonapartismo do Executivo, como o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, criticaram o caráter anti-institucional dos atos e não aderiram às convocações.

Mas por que Bolsonaro tomou tanta cautela em não fomentar as manifestações que ele próprio deu início? Há duas causas para a precaução: uma é o conflito dentro do Estado e outra é a pressão vinda de fora do Estado. Dentro, porque a cada dia se torna mais difícil organizar acordos necessários com o chamado “centrão” parlamentar para aprovar projetos vindos do Executivo. Fora, porque como foi exposto pelo Portal G1 em um comparativo entre as manifestações de ontem e as antiBolsonaro no dia 15, as pró-governo eram extremamente débeis se comparadas àquelas organizadas contra os cortes e contra a Reforma da Previdência. Além disso, o governo ainda tem pela frente as manifestações organizadas pela UNE para o dia 30 de maio e a Greve Geral convocada pelas centrais sindicais para o dia 14 de junho.

Apesar de Lula ser contra a palavra de ordem “Fora Bolsonaro” e a favor de estar livre para ganhar as eleições em 2022, ou antes, o grito de agitação impulsionado pela Esquerda Marxista vem crescendo em força nas manifestações de rua. Os dirigentes de organizações reformistas (PT, PCdoB) e a esquerda em geral (PSTU, PSOL), muitas vezes em alianças com partidos burgueses (PDT, PV, Rede, Cidadania), ficam tímidos diante dos gritos de Fora Bolsonaro. Acabam por fazer coro na defesa das instituições e que o governo Bolsonaro deve continuar até o fim do mandato.

Aqueles que não fazem cálculos matemático-institucionais (se menos Bolsonaro significa mais ou menos Mourão) querem a derrubada imediata desse governo, como vimos no dia 15 de maio. Se este governo é inimigo da educação e da previdência social, por que não o derrubar pelo movimento de massas? A Nova República faliu em suas próprias instituições, a Constituição burguesa de 1988 é uma batata quente na mão do Judiciário e do Executivo bonapartistas. Não há saída para a crise nos moldes do Estado Democrático de Direito, e quem o defende hoje está defendendo, na verdade, a burguesia e a dominação imperialista.

Os portões do inferno só serão trancados quando a luta de classes nas escolas, fábricas e ruas se transformar em impulso para a auto-organização da classe trabalhadora com seus próprios instrumentos de luta: assembleias populares. O Estado Democrático de Direito como um verniz para a dominação burguesa e imperialista está desgastado, e a madeira está apodrecendo. Cabe aos comunistas mostrar para a vanguarda o caminho. O proletariado e sua vanguarda precisam compreender que a solução não passa pelo parlamento ou pelas instituições burguesas, mas sim pelos métodos proletárias de luta, com suas greves, piquetes e manifestações.