Foto: Gage Skidmore

Kamala Harris: mulher, negra e a serviço do imperialismo

O fato de Kamala Harris, vice-presidente de Joe Biden, ser mulher, negra e filha de migrantes, não a impediu em absoluto de defender abertamente a política imperialista de imigração norte-americana na última terça-feira (7/6). Em alto e bom tom, em um pronunciamento proferido na Guatemala, ela disse à população da América Central: “não venham aos EUA”.

Com o intento de conter o aumento de imigrantes na fronteira dos Estados Unidos, a vice-presidente Kamala Harris iniciou uma viagem diplomática de três dias à Guatemala, El Salvador e Honduras.

Sob um discurso de desencorajamento aos milhares de trabalhadores que saem completamente desalentados de seus países de origem, Kamala se limitou a dizer que “os Estados Unidos continuarão aplicando nossas leis e protegendo nossas fronteiras”. Este é o tom dos esforços diplomáticos e humanitários do governo Biden para conter a “imigração irregular” para o seu país. A receita dos democratas para acabar com o tráfico de pessoas, o contrabando e a corrupção, continua sendo uma velha conhecida da nossa classe, a repressão, ou, nas palavras do governo americano, “investimentos em treinamento e apoio às autoridades locais”.

Desde que Biden e Kamala assumiram a Casa Branca, os números de imigrantes que se dirigem à fronteira americana dobrou. Centenas de milhares são presos por estarem sem documentação e o número de crianças desacompanhadas também teve um aumento significativo. A barbárie se personifica diante dos nossos olhos quando vemos fotos de 400 crianças desacompanhadas dos pais em tendas que caberiam 260 pessoas, em colchões no chão.

O que faz com que adultos e crianças abandonem tudo o que conheciam até então, sem nenhuma perspectiva concreta de futuro, é a violência, o desespero e a desumanidade impostos por um sistema em degeneração. A barbárie da guerra, da escravidão, da fome e de todo tipo de violação do direito a uma vida digna, empurra as pessoas a procurarem refúgio no seio do inimigo.

Não há saída humanitária nem para o povo da América Central nem de nenhum outro lugar do mundo dentro da ordem capitalista. A burguesia fará o impossível para manter suas fronteiras e seus mercados, pois é nessa lógica de encarceramento geográfico e econômico que se opera a manutenção da exploração de uma classe sobre a outra.

Nossa tarefa é conquistar uma nova sociedade onde as classes e a propriedade privada dos meios de produção sejam abolidas. Só então o proletariado do mundo poderá usufruir e compreender o mundo como sendo a sua única pátria.

O identitarismo no parlamento burguês e o anti-marxismo

A representatividade de gênero e étnica no parlamento, tem sido uma das principais bandeiras e estratégias de mobilização de vários setores da esquerda. No entanto, historicamente o que temos comprovado é que essa é uma tática da burguesia para cooptar e dividir a classe operária em distintos gêneros, “raças” etc. Neste sentido, a cada episódio destes fica clara o quão indissociável é a democracia feminista da democracia burguesa, porque evidentemente ambas estão moldadas no sistema capitalista.

O anti-marxismo desse pensamento deve ser combatido com toda a nossa força, uma vez que esse tipo de fato escancara que a saída para a nossa classe não está nas divisões identitárias propostas pelas teorias pós-modernas. A representatividade pura e simples, seja por gênero, etnia ou orientação sexual não garante a reversão e as mudanças objetivas na realidade concreta de miséria e exclusão na qual vivem milhares de trabalhadores, independentemente da posição geográfica que ocupem no globo terrestre.

Kamala Harris é uma mulher negra que, sobretudo, representa os interesses da burguesia do imperialismo norte-americano. Não fosse isso, certamente não estaria ocupando esse posto. E ela não está sozinha entre as mulheres representantes das políticas burguesas opressoras. No dia 6 de junho, o povo peruano reagiu nas urnas contra a candidatura de Keiko Fujimori, que, entre outras questões, recentemente defendeu as esterilizações forçadas feitas no governo de seu pai, afirmando que foram políticas de “planejamento familiar”.

Ao longo da história recente da humanidade temos diversos exemplos que fazem cair por terra qualquer correlação entre gênero e bandeiras de luta. Em artigo publicado no marxismo.org.br, em 11 de fevereiro de 2018, já havíamos nos reportado a essa questão, afirmando que:

“Infelizmente o ‘protagonismo feminino’ na vida pública tem nos rendido imensos dissabores mundo afora, juntando-se aí os nomes de Dilma Rousseff, Cristina Kirchner e Michelle Bachelet, que, mesmo sendo governantes consideradas da ‘esquerda’, ao darem sustentação ao atual regime, também cumpriram o papel de perpetuar a opressão sobre o sexo feminino. Já Marine Le Pen, Angela Merkel, Hillary Clinton e Tereza May, como mulheres fielmente representantes de sua classe, cumpriram à risca todas as medidas necessárias para a sobrevivência do capitalismo. Um dos maiores exemplos nesse quesito foi Margaret Thatcher no Reino Unido que mesmo depois de suas medidas reacionárias contra a classe trabalhadora britânica e internacional nos anos 1980, que causaram o desemprego de quase 4 milhões de trabalhadores, teve um filme produzido em sua homenagem sugerindo que ela seria uma heroína feminista, negando descaradamente o ódio que as mulheres da classe trabalhadora sentem pela Dama de Ferro e tudo o que ela representa.”

Assim como todas as fronteiras são criações artificiais, a ilusão na representatividade como descrita acima também o é. A única representação que nos interessa é a de classe, caso contrário estaremos caindo na armadilha da burguesia, que é usar o identitarismo para separar as lutas e colocar os elementos da nossa classe em disputas inócuas.

As condições materiais de que a esmagadora maioria da humanidade necessita para sobreviver depende da unidade internacional dos povos. É preciso assumir a tarefa histórica de arrombarmos as cercas e portas do mundo com a revolução socialista.

Trabalhadores do mundo uni-vos!