Estados Unidos: os socialistas e o “mal menor” nas eleições

2020 foi um ano importante – uma placa de Petri[1] do caos e da instabilidade capitalista não vista há gerações. Dezenas de milhões de trabalhadores norte-americanos foram empurrados para o abismo de um colapso econômico devastador e submetidos a uma pandemia global criminosamente mal administrada. Policiais sociopatas foram lançados contra manifestantes pacíficos, apoiados por grupos de vigilantes homicidas de extrema-direita. Em resposta, houve protestos em massa, levantes e ocupações semi-insurrecionais sem precedentes, com a emergência de comitês de defesa de bairro.

Como se tudo isso não bastasse para um único período de 12 meses, os EUA estão avançando cegamente em direção a um ajuste de contas eleitoral que, sem importar o resultado, colocará à prova os limites da experiência dos capitalistas norte-americanos com a democracia burguesa. Desde a eleição de 1864 – quando o país estava mergulhado em uma guerra civil total – uma disputa presidencial não acontecia em meio a tanta incerteza.

No entanto, na segunda metade do século 19, o capitalismo norte-americano se encontrava em ascensão histórica. Não só sobreviveu a esses choques no sistema, como também floresceu, depois de “limpar o convés”, em uma expansão desenfreada pelo hemisfério. Hoje, o sistema socioeconômico que sustenta o mitológico “Século Americano” está fragmentado e esclerosado.

Considerados isoladamente, qualquer um dos impactos que atualmente atingem a sociedade americana apenas aumentaria a miséria das massas e a instabilidade geral. Mas, com o sistema como um todo vacilando à beira do caos, até mesmo uma brisa suave poderia derrubar todo o castelo de cartas. Agora, tendo semeado ventos, os capitalistas norte-americanos estão colhendo tempestades – na forma de Donald J. Trump.

O país está tão polarizado quanto sempre o foi historicamente. O fuzilamento de Jacob Blake em Kenosha reacendeu os enormes protestos do BLM [Black Lives Matter], que haviam diminuído depois de durar todo o verão. O potencial de aproveitamento da ira e da energia para uma mudança fundamental também não tem precedentes na memória recente. Até mesmo os jogadores da NBA [Liga de Basquete Americana] “entenderam” e fizeram uma greve espontânea para protestar contra a insanidade racista desta sociedade. E, no entanto, os líderes sindicais continuam a se agarrar covardemente às fraldas dos casacos dos capitalistas, mais apavorados com os milhões que supostamente representam do que com o inimigo mortal da classe trabalhadora.

Ao sair de suas respectivas convenções de nomeação, Biden parece ter a vantagem. Nunca, em 70 anos, o líder pós-convenção perdeu a eleição geral. Mas as pesquisas deram muito errado em 2016, e milhões de pessoas perderam a confiança nelas. Muita coisa pode acontecer entre agora e o dia das eleições, e é um fato bem conhecido que os democratas são especialistas em roubar a derrota das garras da vitória.

Trump apostou sua reeleição na mensagem de “lei e ordem”. Freneticamente, ele pinta o quadro de um país incendiado até as cinzas por fanáticos “socialistas” – embora ele esteja pessoalmente atiçando as brasas. Seus apoiadores exigem sua reeleição com o slogan nada irônico de “chega de bobagens!” Não importa que Trump esteja no comando há três anos e meio.

Dispensando completamente os alertas de risco, ele reforçou sua tática de dividir para governar com racismo, misoginia e repressão seletiva. O serviço postal foi deliberadamente paralisado para que fossem assentadas as bases da privatização e da repressão sindical e, como um bônus adicional, para lançar dúvidas sobre os resultados da eleição caso Trump não triunfe. Mesmo que Biden obtenha uma vitória esmagadora, ninguém deveria se surpreender se o petulante sociopata que habita no momento a Casa Branca se recusar a ir embora quietamente.

Como os marxistas revolucionários deveriam abordar essas eleições?

Os marxistas lutam pelo estabelecimento de um governo dos trabalhadores baseado em um programa socialista revolucionário. Não acreditamos que o socialismo possa ser alcançado de maneira gradual e fragmentada, por meio de uma série de reformas parciais concedidas pelos representantes benevolentes da classe capitalista. Embora novas leis, que representem os interesses da maioria da classe trabalhadora, sejam de fato promulgadas, assim que um governo dos trabalhadores chegue ao poder, criar uma nova sociedade não será uma simples questão legislativa.

O próprio processo de eleição e instalação de uma república operária exigirá a mobilização continuada da classe trabalhadora como classe. Isso incluiria a formação de conselhos de trabalhadores democraticamente eleitos e de comitês de autodefesa, de uma forma ou de outra. Um governo revolucionário dos trabalhadores se moveria para nacionalizar as alavancas fundamentais da economia, desmantelando, ao mesmo tempo, o antigo aparato do Estado, substituindo-o por um novo tipo de Estado, um semi-Estado que descanse sobre uma base de classe fundamentalmente diferente.

No entanto, antes que a classe trabalhadora possa conquistar e exercer o poder, os marxistas devem ganhar as massas para um programa revolucionário que transcenda os limites artificiais do capitalismo. Primeiro, conquistando os trabalhadores avançados e, finalmente, a maioria da classe. Embora não estejamos tão longe de tal situação, como alguns podem pensar, isso ainda não está previsto para novembro de 2020.

Marx explicou que as eleições sob o capitalismo dão aos trabalhadores o “direito” de escolher qual representante dos patrões os governará nos próximos anos. Não temos ilusões com essas farsas. Entendemos que todas as questões sociais decisivas são decididas, não pelas urnas, mas nas fábricas, locais de trabalho, ruas e quartéis.

No entanto, não somos anarquistas temerosos de semear ilusões ou de ser maculados pela democracia burguesa se acompanharmos as massas no processo eleitoral. Dada a falta de outros meios políticos, muitos trabalhadores e jovens estão sintonizados com o processo eleitoral – mesmo que estejam cansados e céticos sobre ele. É por isso que os marxistas veem os ciclos eleitorais burgueses como oportunidades para dialogar com os trabalhadores politizados, expor as limitações da democracia para poucos do capitalismo e avaliar o apoio às nossas ideias.

Não vemos as eleições como um fim em si – como os liberais e reformistas as apresentam – mas apenas como um meio para um resultado muito concreto: a construção das forças do marxismo para que possamos desempenhar um papel decisivo nos eventos revolucionários do futuro. Temos muito a dizer sobre o estado atual das coisas e devemos usar essas oportunidades para expor nossas ideias a um público cada vez mais amplo.

Por uma política revolucionária de classe – não por um mal menor

A atual farsa eleitoral é um simples referendo do tipo “sim / não” sobre o presidente. Os democratas buscam ganhar votos retratando-o como uma “ameaça à democracia” – com o que se referem à democracia liberal-burguesa – e não estão totalmente errados. Trump está dedicado a si mesmo e apenas a si mesmo. Ele pouco se incomodaria se os farrapos constitucionais, que dão cobertura legal ao governo do capital, fossem pegos no fogo cruzado.

Mas os marxistas se opõem a Trump – não porque ele represente um importante fator desestabilizador para a continuação do domínio burguês – mas porque ele representa um perigo claro e presente para a classe trabalhadora americana e mundial. O saudável instinto de classe de milhões de trabalhadores e jovens os alerta que Trump deve ser tirado do poder. Nós concordamos! Mas a questão chave é esta: o que o substituirá?

O establishment liberal democrata e seus apologistas argumentam que se pudéssemos nos livrar de Trump, tudo ficaria ótimo. No entanto, embora as políticas de Trump definitivamente exacerbem ainda mais as coisas, a maioria dos horrores e paródias que as pessoas objetam são subprodutos do capitalismo. O que é necessário é uma transformação radical de todo o sistema, não apenas uma mudança de partidos ou de rostos no topo.

Embora alguns defensores do “mal menor” admitam que Biden também é “malvado”, alegam que ele será mais “suscetível à pressão” e que seus ataques aos trabalhadores serão “menos severos”. Mas qual é o histórico do Partido Democrata quando se trata de tal suscetibilidade? Os protestos históricos contra a guerra bipartidária do Iraque não fizeram nada para “pressionar” Biden a votar contra ela. E o movimento BLM, em andamento, não “pressionou” Biden e seu companheiro de chapa para apoiar até mesmo reformas tímidas, como desfinanciar parcialmente a polícia. E embora Trump tenha aplaudido abertamente o caos e a violência, Biden culpa “todos os lados” igualmente – tanto os manifestantes, que têm a história ao seu lado, quanto a escória reacionária que atirou neles e os atropelou com seus veículos.

Quanto à severidade dos cortes, da austeridade e da repressão, por que tudo isso é necessário? Por que, em meio a tal e incomparável abundância, aqueles que produzem a riqueza devem apertar o cinto continuamente?

Quando os republicanos estão no poder, os movimentos sociais geralmente vão às ruas para se opor à sua agenda – visto que os democratas não representam uma oposição em nenhum sentido significativo da palavra. Mas quando os democratas estão no cargo, suas conexões com o movimento dos trabalhadores, ONGs e forças semelhantes geralmente levam a um declínio na ação de massa, pelo menos no início. Certamente pode-se argumentar que os democratas são “mais” suscetíveis à pressão de massa vinda de baixo – ou, pelo menos, que são mais conscientes da ótica de suas políticas. Mas o seguinte é inquestionavelmente verdadeiro: eles estão sob a pressão direta da classe capitalista, cujos interesses fundamentais defendem com lealdade.

Por exemplo, durante os debates em torno do Obamacare, o presidente não propôs cobertura universal e permitiu que os planos de saúde de pagador único, como “uma opção pública”, fossem retirados da mesa sob a pressão dos HMOs [Health Maintenance Organizations] e outras grandes corporações que realmente dão as ordens em Washington. Nem mesmo a menor mudança foi feita nas leis anti-sindicais, como a Lei Taft-Hartley, quando os democratas controlavam a Casa Branca e o Congresso. A realidade é que não haverá reformas significativas pagas pela classe dominante sob um governo Biden e que qualquer migalha distribuída para este ou aquele setor da classe trabalhadora será financiada por cortes ou impostos sobre outra parte da classe trabalhadora.

A austeridade e as contrarreformas que martelaram a classe trabalhadora desde os anos 1970 são uma função da crise orgânica do capitalismo. Biden e os democratas não podem deter a queda de seu sistema enfermo apenas com promessas. Como defensor do capitalismo, Biden será forçado a se ajustar à lógica de exploração do sistema.

Se Trump perder, pode-se ter a certeza de que ele desempenhará o papel de oposição feroz e barulhenta a Biden e aos democratas. Em condições de crise profunda, é quase garantido que ele e sua turma ficarão ainda mais fortes, assim como ele e o Tea Party ganharam com a desilusão com Obama.

Em suma, o malfeitor menor meramente chuta a lata pelo caminho e leva todo o campo do jogo político ainda mais à direita para a próxima rodada. Esta não é uma abordagem séria para os problemas reais que a classe trabalhadora enfrenta. Não apenas a abordagem do “mal menor” é cansativa e desmoralizante, mas também turva as relações de classe e os interesses subjacentes na sociedade, e não prepara a classe trabalhadora para as sérias tarefas que estão por vir.

Estratégia de “estado seguro”?

Alguns na esquerda pedem um “voto de protesto” para os candidatos à esquerda dos democratas – mas apenas nos chamados “estados seguros”. Em outras palavras, apenas em disputas eleitorais em que nem precisava haver eleição, já que é quase certo que eles serão democratas ou republicanos. Além disso, para evitar “estragar” a eleição para os democratas, eles defendem o voto em Biden nos “estados indecisos” que poderiam ir em qualquer direção.

Isso é o que acontece quando não se absorveu totalmente o método do marxismo – finalmente  abandona-se a perspectiva de classe por completo e se cede à pressão da classe dominante. Devemos explicar pacientemente nossa oposição à abordagem do “estado seguro” – que é meramente o mal menor sob outro aspecto.

Afinal, mesmo se Trump fosse um fascista de pleno direito – o que ele não é – isso não seria motivo para apoiar a ala do “mal menor” da classe dominante. Em vez disso, nossa tarefa seria fundamentalmente a mesma de hoje: lutar incansavelmente pela independência política do movimento dos trabalhadores e explicar que apenas a classe trabalhadora pode deter a reação – tomando o poder em suas mãos.

Nesta eleição, defendemos o voto de protesto por um dos candidatos de esquerda que concorrem independentemente dos dois principais partidos. Mas o principal trabalho pela frente não é votar nem obter votos: é construir as bases para uma futura tendência marxista de massa.

Plantando sementes para o futuro

Para todos os efeitos, vivemos agora em um ciclo eleitoral quase constante. Assim que as eleições intermediárias terminam, começa outra campanha presidencial em dois anos. A “opinião pública” é implacavelmente pressionada a aceitar as duas opções “permitidas”. Nenhuma outra opção ou opinião é permitida no debate. Isso é reforçado pelo fato de que praticamente todos os líderes trabalhistas são políticos liberais. Eles aceitam todos os preconceitos políticos que acompanham essa ideologia sem questionamento.

Diante dessa pressão colossal, os marxistas explicam contínua e pacientemente que a classe trabalhadora requer um partido próprio. Mesmo um pequeno partido que apresentasse candidatos a alguns cargos seria um passo à frente na situação atual. Isso poderia ajudar a quebrar o impasse e a preparar o terreno para coisas maiores e melhores – ganhando-se ou não as eleições no curto prazo.

Esses socialistas autodeclarados que, por miopia, apóiam Biden contra Trump ou que concorrem como democratas, apenas obscurecem a questão vital da independência de classe e dão cobertura pela esquerda a um dos pilares institucionais do governo capitalista. Eles serão triturados e ensanguentados além da redenção e perderão qualquer autoridade que possam ter no momento em que as verdadeiras cores de Biden forem reveladas. Essa abordagem covarde e colaboracionista de classe leva diretamente ao pântano – e não para fora dele!

Eventos, eventos e mais eventos continuarão a transformar a situação e a consciência da classe trabalhadora. Em algum momento, apresentar-se como candidatos socialistas independentes não parecerá uma ideia tão descabelada e irracional. E, finalmente, o ímpeto aumentará à medida que eles começarem a vencer com base em princípios e independência de classe.

Mesmo que Trump fique sem cargo, é improvável que desapareça dos holofotes públicos. Os democratas herdariam a crise em curso – que ainda está em seus estágios iniciais – e seriam incapazes de trazer melhorias significativas e duradouras à vida dos trabalhadores. Mesmo se eles conseguissem manter a presidência em 2024, eventualmente, Trump, ou alguém ainda pior do que ele, voltaria rugindo – e o ciclo vicioso do mal se repetiria em um nível ainda mais pernicioso.

Isso não é pessimismo – é a realidade quase inevitável que nos espera, a menos e até que a classe trabalhadora consiga construir um partido socialista de massas próprio. Felizmente para a humanidade, o potencial para tal partido nunca foi tão grande, e sua ascensão ao poder poderia ocorrer muito rapidamente no contexto da crise atual. À medida que o descontentamento e a fermentação da sociedade se aceleram, a CMI continuará a ser uma parte crescente e integrante do debate sobre como e por que um governo dos trabalhadores deve chegar ao poder e sobre os tipos de medidas que tal governo precisaria tomar para realmente transformar sociedade.

Os EUA são virtualmente o único país capitalista avançado sem uma alternativa política de massa da classe trabalhadora. A culpa disso recai diretamente sobre as direções dos trabalhadores e sobre pessoas como Bernie Sanders, que se acomodaram ao poder e às ideias da classe dominante. Apesar da capitulação às “circunstâncias atuais” pelos líderes dos trabalhadores e por grande parte da esquerda, estamos confiantes de que um partido de trabalhadores de massas, digno desse nome, acabará por se formar. Após a última traição de Bernie, o interesse por uma formação política à esquerda dos democratas está crescendo, como exemplificado pelo nascente “Movimento por um Partido do Povo” – embora muitos de seus apoiadores, mesmo assim, ainda tapem o nariz e votem “contra” Trump votando “por” Biden.

Quando um partido de massas dos trabalhadores irromper no cenário, ele vai precisar de ideias marxistas se quiser levar a classe trabalhadora ao socialismo genuíno. Se não mobilizar os trabalhadores para quebrar os limites artificiais impostos por esta sociedade com fins lucrativos, irá simplesmente administrar a crise dos capitalistas para eles. Isso desacreditaria profundamente a palavra “socialismo” e abriria caminho para forças reacionárias ainda mais virulentas.

Somente o poder da classe trabalhadora pode parar Trump, Biden e o sistema que ambos representam!

Como parte de nossa análise científica da decadência da sociedade burguesa e de suas instituições, devemos acompanhar todas as principais reviravoltas da política burguesa. No entanto, não devemos nos permitir cair nas minúcias ou perder de vista a floresta por causa das árvores. Acima de tudo, devemos construir enérgica e meticulosamente as forças do marxismo revolucionário para garantir que sejamos grandes o suficiente para causar um impacto decisivo no futuro partido dos trabalhadores.

Como vimos, o sistema eleitoral burguês não pode deter pessoas como Trump – pelo contrário – leva diretamente a monstros como este. Mas os marxistas não se limitam às “opções” políticas e aos parâmetros da luta determinados pela burguesia. Baseamo-nos no poder da classe trabalhadora e explicamos que, em última análise, os trabalhadores não precisam esperar até novembro de 2020 para se livrar de Donald Trump.

O trabalhador organizado pode e deve mobilizar sua considerável força para detê-lo. Se os líderes dos trabalhadores se mobilizassem para uma greve geral em todo o país, isso deteria Trump e suas políticas rapidamente. Lembram-se como o governo foi reaberto em janeiro de 2019 após a ação de empregos dos controladores de tráfego aéreo? E na esteira do assassinato de George Floyd, os protestos do BLM enviaram Trump correndo para o bunker da Casa Branca. Imaginem o que a classe trabalhadora mais ampla será capaz de alcançar quando flexionar totalmente seus músculos!

A história não desperdiça nada, e os trabalhadores e os jovens estão aprendendo duras lições sobre os limites do reformismo e do capitalismo como um todo. A nova geração está sendo profundamente radicalizada pela experiência de vida sob o capitalismo – e estão cada vez mais tirando conclusões socialistas revolucionárias. Esta é precisamente a situação para a qual a CMI vem se preparando há décadas – devemos agarrar energicamente a oportunidade com ambas as mãos para construir nossas forças. Te convidamos a se juntar a nós!

[1]  Recipiente cilíndrico, achatado, de vidro ou plástico que os laboratoristas utilizam para o cultivo de microrganismos (NDT).

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

PUBLICADO EM SOCIALISTREVOLUTION.ORG