Especulação imobiliária, alta do custo de vida e o turismo: o resultado da pacificação das favelas cariocas

Wanderci Bueno
Favela da Rocinha
Muitos pregaram que a expulsão dos narcotraficantes dos morros no Rio seria para racionalizar e baratear os custos da comercialização e distribuição das drogas, que seria para criar um moderno mercado semilegalizado das drogas, ou até legalizado; que seria para levar a pacificação aos morros, livrar os moradores de todo mal. Quem conhece os morros e favelas do Rio sabe que de muitas delas pode-se ter maravilhosas vistas da orla marítima e da floresta, sabe-se que elas estão bem próximas do centro urbano.

Em São Paulo a permissão da permanência de consumidores de crack concentrados na região que ficou conhecida como Cracolândia levou a uma queda nos preços dos imóveis, queda nos preços dos aluguéis. Muitos investidores aproveitando da situação compraram imóveis e os alugavam a preço de quase apenas pagar os condomínios. Depois da desvalorização dos imóveis veio a expulsão dos dependentes do crack. Agora virá a expulsão de moradores com as altas dos aluguéis, logo virão as benfeitorias com a revitalização do centro, mais gente pobre será expulsa. Mais concentração de especuladores, mais especulação imobiliária, mais lucros fantásticos para alguns poucos.
Hoje podemos ver centenas de usuários de crack circulando pelas imediações das ruas Tabatinguera, Carmo e Praça Clóvis. Também estão espalhados por algumas áreas próximas ao início da Avenida Angélica (Minhocão e adjacências). Os imóveis nestas áreas já estão caindo de preço e os investidores se preparam para realizar mais um efeito granada contra os usuários de crack. Irá expulsá-los destas áreas depois que megas investidores comprarem mais imóveis em queda vertiginosa de preços. Tudo é questão de tempo.
No Rio a situação é distinta, mas com o mesmo efeito. A expulsão dos traficantes dos morros levou à valorização das áreas chamadas pacificadas.
Segundo estudos recentes realizados no Rio as “ações de pacificação, obras de urbanização e projetos sociais não são suficientes para dar segurança aos moradores de favelas cariocas. Com as melhorias, eles temem agora não ter condições de se manter nos atuais endereços, valorizados pela nova realidade que a expulsão das quadrilhas de traficantes traz para essas comunidades. O aumento do custo de vida e a especulação imobiliária já provocam reflexos em um processo que vem sendo chamado de “remoção branca” ou “remoção camuflada” pela socióloga Marilia Pastuk”. (Correio do Brasil)
Pastuk, em seu estudo indica que “a pressão” exercida pós as melhorias na infraestrutura e pós o combate ao tráfico de drogas causaram forte impacto nas favelas.
Segundo o Correio do Brasil: “os moradores temem perder os imóveis porque ainda não têm o documento de posse e que reclamam do peso, no orçamento familiar, da cobrança por serviços essenciais como água e luz que, antes da pacificação, eram acessíveis por meio de ligações clandestinas. As pessoas são compelidas não mais pelo Estado, mas pelo mercado. Eles [os moradores] não conseguem segurar o custo de vida [porque não tiveram aumento de renda proporcional] e, por medo de perder seus imóveis para a especulação imobiliária, acabam se transferindo [para áreas mais pobres]. Segundo a socióloga, o Poder Público precisa acelerar o processo de regularização dos imóveis das favelas, além de apoiar ações voltadas à geração de renda, como o turismo. A Rocinha, por exemplo, está localizada em uma das áreas mais nobres da cidade, com vista privilegiada para a orla, o Cristo Redentor e a Lagoa Rodrigo de Freitas. Lá, o turismo já atrai cerca de 3 mil pessoas por mês”.
As questões que se colocam são: o governo irá fornecer os títulos de posse aos moradores, os moradores que organizam negócios de turismo terão como concorrer com a especulação imobiliária e com a indústria do turismo capitalista já fortemente cartelizada e internacionalizada?
Muito provavelmente os especuladores associados ao governo do Rio e aos grandes empreendedores do turismo engolirão as favelas e morros para transformá-los em lucrativos negócios. Os moradores favelados serão arremessados para bem mais longe, criando novas periferias que voltarão a ser o ninho dos narcotraficantes. O Rio será a cidade maravilhosa resplandecente, a joia rara da burguesia que finalmente, retomará as terras distribuídas aos negros que sobreviveram aos combates da Guerra do Paraguai, originando as favelas. Os ricos cantarão: “da janela vejo o Corcovado o Redentor, que lindo”.
Surgirão modernos hotéis e pousadas cinco estrelas! Grandes empreendimentos ‘revitalizadores e pacificadores’.
Os grandes negociantes da especulação invadirão os morros. Esse é o prognostico mais provável hoje. Para que isso não ocorra apenas a força organizada da população trabalhadora moradora das favelas poderá impor o “nós vamos invadir sua praia” e tomar os meios de produção, incluindo as terras urbanas dos grandes especuladores da burguesia, iniciando de fato a realização, por meio do planejamento socialista, da verdadeira reforma urbana. Nenhuma confiança nos governos dos burgueses, nenhuma confiança no capital: só isso poderá salvar as comunidades faveladas e pobres das cidades brasileiras e do Rio de Janeiro.