Foto: Andre Penner / AP Photo

Educação em São Paulo: sala dos professores vira call center

Os professores da rede estadual de SP têm sofrido humilhação atrás de humilhação nas últimas décadas. Amargam um salário que equivale a míseros R$ 12,98 hora/aula. Em tempos sem pandemia, são obrigados a lecionar para 40 ou mais estudantes por sala. E trabalham sob péssimas condições. Com a Reforma da Previdência as mulheres, maioria da categoria, trabalharão até 15 anos a mais, enquanto veem os perdões bilionários aos empresários e banqueiros quanto às suas dívidas com o poder público. Recentemente, vimos a contrarreforma do ensino médio que prejudicará a atribuição de aulas dos professores e o próprio acesso à educação. E como se não bastasse tudo isso, agora o governo Doria decide transformar as escolas em call center e os professores em teleoperadores.

Aqui não se trata de demérito com a profissão de teleoperador. São parte importante do setor de serviços da economia brasileira. Caso sua força de trabalho não fosse destinada quase exclusivamente à ampliação dos lucros capitalistas, seria um serviço essencial à otimização e resolução de problemas da vida cotidiana, em uma sociedade socialista e racionalmente organizada.

A questão é: da mesma forma que seria absurdo inserir no rol de funções dos teleoperadores, por exemplo, a oferta de cursos técnicos, também o é a inserção da teleoperação aos professores, completamente alheia às suas atribuições. Ligar para estudantes que não comparecem às aulas, promover a escola ou mesmo para solicitar a realização de rematrícula, não é obrigação da categoria dos professores. Porém, o governo Doria e seu secretário Rossieli Soares pensam diferente. Suas ações expressam a voracidade capitalista contra a educação pública e o conjunto da classe trabalhadora.

Chip, busca ativa e desvio de função

No começo do ano de 2021 o governo Doria providenciou chips com internet aos trabalhadores da educação pública do estado de São Paulo. Ao aceitar o chip havia um campo que deveria ser obrigatoriamente marcado, caso o professor quisesse obter o acessório. Nele o servidor deveria manifestar acordo com o art. 4o, da Resolução SEDUC 98 de 22/12/2020, onde consta:

Artigo 4º – A continuidade da disponibilização das funcionalidades, dispostas no artigo 2º desta Resolução, estará condicionada à atuação dos profissionais da educação, observadas as seguintes atividades:
II – Docente com aulas e classes atribuídas:
1. entrar em contato com alunos faltantes;
2. entrar em contato com responsáveis para comunicar as ausências dos alunos;
3. utilizar plataformas digitais de aprendizagem definidas pela Seduc.

Ao invés de contratar servidores para as partes administrativas e de organização escolar, o governo Doria novamente sobrecarrega os professores. Falta tudo nas escolas estaduais paulistas, em especial trabalhadores para dar conta de todas as tarefas do cotidiano escolar. O que o governo Doria está fazendo tem nome e é DESVIO DE FUNÇÃO! O que se tenta é naturalizar esse tipo de prática.

O governo chega ao absurdo de confiscar tempo de aula dos estudantes para liberar os professores para realização da função de teleoperador! Em uma das escolas nas quais temos contatos foi denunciado que cada professor deveria dar somente 35 minutos de aula. Os 10 minutos que sobram por aula seriam dedicados à busca ativa. Nesse caso foi ainda exigido que os professores fizessem essas ligações das 22 às 23 horas!

Aceitar esse absurdo é aceitar todo tipo de situação que já é corrente nas escolas estaduais paulistas: solicitações aos docentes para carregarem materiais, realização de funções de secretaria e de administração escolar, provimento de recursos do próprio bolso para fornecimento de materiais a realização de projetos, dentre tantos outros absurdos diariamente relatados pela categoria.

A única eficiência do governo Doria, como de todo “bom” patrão, é em sangrar os trabalhadores o máximo que pode. Não há preocupação com aprendizagem ou com a educação pública. Sua única questão real é como lucrar por meio das escolas públicas de São Paulo.

O que fazer?

Por fim, ressaltamos: nenhum professor está obrigado a realizar atividades alheias às suas funções. O que ocorre é parte do processo de aumento da exploração do conjunto da classe trabalhadora brasileira e mundial. Insere-se em um conjunto de ataques contra direitos historicamente conquistados. Se em São Paulo Doria é o representante dessa política sanguinária, em nível federal é Bolsonaro quem melhor representa os objetivos capitalistas mais perversos de sujeição da classe trabalhadora às mais devastadoras condições de existência. É fundamental lutarmos contra cada ataque, por menor que pareça à primeira vista.

Denuncie junto ao educadorespelosocialismo@gmail.com qualquer absurdo em sua escola, que entraremos em contato para auxiliar na organização da luta.