Teses sobre a Luta de Classes no Canadá: Perspectivas Canadenses 2013 – Parte 3

A greve dos estudantes de Quebec marcou um importante avanço e revelou a profundidade do descontentamento que existe na sociedade. Também demonstrou o potencial de luta que existe quando uma organização de massas tradicional dos trabalhadores e da juventude realmente se ergue e dá liderança.
 
 
 
Quebec tumultuada
 
Por mais de uma década, o povo de Quebec tem buscado uma saída do impasse da sociedade. A velha dicotomia de federalismo-nacionalismo, que tem dominado o debate desde os anos 1970, não é mais suficiente. Houve súbitas e dramáticas mudanças na opinião pública, tanto da esquerda quanto da direita, com a consequente elevação e queda de organizações políticas e indivíduos. Objetivamente, há uma fantástica oportunidade para a formação de um Partido do Trabalho para unir todos os setores da classe trabalhadora e para cortar o caminho das velhas divisões. No entanto, até que este partido seja formado, as oscilações sociais continuarão em ritmo e violência crescente. 
 
A greve dos estudantes de Quebec marcou um importante avanço e revelou a profundidade do descontentamento que existe na sociedade. Também demonstrou o potencial de luta que existe quando uma organização de massas tradicional dos trabalhadores e da juventude realmente se ergue e dá liderança. A derrota dos Liberais foi o resultado direto desta mobilização de massas que viu dezenas de milhares nas ruas e bandeiras vermelhas flutuando nos bairros da classe trabalhadora de Montreal. Em resposta, o Partido Quebequense foi forçado a fazer campanha pela esquerda. Obtiveram uma vitória minúscula que nada resolve com relação aos assuntos fundamentais.
 
A questão nacional em Quebec não desapareceu, apenas existe lado a lado com a questão de classe. Isto ficou claro durante a eleição provincial de 2012 quando tanto os Liberais quanto o Partido Quebequense (PQ) usaram a questão nacional para desviar o foco para longe do movimento dos estudantes e da austeridade capitalista. Os Liberais e a mídia anglo-chauvinista estimularam a histeria sobre o esperado governo do PQ, para convencer o povo de que o PQ não respeitaria os direitos dos imigrantes e anglófilos, que seriam defendidos pelos Liberais. O tiro na vitória do PQ somente serviu para aumentar as tensões. Infelizmente, esta estratégia de divide e impera teve êxito em parte e permitiu aos Liberais a maioria na ilha de Montreal. É irônico que eles tenham obtido êxito na área onde a greve dos estudantes foi mais forte.
 
Quebec Solidária (QS) representa uma importante oportunidade para a formação de um partido genuíno dos trabalhadores em Quebec. A militância de QS aumentou em seis mil durante a vaga de protestos dos estudantes, e dobrou sua votação e assentos na eleição. No entanto, ainda está para se unir ao movimento dos trabalhadores, e a liderança do partido ou parece não ter nenhuma concepção de como fazer isto ou não há vontade de fazê-lo. Inexplicavelmente, durante a eleição de 2012, a única manifestação que decidiram organizar foi sobre a questão da independência. Educação gratuita, pleno emprego, moradia decente, ou qualquer outra coisa teria sido um tema melhor para melhor destacar o QS do PQ e não apenas ficar na percepção de que o QS é a ala esquerda do Partido Quebequense. As ações da liderança do QS ajudaram eficazmente aos objetivos da burguesia quebequense, afastar o foco das questões de classe em Quebec e melhor dividir a classe trabalhadora de Quebec. A Coalizão Avenir Québec (CAQ) foi capaz de ganhar significativo apoio bloqueando, pela direita, a divisão nacional; infelizmente, os líderes de QS ainda não compreenderam que o caminho a seguir é adotar uma estratégia análoga, pela esquerda. Apesar disto, QS pode ser utilizado como o principal veículo das massas devido à ausência de qualquer alternativa.
 
O NDP federal em Quebec ainda não é uma organização de massas tradicional da classe trabalhadora de Quebec. Os sindicatos permanecem fora do partido e a camarilha de Mulcair parece ser hostil a eles. A liderança do partido fez tudo que podia para não se envolver nas recentes lutas sociais em Quebec – mais especificamente, a greve dos estudantes. A burocracia do partido levantou a ideia de lançar um NDP provincial, felizmente, este projeto tenha sido arquivado neste momento. Dentro do contexto de um partido de esquerda já existente (o QS), acreditamos que a fundação de um explicitamente federalista NDP provincial seria um passo para dividir a votação da esquerda e fortalecer a divisão nacional pela esquerda. Ressalvando isto, estamos a favor de o NDP participar na política provincial. Convocamos ao NDP, aos sindicatos de Quebec, a Quebec Solidário a formar uma frente única contra a austeridade como primeiro passo para a formação de um novo partido dos trabalhadores unido que inclua todas as três formações. Isto faz parte da tradição das organizações, QS foi formado através da fusão da União das forças progressistas e da Opção Cidadão; enquanto que o NDP veio do movimento Novo Partido que uniu o CLC e o CCF.
 
O governo do Partido Quebequense burguês-nacionalista não é capaz de resolver nenhum dos problemas enfrentados pelos trabalhadores e jovens de Quebec. Mesmo as limitadas reformas que ele está forçado a realizar para ganhar poder, tais como o congelamento das taxas de ensino, estão agora na berlinda. Dentro da lógica do sistema capitalista não há alternativa além da austeridade; isto é duplamente verdadeiro em Quebec com sua alta dívida e declinante setor industrial. O caminho está sendo aberto para um novo confronto entre o PQ e o movimento estudantil e dos trabalhadores. É uma verdadeira tragédia que somente uma semana depois do orçamento de austeridade do PQ, em vez de formar uma aliança com as forças anti-austeridade, a liderança do QS estava discutindo a possibilidade de uma aliança soberanista que pudesse incluir o Partido Quebequense! Quebec Solidária deveria estar na vanguarda de uma aliança contra o PQ, junto aos trabalhadores contra a austeridade e aos estudantes que lutam por educação gratuita. Isto pavimentaria o caminho para um avanço significativo quando este governo minoritário inevitavelmente cair. De forma similar, o movimento dos estudantes necessita avançar além de seu antiparlamentarismo e tirar suas mãos dessa suja campanha por um partido que apoie a educação gratuita; este seria um passo fundamental à frente. Mas, como sempre, o mais importante organismo que deveria romper com os partidos burgueses são os sindicatos. Quando o movimento dos trabalhadores se organizar, tudo vai mudar.
 
O que significa liderança para os marxistas?
 
Trotsky abre o Programa de Transição com a seguinte afirmação: A situação política mundial como um todo se caracteriza principalmente pela crise histórica da liderança do proletariado. Este ponto permanece como um componente fundamental de nossa análise.
 
A crise de liderança toma inúmeras formas. A mais óbvia é a capitulação das lideranças dos trabalhistas e socialdemocratas. Recentemente, dezenas de milhares de professores em Ontário estavam à beira de lançar uma ação grevista contra um antidemocrático contrato impondo austeridade. Estes trabalhadores, que estavam à direita do movimento e apoiaram o governo Liberal há apenas 12 meses, foram agora, de forma preponderante, chamados a entrar em greve de cabeça baixa e sob a perspectiva de multas e mesmo de prisão. Isto mostra o quão rápido pode mudar a consciência sob o impacto dos acontecimentos. Contudo, às 4,30 horas da manhã, quando a greve devia começar, a liderança do sindicato cancelou a ação. O recuo da liderança levou diretamente à derrota da luta contra o contrato imposto. Escandalosamente, descobriu-se posteriormente que os líderes do sindicato dos professores tinham até mesmo doado dinheiro para a campanha da liderança Liberal. Quem quer que ouse insinuar que a derrota dos professores foi de alguma forma devida ao baixo nível de consciência dos trabalhadores estará promovendo a mais baixa calúnia imaginável.
 
No front político, vimos o líder do NDP federal, Thomas Mulcair, apoiar essencialmente a estratégia conservadora para lidar com os protestos Idle No More (diante da reação que enfrentou, ele tentou se distanciar de suas declarações). O NDP de Ontário também apoiou os Liberais e seu orçamento de austeridade em troca de algumas poucas migalhas. Todas estas ações não são apenas uma traição, também servem para enfraquecer o apoio ao partido na população. Ironicamente, isto vem da facção burocrática que considera a vitória eleitoral como a coisa mais importante na política. Estas traições são muito numerosas para contar e têm sido uma característica constante desde os anos 1930.
 
O fracasso da liderança dos trabalhadores levou alguns setores mais jovens do movimento a chegar a conclusões semianarquistas e a negar a liderança. Isto é totalmente compreensível, dadas às circunstâncias. Por exemplo, imaginem a reação dos estudantes de Quebec quando descobriram que alguns líderes sindicais estavam desencorajando os sindicatos canadenses de apoiar o movimento, afirmando que ele era obrigado a fracassar! Infelizmente, as organizações dos trabalhadores e suas lideranças burocráticas não podem ser ignoradas. Já falamos anteriormente sobre as gigantescas reservas de apoio que estas organizações têm no seio da classe trabalhadora. A rejeição anarquista das organizações de massas e da liderança é um sintoma precoce das primeiras etapas do movimento, que tende a cair quando o movimento cresce. Não há como evitar a luta para se vencer a batalha da democracia nas organizações dos trabalhadores. Abandonar esta luta é abandonar as massas dos trabalhadores e da juventude sob o controle dos burocratas, enquanto deixa os elementos mais radicais isolados.
 
A luta dos trabalhadores para remover a liderança burocrática não é fácil e não ocorrerá rapidamente, nem em linha reta. No entanto, se fosse impossível para os trabalhadores submeter a liderança burocrática de suas próprias organizações, pode-se chegar à conclusão de que também seria impossível para os trabalhadores construir uma nova sociedade, uma tarefa muito maior. Muitas vezes, a liderança é renovada no movimento por uma série de aproximações sucessivas. Velhos líderes que evidenciaram sua bancarrota são empurrados para o lado e substituídos por aqueles mais próximos das fileiras. Por sua vez, na ação, evidenciam-se os limites destes novos líderes. Algumas vezes, velhos burocratas podem detectar a mudança abaixo deles e se movimentam à esquerda para reter sua posição. Em outros casos, os indivíduos, sob a pressão das massas, podem realmente se mover à esquerda. A história tem mostrado exemplos de todas estas tendências. Quando os revolucionários marxistas conscientes estão presentes estes desenvolvimentos podem se mover muito mais rápido, mas isto só pode ser feito através da explicação paciente e de se ganhar mandatos genuinamente democráticos neste meio. Não há atalhos neste caminho.
 
A rejeição da liderança é outra forma através da qual a crise de liderança se manifesta. De alguma forma, tais incompreensões do processo da luta de classes podem ser mais perigosas do que a total traição. As massas podem identificar os burocratas no processo da luta; contudo, lutadores honestos que se baseiam em ideias equivocadas podem levar a derrotas debilitantes e à desmoralização precisamente porque as massas confiam neles. Por exemplo, a liderança do sindicato estudantil CLASSE manifestou-se resolutamente contra o pagamento de taxas de ensino e entendeu que somente através da construção de um movimento de luta de massas poderiam ter êxito. É outra ironia que eles negassem que estavam liderando: eles eram meramente porta-vozes do povo. Isto é apenas semântica e é um exemplo de como a linguagem tem sido aviltada. Liderança se tornou sinônimo de ditadura burocrática, isto é, má liderança. A alternativa à má liderança não é nenhuma liderança; a alternativa é boa liderança, e dar outro nome não muda a essência, mas pode levar à confusão. De fato, o mantra de que não somos líderes, somos apenas porta-vozes do povo tem sido usado pela direita para se recusar a organizar no sentido da necessária ação de greve. Os líderes de CLASSE trabalharam incansavelmente, com uma elaborada perspectiva, e fizeram o seu esforço para ganhar um mandato democrático para a estratégia que a minoria consciente acreditava necessária à vitória. Visto que as ideias da minoria consciente eram democraticamente adotadas pela maioria, através de um processo de discussão e debate livres, estas ideias adquiriram força de massas. Este é um exemplo fantástico de uma boa liderança que não está em oposição às massas, mas dialeticamente unida a elas.
 
A ideologia revolucionária dos líderes de CLASSE, combinada com o fato de que eles estavam liderando uma reconhecida organização de massas dos estudantes com uma excelente tradição de assembleias gerais democráticas, levou à erupção da luta. Infelizmente, é aqui onde aparecem os limites de sua ideologia. A tarefa fundamental do movimento estudantil é se disseminar à classe trabalhadora. Os estudantes, por si mesmos, possuem muito pouco poder. O poder dos estudantes reside na capacidade de sua luta e de se espalhar à classe trabalhadora. Já se falou muito a respeito e resoluções foram aprovadas direcionando o movimento aos locais de trabalho, mas nada foi concretamente organizado para materializar, para propagar o movimento aos trabalhadores. Aqui se encontra outra forma da crise de liderança. A resposta que, os estudantes não o fez para si mesmos é uma anulação da liderança e é em essência culpar as massas pelo fracasso da liderança. Também ignora o fato de que as fileiras aprovaram numerosas resoluções dirigindo seus porta-vozes do povo para organizar tais ações. A confusão se tornou mais aguda quando Charest se moveu para o plano eleitoral para bloquear o movimento. Gabriel Nadeau-Dubois, depois de ter se afastado como porta-voz de CLASSE, revelou o que realmente pensava: 
 
[Há] uma esquerda estudantil que recusa qualquer diálogo, qualquer ligação com partidos políticos. No momento das eleições, CLASSE tinha a posição de não tomar posição: – Não vamos levar em conta o contexto eleitoral-. Isto me parece problemático porque é uma negação das circunstâncias nas quais o movimento social está apesar disto envolvido… Na realidade existem alguns ativistas estudantis que aderiram a Quebec Solidário. Vimos isto durante a eleição: a posição do congresso de CLASSE, que diz: ignoramos a eleição e apelamos pela continuidade da greve, foi rejeitada pelos estudantes que tinham se mobilizado durante meses; iniciando com a primeira assembleia geral quando começou o novo semestre escolar, eles votaram pelo caminho oposto: Há uma eleição, nós temos uma oportunidade de derrubar o governo, vamos voltar para as aulas. É por isto que houve uma grande desilusão, mostrando a diferença entre certa esquerda dentro da estrutura do movimento estudantil e da maioria dos militantes, incluindo alguns dos mais ativos, para os quais agora era o momento de traduzir politicamente o movimento. Portanto, não houve tradução desta atitude no espaço público, o que foi muito difícil para CLASSE.
 
Nadeau-Dubois resume muito bem a situação. O plano eleitoral era um ponto morto para os líderes de CLASSE; uma verdadeira liderança revolucionária deve ver todos os lados da batalha, tanto nas ruas quanto na urna de votos. A verdade é que a vitória contra o aumento das taxas de ensino e a remoção da lei 78 aconteceu a despeito dos elementos com mais consciência de classe em CLASSE e não devido a eles. Não colocamos isso para ganhar pequenos pontos do debate, não temos nada além da admiração por estes honestos lutadores de classe que conquistaram mais do que ninguém em uma geração, mas para realçar que o ponto do compromisso e o desejo de lutar não são suficientes. Ideias, métodos e organização são também vitais se a camada militante está aí para ajudar as massas a obter a vitória. Não é nenhuma outra palavra para caracterizar este fenômeno além de liderança.
 
Uma liderança da classe trabalhadora não surge espontaneamente ou automaticamente; deve ser construída, normalmente em um período de décadas. Através da combinação de teoria e prática, os melhores lutadores de classe se apresentam. Os militantes estão temperados pelos choques de ideias com outras tendências políticas: conservadores, liberais, reformistas, sectários e acadêmicos. Unir esses indivíduos em uma organização comum ajuda aos estudantes militantes a entenderem a classe trabalhadora; o jovem lutador aprende das presentes e passadas lutas; os das nações imperialistas aprendem da experiência daqueles nas nações coloniais; e vice-versa. Objetivamos unir os melhores lutadores não em escala de uma cidade, não em escala nacional, mas em escala internacional. Dessa forma, dialeticamente, o todo é maior do que a soma de suas partes. Não pedimos nenhuma desculpa pelo uso dos termos ideias corretas ou métodos certos, da mesma forma que não somos fieis às dúvidas das fracassadas tendências pequeno-burguesas e acadêmicas do passado. Em vez disso, baseamo-nos na experiência de 200 anos de luta da classe trabalhadora. Devemos abrir o debate sobre as ideias claras e não sobre se estaríamos confiantes no que acreditamos. Com a experiência aprendemos que aquele que não têm confiança em si mesmo nunca será capaz de ganhar a confiança das massas. O otimismo é uma característica fundamental de um verdadeiro revolucionário, e o otimismo é a única conclusão científica possível quando se tem uma perspectiva de longo prazo da história. Lênin disse-o muito bem em Que Fazer?: Somos um pequeno grupo compacto, seguimos por uma estrada escarpada e difícil, segurando-nos fortemente pela mão. De todos os lados, estamos cercados de inimigos, e é preciso marchar quase constantemente debaixo de fogo. Estamos unidos por uma decisão livremente tomada, precisamente a fim de combater o inimigo e não cair no pântano ao lado, cujos habitantes desde o início nos culpam de termos formado um grupo à parte, e preferido o caminho da luta ao caminho da conciliação. Alguns dos nossos gritam: Vamos para o pântano! E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: Como vocês são atrasados! Não se envergonham de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor! Sim, senhores, são livres não somente para convidar, mas de ir para onde bem lhes aprouver, até para o pântano; achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos livres para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem!
 
Os que não reconhecem a crise de liderança, seja consciente ou inconscientemente, chegam às seguintes conclusões: Se as derrotas não se devem à má liderança, então somente se pode deduzir que são os trabalhadores os culpados por derrotas, que sua consciência é muito baixa. Esta conclusão profundamente pessimista permite aos burocratas se livrar da enrascada e também não se confirma através de uma avaliação honesta da história. Os trabalhadores e a juventude tentaram mais de uma vez mudar a sociedade e suas organizações, mas face aos traidores, ou mesmo aos ocasionalmente honestos, mas confusos elementos, não tiveram êxito. É necessário aprender as habilidades necessária para derrotar a burocracia e expô-la, através do método de impor-lhe exigências e de construir uma liderança alternativa baseada nos corretos e militantes métodos democráticos. É importante entender como a consciência de classe se desenvolve:não em linha reta, mas como uma explosão, como os professores de Ontário. Há uma relação dialética direta entre liderança e consciência. Se cairmos na impaciência anarquista e boicotarmos esta luta, deixaremos as massas ser enganadas impunemente. Às vezes, a incompreensão do papel da liderança está relacionada a uma forma de determinismo econômico – as condições não estão maduras, os trabalhadores são muito passivos etc – ou a uma dependência da espontaneidade. Isto se impõe claramente na realidade hoje, evidenciada pela crescente desigualdade e aumento da austeridade. Explicamos anteriormente os limites da espontaneidade; levados longe demais, tais argumentos acabam por se tornar em uma desculpa para não se fazer o duro trabalho de construção aqui e agora. No fundo, a incapacidade de compreender a necessidade da liderança vem de um profundo pessimismo sobre a classe trabalhadora.
 
Nenhum espaço para o pessimismo
 
Uma avaliação honesta das condições internacionalmente e no Canadá não nos leva ao abatimento. Precisamente o oposto. Continuaremos nos inspirando na capacidade de luta dos trabalhadores e da juventude, como vimos durante o movimento dos estudantes de Quebec. No entanto, estes movimentos são apenas uma amostra do que virá quando a classe trabalhadora entrar na cena da história de forma decisiva. Devido à ausência de liderança e a debilidade das genuínas forças revolucionárias do marxismo, este processo será prolongado. Mas o capitalismo é incapaz de fornecer uma saída no curto ou médio prazo e os trabalhadores e a juventude não terão alternativa a não ser lutar. Sob estas condições, todas as organizações e teorias serão postas à prova. Isto dá a oportunidade à tendência revolucionária de apresentar as ideias e métodos que podem ajudar aos trabalhadores a alcançar a vitória. Há uma necessidade urgente de se resolver a contradição entre a profundidade da crise e a liderança das organizações da classe trabalhadora. A Tendência Marxista deve ser construída para se constituir na opção viável para os trabalhadores. Até que isto aconteça, a crise continuará.
 
Tradutor: Fabiano Adalberto