Resposta a Quaquá: Por um Partido Operário Internacional e Revolucionário

O Presidente do Partido dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, Washington Quaquá, escreveu o que nas cúpulas do PT se fala nos bastidores e que não se tem coragem de escrever. Desde os áureos tempos em que José Dirceu não era ministro de Lula, muito menos perseguido pelo STF, toda a estratégia do partido é fazer uma aliança com a burguesia e ver se ela nos concede alguns trocados pelos serviços que a ela prestamos.

O método que Quaquá propõe, construir um partido “a la PSD”, como fez Getúlio Vargas que construiu o PTB e o PSD, esse para ser uma “oposição de sua majestade”, é escandaloso e foi criticado por  muitos. O fundo do texto de Quaquá é a necessidade de aliança com a burguesia, da busca de um estado burguês com bem-estar social e que deixe o socialismo para as gerações do futuro.

Sejamos francos, Quaquá traça com perfeição o que fez o PT:

Na verdade, nossa tática depois de 1989 e, em especial, no ano da vitória em 2002, foi a da conciliação de classe sem construção de retaguardas. Havia a crença de que era possível estabelecer um pacto social com a burguesia para um processo lento, gradual e seguro de mudanças sociais que, em médio prazo, nos levariam à construção do tão sonhado estado de bem-estar social à brasileira.

Sonhado, claro, por Quaquá e pelos dirigentes do PT. Os marxistas tinham claro, a essa época, que o chamado “programa de governo democrático-popular” não passava de um caminho para se render a burguesia. Que fez o governo Lula, que sob o disfarce de “reformas” que não reformavam nada, que não construíam nenhuma vitória para os trabalhadores, tratavam de começar a desmontar o que a burguesia não conseguia:

  • Fizeram a reforma da previdência dos servidores, que retirou direitos históricos dos servidores e abriu caminho para a atual proposta de Temer;
  • Lula vetou a derrubada do “fator previdenciário” quando os trabalhadores, por si próprios, conseguiram impô-lo no reacionário Congresso Nacional;
  • Lula manteve o chamado Bolsa-Família (mudou de nome) ao invés de decretar a estabilidade no emprego e um programa de obras públicas para empregar todos que necessitassem de emprego;
  • Lula manteve as privatizações feitas por FHC e fez os leilões do petróleo; depois Lula e Dilma aprovaram as medidas do Pré-Sal, uma privatização disfarçada da maior riqueza petrolífera descoberta, sob o argumento de que a Petrobras sempre teria 30% do pré-sal. Só precisou derrubar esse artiguinho e Temer completou a obra;
  • Lula disse no governo que pelo menos a Reforma Agrária ele faria. Não fez. Os camponeses continuam sem terra, várias terras indígenas não foram contempladas e, pior que isso, o desmatamento e o agronegócio sem freio cresceram no seu governo e Katia Abreu, uma latifundiária e ex-líder da UDR se “converteu” ao petismo do agronegócio;

Esse é o balanço real dos governos de Lula e Dilma, de governos que mantiveram todo o programa do PSDB, da burguesia, sob uma roupagem “democrática” de que todos estávamos ganhando. Agora, quando a conta chegou e a burguesia resolve retomar o controle total do Estado, de parar de pagar as migalhas que derramava para esses dirigentes do partido operário que é PT e que se venderam, eles gritam e chiam que estão sendo fritos na manteiga em fogo alto.

Sim, Quaquá deixa claro as intenções da alta cúpula do PT, que não tem pudor em tentar se vender aos que derramaram óleo e acenderam fogo novamente. E tenta propor, baseado na popularidade de Lula, que eles todos se reorganizem sob uma “nova bandeira”, uma “nova sigla”, que sigam mais o Iluminado Lula e deixem de falar bobagem.

O Brasil precisa de um novo partido burguês, com programa reformista mínimo, pactuando com as lideranças políticas regionais. Um partido que banque a proposta de uma nova constituinte e que avance na construção do estado burguês de bem-estar social. O socialismo é uma aposta futura e de transição. Nesse período, a transição ainda é burguesa e o será por muitos anos. Por isso, é centro da estratégia política  montar um partido lulista, burguês e reformista!

Sim, esse é o ideal da direção lulista, da direção do PT. O que eles querem é isso. O centro de sua proposta é que neste momento o socialismo é só “aposta futura” e no momento a “transição ainda é burguesa e o será por muitos anos”.

A proposta de que Lula construa um partido burguês que “possa chamar de seu”, como escreveu Quaquá, é de fato a proposta de transmutação final do PT em um partido burguês. É o que fizeram os dirigentes do Partido Comunista Italiano que transmutaram o PCI no Partido Democrata, que se inspira no Partido Democrata dos EUA.

Essa é a conversa entre Lula e Renan Calheiros, que acompanha o petista na caravana pelo nordeste.

Nós da EM somos como Lenin escreveu em 1902, em “O que fazer”?

Alguns dos nossos gritam: Vamos para o pântano! E quando lhes mostramos a vergonha de tal ato, replicam: Como vocês são atrasados! Não se envergonham de nos negar a liberdade de convidá-los a seguir um caminho melhor! Sim, senhores, são livres não somente para convidar, mas de ir para onde bem lhes aprouver, até para o pântano; achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos “livres” para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem!