Quem tem medo da classe operária?

O Colunista da Folha de São Paulo João Pereira Coutinho em 24 de abril escreve um artigo intitulado “Macron é a última oportunidade da França antes da revolução”. E termina o artigo com a seguinte frase: “Mas existe também outro caminho: reformar a economia nativa – do seu mercado laboral ossificado a um Estado voraz e perdulário – para reintegrar, ou pelo menos compensar, os que ficaram pelo caminho… Não sei se Emannuel Macron é o homem certo para a tarefa. Tenho dúvidas, muitas dúvidas. Mas há duas coisas que eu sei: a França de 2017 tem todos os condimentos para uma revolução futura. E o pobre Macron é provavelmente a última oportunidade do país antes dessa revolução chegar.

Emmanuel Macron fez carreira pelo Partido Socialista, e hoje tem sua própria sigla, o Em Marcha!, propondo a manutenção da ordem capitalista. Macron está na disputa do segundo turno das eleições presidenciais contra Marine Le Pen, da extrema direita, após um primeiro turno com a rápida ascensão de Jean Luc Mélenchon da frente França Insubmissa.

É engraçado como as palavras sobre a França batem exatamente com o que todos aqui falam do Brasil: é preciso reformar o Estado que gasta demais, é preciso acabar com as despesas inúteis como a corrupção e termos um sistema de “compensação” como a bolsa família. Claro, também precisamos “liberar” o mercado de trabalho (reforma trabalhista) e “despesas inúteis” como a Previdência. O que eles todos não dizem é a conclusão que apavora Coutinho e provavelmente a todos os outros: pode ser que seja a última oportunidade antes da revolução chegar!

Afinal, há um mês o editorial do jornal O Estado de São Paulo dizia que não se podia mudar uma vírgula na reforma da previdência. Depois do dia 15 de março, algo se passou e Temer mudou, mudou, mudou e terminou, novamente neste domingo, reunindo a “base aliada” para dizer que chega e agora nada mais pode ser mudado.

O problema é que Temer pode não ter o cacife para pagar. Afinal, quando ele tentou mostrar força e conseguir 308 votos para acelerar reforma trabalhista (só precisa de 250 votos), ele perdeu a votação! E então um esforço redobrado, pagamentos e distribuição de cargos, e no dia seguinte os votos foram conseguidos. Mas ainda muito longe dos 308 necessários. E a coisa piora.

O Estadão analisa que a base de Temer deixa de ser “tão fiel” quanto no início do mandato. E colunistas fofocam que os auxiliares de Temer estão desesperados porque mesmos os mais otimistas dizem faltar 60 votos para aprovar a Reforma da Previdência. Então, a classe trabalhadora ganhou? Temer e seus auxiliares se desesperam, manobram, chantageiam, nomeiam ministros para o TSE, negociam com Janot (procurador da República) e tentam postergar as ações judiciais e “fazer tudo pelo Brasil”. Mas o Brasil não pensa assim.

As massas, inquietas, esperam a greve do dia 28 e a reação das centrais sindicais. Mas tem muito mais gente que teme a classe operária além do próprio Temer.

Por um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (Enclat)

Na verdade, o 15 de março pesa sobre o Congresso e o governo. As massas saíram às ruas e mostraram a sua disposição: empurra o temer que ele cai! Fora Temer! Fora o congresso Nacional! Abaixo as reformas. O problema é: o que as direções que convocaram o 15 de março e agora a greve geral de 28 de abril propõem para derrubar as reformas, Temer e o Congresso Nacional?

Os relatos são muitos. A CUT está convocando que todos fiquem em casa no dia 28. E convocando os malfadados showmícios para o dia 1 de Maio. Em outras palavras, vão tentar impedir as massas de se manifestarem.

Mas a pressão das bases se manifesta inclusive nos maiores sindicatos da CUT. O Sindicato dos metalúrgicos do ABC divulga um vídeo com vários sindicalistas convocando a greve geral e termina com Zé Maria (Conlutas) chamando para que no dia 28 vão todos às ruas. As frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo convocam uma manifestação no dia 28 no Largo da Batata, 17 horas. A questão não é saber se isto vai ser realizado ou não. Mas a pressão das bases chega quente, e todos têm que dar alguma resposta, para disfarçar a manobra.

E no dia 24 as centrais se reúnem e definem que haverá nova reunião em 8 de maio para discutir a continuidade da luta! 8 de maio? Porque a direção demora tanto a se reunir se nesta semana pode ser votada a reforma trabalhista? Porque a direção não chama a base a se manifestar e dizer o que ela quer fazer de agora em diante? Afinal, qual o medo de que a base se manifeste e diga o que pensa e o que deve ser feito?

A Esquerda Marxista tem a posição clara: é preciso dar voz e voto a base. Por isso propomos que seja convocado um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (Enclat). Esse deve decidir as formas e meios de luta para derrotar todas as reformas reacionárias, para colocar abaixo Temer e o Congresso Nacional.

Os marxistas estão na luta para acabar com o governo Temer e este Congresso Nacional. Combatemos por uma Assembleia Nacional Popular Constituinte. E por dar voz e voto a base da classe trabalhadora. Junte-se a nós neste combate!