Privataria Tucana – Um exemplo do que é o capitalismo atual

O Blog da Esquerda Marxista recebeu de um leitor um artigo sobre um livro recentemente lançado cujo nome diz tudo: “Privataria tucana”. O autor, Amaury Ribeiro Jr., é um jornalista de investigação experiente que reuniu materiais por mais de 12 anos antes de publicar o livro. O editor do livro é Luiz Fernando Emediato, jornalista conceituado que já ganhou o Premio Esso de reportagem. Nos dois dias de lançamento foram vendidos 15 mil exemplares esgotando a edição. Esta semana deve sair uma segunda edição com 30 mil exemplares.

O livro pode ser comprado na Livraria Marxista clicando nesse link: http://www.livrariamarxista.com.br/livros/estado_e_governos/a-privataria-tucana .
É um bom presente de natal!
Atenção: não é um livro de propaganda rasteira “antitucana”, como se costuma ver na gritaria eleitoralista daqueles que estão hoje realizando o mesmo programa econômico que os Tucanos e Collor realizaram antes. Trata-se de uma fotografia da ”alma” tucana e da burguesia pretensamente mais culta do Brasil agrupada no “moderno” partido burguês chamado PSDB, agencia mafiosa do imperialismo no Brasil.
O livro é de fato impressionante e deve ser lido por todos. Um panorama de quão desprezível são as classes dominantes nesta época imperialista. Por mais pose de príncipes e sociólogos que façam em público, nas sombras dos corredores do poder eles aparecem como são: puro retrato de Dorian Gray.
A acumulação do capital passa a ser essencialmente uma atividade mafiosa da burguesia incapaz de desenvolver as forças produtivas. E desesperada por sua incapacidade de sair do sufoco do limite dos estados nacionais e do quadro das leis constrangedoras do desenvolvimento inerentes ao regime da propriedade privada dos meios de produção. Toda “ideologia” de “neocapitalismo”, “neoliberalismo” “livre comércio” e “não interferência do Estado na economia”, tudo isso é apenas fumaça, areia nos olhos dos trabalhadores para permitir a apropriação privada, mafiosa e degenerada moral e socialmente, das riquezas produzidas pelo povo trabalhador.
Após o artigo de Washington Denuzzo publicamos os parágrafo inicial do livro que dá uma amostra da força literária do jornalista.
******************************************
Washington Denuzzo
Quem viveu os anos 90 no Brasil deve ter ouvido, não poucas vezes, as palavras modernidade e eficiência associadas à abertura de mercado, diminuição do Estado (intrinsecamente ineficiente) e privatização.
Havia os que chamavam tal ideário de “Neoliberalismo”, em referência às práticas econômicas adotadas por países como Estados Unidos e Inglaterra mais ou menos uma década antes. Semana passada foi lançado um livro que forçará uma revisão interpretativa significativa no entendimento do que foram os anos 90 neste país. Tirando uma pequena parte da sociedade que enxergava alguns espinhos nas rosas do tal novo liberalismo, o momento era de consenso, não havia nada que pudesse se contrapor às verdades que reluziam através dos tubos catódicos, das ondas de rádio ou da banca de jornal. Mais fácil do que encontrar um corintiano na rua era ouvir sair da boca de pessoas de diferentes classes a receita para que o Brasil entrasse na modernidade.
O Estado abrigava todos os vícios da República, seus funcionários, vagabundos, acomodados, não resistiriam à competição do mercado, único ente capaz de sanar as deficiências do serviço público e atender as necessidades da sociedade.
O modelo pregado era o da iniciativa dos empreendedores, os fortes, capazes de soluções criativas em oposição à inércia estatal. Era necessário então entregar ao Estado somente a prestação de serviços básicos como saúde, educação e segurança. Para deixar o mercado livre e para proceder à modernização do país era preciso acabar com a presença do Estado no próprio mercado.
Isso foi feito por meio da venda ou do simples desfazimento de empresas estatais dos mais variados setores, o que seria compensado pela geração de empregos e aumento da arrecadação além do mais o valor da venda poderia ser usado para quitar obrigações com credores. Era tudo muito simples, era só fazer!
Passado o tempo e feita a experiência da desestatização atravessamos crises políticas, de crédito, de confiança, de energia, de abastecimento. O Brasil moderno dos anos noventa lembrava demais o Brasil atrasado de antes, no que diz respeito à sua posição perante o mundo, não chegou o dinheiro dos investidores, não pagamos nenhuma dívida…
Outros avanços dos anos noventa foram compensados por alguns retrocessos perversos. Mas o quê é importante naquilo que o Livro de Amaury Ribeiro Jr. nos revela é que o ideário reformista dos anos 90 serviu de biombo para que um grupo privilegiadíssimo de administradores públicos, e de formadores de opinião, praticasse, com o apoio da sociedade, a maior operação de enriquecimento pessoal já feita nestas terras.
Tudo o que se chamou de “Liberalismo” tanto pelos entusiastas desta novidade como pelos que resmungavam contra, era o tempo todo uma estratégia para acobertar o desejo e a cobiça de gente como o ex-ministro fulano de tal, o ex-presidente ciclano e os empresários x, y e z.
A Privataria Tucana tem o mérito de nomear os personagens, desvendar a estrutura e provar os pecados de até outrora bons homens, pessoas de reputação ilibada que adquiriram o respeito da mídia pela coragem de enfrentar os males de um Estado paquidérmico.
Amaury, repórter com mais de 50 prêmios, reuniu em seu testemunho 120 páginas de documentos que abalam as ideologias, pois não há mais como chamar o que ocorreu no Brasil de outra coisa que não seja roubo.
**********************************
Do livro “Privataria Tucana”
“Antes de tudo há o tiro. Não fosse o tiro, talvez a história que vai ser contada aqui não existiria. Então, antes de contar a  história, é preciso contar a história do tiro. No começo da noite do dia 19 de setembro de 2007, o tiro vai partir de um 38 e entrar na minha barriga, de cima para baixo, em um bar na Cidade Ocidental, em Goiás. Dos três tiros disparados, será o único a atingir o alvo, mas fará o seu estrago. Vai atingir a coxa e passar rente à artéria femoral. Por uma questão de  milímetros, vou escapar da hemorragia e de morrer esvaído em sangue na porta de um bar do entorno de Brasília.”