Foto: Duds Offenstein

Preparar a greve geral: é preciso dizer “Fora Bolsonaro”

Editorial do jornal Foice&Martelo 135, de 3 de maio de 2019. Confira a edição atual aqui.

No 1º de Maio, no mundo inteiro, os trabalhadores se manifestaram. Os confrontos aumentam, já que os ataques aumentam e um simples desfile de operários pode reacender a chama da luta em qualquer lugar. Na Argentina, Na França, em Honduras, na Turquia, na Russia a repressão se abateu sobre os operários.

Na França, os coletes amarelos uniram-se às manifestações sindicais e todos foram reprimidos por igual. Mas esta repressão, esta brutalidade, vai cobrar o seu preço nas greves e revoluções que virão.

No Brasil, a “união” das centrais sindicais conduziu a uma “comemoração” aonde todos se uniram para evitar que as manifestações transbordassem. Foi gasto mais dinheiro na contratação de artistas do que na divulgação da manifestação. Assembleias de base? Panfletagens? Carros de som e anúncios em redes sociais? Nada disso foi feito. A única “medida” foi chamar artistas e tentar abafar o caráter político das manifestações. Aonde não havia artistas, sobraram formas de esvaziamento. A melhor delas foi chamar atos em locais totalmente isolados, de difícil acesso, como aconteceu em Florianópolis, Curitiba, Cuiabá. Em outros, como no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, o ato estava marcado de 9hs da manhã até as 18h, com o revezamento de atividades políticas, shows de musica, teatro, etc.

Ainda assim, aonde os atos aconteceram, a própria mídia destacava que existiam “diferenças” entre o que se propunha e mostrava que, na base, se destacava o “Fora Bolsonaro”. As faixas da Esquerda Marxista com esta palavra de ordem ganharam as paginas da Internet.

No entanto, se essa era a vontade de uma boa parte da base, no palco, a “união” parecia mais uma divisão. Desde os que são a favor da reforma da previdência – querem apenas mudar alguns pontos – e foram conversar com Bolsonaro (Patha, da União Geral dos Trabalhadores, UGT), passando pelos que querem “desidratar” a reforma e impedir a reeleição de Bolsonaro (Paulinho da Força Sindical) até a CUT, que declara ser contra a reforma e quer uma greve geral – enquanto o PT, que dirige a CUT, negocia emendas na reformas, tem governador apoiando a reforma e os seus sindicatos desarmam as lutas, como fez o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, organizando a demissão dos operários da fábrica da Ford que vai ser desativada.

Assim se dá esta “unicidade” sem verdadeira união. A greve foi marcada para 45 dias depois do 1º Maio. E, afinal, por que, ao invés da “solidariedade” meramente em palavras com os educadores, a greve não começa junto com eles no dia 15 de maio (uma quarta feira)? Sim, é possível criticar a data (14 de junho, sexta-feira), não pelo “feriado prolongado” e sim pela mobilização ser arrefecida no final de semana, quebrando a possibilidade de continuidade (na quinta). Criticamos porque o governo está pisando no acelerador para aprovar a reforma na Comissão do Congresso antes da da data prevista. Criticamos porque os sindicalistas não estão preparando a greve na base. Criticamos porque falam em um dia de greve e depois tudo volta à “calma”.

Mas a nossa principal crítica é pelo apelo aos deputados ao invés de exigir a retirada do projeto e a derrubada do próprio governo, ao invés de preparar de verdade a greve geral, unificando todas as lutas e greves, realizando assembleias e reuniões no locais de trabalho, fábricas, bairros proletários. Porque, afinal, além da reforma da previdência, os ataques contra os trabalhadores vem de todos os lados: privatizações, corte de verbas e programas para educação, saúde, moradia, fiscalização ambiental, censo, etc. Há uma lógica de destruição de várias conquistas operárias dentro do estado burguês.

Sejamos francos: o problema principal é que todas as direções, de Haddad (PT) até ao PSTU, passando pelo PSOL, estão defendendo a continuidade deste governo. Haddad expressou isto de forma bem clara em entrevista ao Estado de São Paulo:

Haddad negou que a pauta do movimento seja um “Fora, Bolsonaro” e argumentou que processos de impeachment não podem ser usados desta forma.

“Isso a gente tem de ter muito cuidado, porque a Constituição estabelece que impeachment tem de ter crime de responsabilidade. Não pode ser palavra de ordem. Crime de responsabilidade é uma coisa e temos de ser estritamente fiéis à Constituição”, defendeu.

De sua parte, durante o primeiro de maio na Sé o PSTU se posicionou por “Fora Guaidó, Fora Maduro” (uma posição ultraesquerdista na Venezuela que leva na prática a ajudar o imperialismo e sua política de intervenção) mas nem sombra de “Fora Bolsonaro”.

A Esquerda Marxista sabe bem qual o seu lado nesta luta. Nós batalhamos até o fim pela defesa dos interesses dos trabalhadores e da maioria da população, nós fazemos nossa a voz da maioria que quer por fim a este governo.

Nos locais de estudo e trabalho, nas fábricas e nos bairros proletários, a nossa ação é para explicar pacientemente que é preciso combater todo este governo, toda a sua política, que a mobilização contra a reforma da previdência, para conseguir ser vitoriosa, tem que colocar este governo em questão. Por isto levantamos a bandeira de “Fora Bolsonaro”, por isto criticamos todos os que querem, em nome da democracia, preservar este governo. Junte-se a nós neste combate.