Por uma Honduras melhor: vamos derrubar a ditadura, não apenas o ditador!

A luta de classes está se intensificando em Honduras à medida que a ditadura aumenta o nível de repressão. Ainda no dia 24 de junho, nossos camaradas no país foram testemunhas de um ataque ao principal campus universitário da UNAH (Universidade Nacional Autônoma de Honduras) na capital de Tegucigalpa. Como a polícia armada se recusou a reprimir o povo, os militares foram enviados à universidade e dispararam tiros contra estudantes desarmados, ferindo quatro pessoas. Como os camaradas afirmam, isso é uma clara violação da “autonomia da universidade e uma tentativa contra a vida dos estudantes”.

A poderosa ala militar do Estado tem sido usada para reprimir o crescente movimento estudantil, que está levantando sua voz em apoio aos trabalhadores contra o governo ilegítimo do JOH (Juan Orlando Hernández) e seu Partido Nacional. Aqui abaixo, publicamos um artigo publicado pela Izquierda Marxista Honduras, em 23 de junho, sobre como a luta não deve se limitar a derrubar o presidente. Ela é sobre derrubar o governo dos capitalistas como um todo.

 

Quando nos referimos à ditadura as vezes é difícil compreender que se trata de toda uma estrutura política que sustenta grupos de poder que há mais de cem anos têm posto e tirado presidentes a seu gosto. Não somente trata-se de personagens que chegaram à cadeira presidencial por meras aspirações. Em Honduras não há lugar onde não se escute o tradicional “Fora JOH”, isto como uma exigência imediata diante da crise que sangra ao país. Mas, desde um ponto de vista mais objetivo: realmente basta só derrubar JOH?


Os militares foram enviados para a Universidade Nacional Autônoma de Honduras e dispararam contra estudantes desarmados, ferindo quatro. Image: Izquierda Marxista

Muitos discursos estão direcionando a saída de JOH como uma solução a tantas problemáticas que açoitam ao país, porém, a verdade é que o poder político em Honduras não se manifesta somente através da Câmara Presidencial. Em Honduras, como na maioria dos países, o Estado resulta da fusão de três poderes:

• Legislativo: encarrega-se de elaborar leis em suposto benefício do povo. Claramente isso não é assim, a história tem demonstrado que no Congresso os deputados, que são quem conformam este poder, só se encarregam de legislar para as classes dominantes, a burguesia, que não financia campanhas políticas aos partidos tradicionais apenas por gosto. Os deputados são, em primeiro lugar, homens e mulheres a serviço da classe dominante; todas as concessões sobre a privatização da energia elétrica, a saúde, a educação, a lei de condenação por terrorismo aos manifestantes, tudo e muito mais, são produto de decisões tomadas no Congresso pelos partidos da burguesia: o Partido Nacional, o Partido Liberal e outros partidos minoritários.

• Judicial: Supõe-se que administra a Justiça na sociedade e é exercido por juízes e tribunais. Seu papel historicamente tem sido proteger aos burgueses e julgar aos pobres: nos cárceres de Honduras, por muito incrível e indigno que soe, foram privadas de liberdade pessoas que roubaram uma galinha, como é o caso de José Álvarez, um agricultor de 25 anos da Zona Sul do país que foi apresentado à polícia e seu caso correspondia a uma pena de dois a cinco anos. Como esse caso existem muitos e o que chama a atenção é como eles (que desenham a “Justiça”) criam a palco (a pobreza) e são os mesmos que castigam aos pobres, aos estudantes que se manifestam por querer uma universidade melhor, aos desempregados por querer oportunidades para comer, às mulheres por decidir sobre seu corpo etc.


O estado está aumentando a repressão/ Imagem: Izquierda Marxista

Não acontece o mesmo aos ricos que têm feito deste país, com todo o sentido da palavra, uma esterqueira, onde os cofres do Estado são ultra-saqueados sem que ninguém os julgue. Sobressalta o caso milionário das fraudes do IHSS – Instituto de Seguridade Social de Honduras, onde muitos ficaram na impunidade e os poucos que foram julgados estão em delegacias com camas ortopédicas, televisão de plasma, boa comida e luxo. Existem infinidades de casos nefastos de impunidade com os ricos e injustiça com os pobres, é obrigatório compreender que o sistema judicial em Honduras tem que ser totalmente corrigido.

• Executivo: aqui encontra-se o governo presidencial, que atualmente é liderado por JOH. Nenhum governo na história, com exceção do período de Manuel Zelaya (que culminou com um golpe de Estado imperialista) e o de Francisco Morazán, tem mostrado desejos genuínos pela prosperidade do país. Ao contrário, cada governo quase sempre tem resultado mais nefasto que o anterior e justamente por isso é que temos que compreender que neste sistema é impossível acabar com todos os males, porque simplesmente não está desenhado para que se tenha justiça e prosperidade para todos.

Vamos derrubar a burguesia parasita

O partido LIVRE, que é a maior força política de Honduras, mas no Congresso é minoria em relação ao Partido Nacional – este último que tem conseguido mais deputados fraudando as eleições – não deve limitar sua luta na Câmara Legislativa ou lutar somente pelas eleições. Tem de estar presente e organizando nas ruas um combate contra a estrutura toda, ombro a ombro com o povo e não somente com paletós e gravatas desde suas modestas cadeiras no Congresso.

Estes últimos ataques destacam a necessidade urgente de uma transformação radical da sociedade/ Imagem: Izquierda Marxista

A democracia representativa da burguesia baseia-se numa ideologia falsa, representa no fundo interesses particulares de milionários e não há representação dos pobres. Deve existir um Estado controlado pelos trabalhadores, onde a economia do país esteja planificada e dirigida pelos operários.
Marx e Engels no manifesto comunista diziam:

“O governo do Estado moderno não é mais que um conselho que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa.”

JOH é a cara da burguesia atual que domina os hondurenhos já há centenas de anos. Não podemos seguir dançando junto com ele, faz-se necessária uma revolução pela tomada dos meios de produção, ou seja, a tomada das fábricas, dos transportes, das ferramentas, que agora são propriedades de grupos muito pequenos, mas que reprimem a todo um país de 9 milhões de habitantes. Não é justo que grupelhos de poder façam do país um prostíbulo onde se destrói o que bem lhes interessa. É hora de encaminhar a luta para uma transformação de raiz que rompa as velhas relações entre ricos e pobres. Um mero governo da oposição sob este mesmo sistema só pode garantir umas pequenas melhoras, mas, no fundo, se não se expropria a burguesia do que pertence à classe trabalhadora, mas que se lhe tem negado, o país não pode mudar.

Se queremos mudanças: expropriemos à burguesia!

Texto originalmente publicado por Izquierda Marxista, em 23/6/2019