Pesquisas eleitorais, rebaixamentos e a produção real

O governo comemora: fevereiro teve a menor taxa de desemprego dos últimos anos. O governo chora: Dilma cai nas pesquisas, a inflação sobe e a classificação do Brasil por uma das agências de risco diminui. As empresas brasileiras se desvalorizam e, com a queda da presidente nas pesquisas, voltam a subir. Afinal, o que está acontecendo?

O governo comemora: fevereiro teve a menor taxa de desemprego dos últimos anos. O governo chora: Dilma cai nas pesquisas, a inflação sobe e a classificação do Brasil por uma das agências de risco diminui. As empresas brasileiras se desvalorizam e, com a queda da presidente nas pesquisas, voltam a subir. Afinal, o que está acontecendo?

Há problemas econômicos reais que vão muito além do que ocorre com a Petrobras (ver box). A questão central é que a economia mundial está em desaceleração novamente. A China, por exemplo, não cresce como antes e o Banco Central dos EUA (Federal Reserve) anuncia que sua política de incentivo à economia está diminuindo. Relembrando – a crise de 2008 teve como sua origem central o fato do capital produzir muito mais do que pode consumir, em termos capitalistas. Existem mais carros, casas, celulares, eletrodomésticos que podem ser comprado (atenção, lembrar sempre que esta é a palavra-chave. Parcelas inteiras da humanidade continuam sem condições mínimas de vida, mas eles não podem comprar!).

O Brasil e outros países atrasados (Rússia, Índia, África, etc.) aumentam o crédito disponível e conseguem ser o desaguadouro do capital que foge dos EUA, Europa e Japão em busca de lucro. Mas o mercado destes países é pequeno, em comparação com o mercado de países imperialistas. A resposta da burguesia frente a crise, é retirar direitos, desempregar, exigir mais produção em troca de menos salários. Por isso, apesar da crise, a China, aonde os operários tem poucos direitos, continua a crescer, com a produção que pode sendo transferida para lá. Mas isto tudo chega a um limite. O mercado continua sem crescer o suficiente para absorver toda a produção. E o crescimento da China, que se fazia a mais de 10% ao ano, cai para 7% ao ano. O resultado – tremores entre os capitalistas, empresas chinesas começam a quebrar, rumores que os bancos chineses emprestaram dinheiro e agora não conseguem cobrar.

Depois da crise o governo dos EUA começa a emitir dólares e aumentar violentamente sua dívida para impedir que os bancos e a empresas “grandes demais para quebrar” quebrem. O problema é que chega uma hora e os créditos precisam ser “honrados”. A hora da verdade começa a soar e o Banco Central dos EUA está parando de emitir dólares e os “investimentos” estão voltando para os EUA depois de terem “ganho” com as moedas de outros países. Com esse processo, o dólar se fortalece e as outras moedas, inclusive o euro, diminuem de valor. Assim, o capital é sugado de volta ao seu leito “natural”.

Este movimento afeta a situação no Brasil e leva à queda do “superávit”.  O governo brasileiro vê o capital fugir do país, sem que a produção tenha aumentado, após ter concedido incentivos a todo tipo de empresa, com a desoneração da folha de pagamentos, negociação de redução de impostos com empresas multinacionais e outros incentivos fiscais. Aliás, como todas as moedas também caíram em relação à moeda americana, o preço relativo das mercadorias brasileiras continua igual para outros países, exceto para os EUA, que não voltaram a consumir como antes, já que os incentivos estão sendo retirados.

E a política de concessão de crédito no Brasil está chegando ao seu limite. O capital começa a sair, embora o movimento tenha cessado um momento com a crise da Ucrânia e a saída mais rápida de capitais da Rússia. Sai o capital, a mercado não cresce, a produção industrial não cresce apesar de todos os incentivos fiscais. E, isso sim, faz com que uma parcela de capitalistas questione o modelo “atual” – o acordo de que o PT, uma partido surgido da classe operária, dirija o pais junto com a burguesia para manter a classe operária, os trabalhadores, “calmos”. E a situação piora quando o “mercado” que a burguesia almeja, os EUA, não saíram da crise.

Há poucas saídas para esta situação. The Economist, uma das revistas que representa o pensamento burguês mais conservador, tem a receita: arrochar o proletariado, continuar com a “reforma fiscal” desonerando as empresas e destruindo direitos sociais. Só assim seria possível manter o “superávit” e a “classificação” nas “agências de risco”. O problema é o custo político disto, basta lembrar-se das manifestações do ano passado e da reivindicação por melhores serviços públicos.

Quem consegue fazer isso? A burguesia já não confia em Dilma (leia-se no PT) como confiava antes. Os mercados reagem “positivamente” quando a “popularidade” dela cai nas pesquisas e negativamente quando isso não ocorre. Uma parcela do Partido dos Trabalhadores e uma parte da burguesia gostariam de ter Lula e a política que ele representava de volta. Mas a roda da história não retorna.

Para a classe trabalhadora também há uma saída, mas os dirigentes petistas fogem dela mais do que o diabo da cruz: romper a aliança com a burguesia e dar passos em direção ao socialismo, criando as condições para uma nova economia, uma nova sociedade. Não fazendo isso, a única resposta do PT será manter repressão, aumentar o aparato para tal e continuar com a política de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). As greves que começam a aumentar tendem a forçar o rompimento com essa política e isso é o que a burguesia mais teme: o choque da classe trabalhadora com o Estado burguês.

Os marxistas estão ao lado dos trabalhadores e da juventude na sua luta. Contra a repressão, por uma escala móvel de salários que acompanhe a inflação, por saúde, educação e transporte, públicos e gratuitos. Essa é a nossa luta. Junte-se a nós.