Perspectivas para Dilma e o PT: a saga de uma catástrofe anunciada (Parte 1)

A burguesia ataca violentamente o governo, seja porque não acredita que ele possa controlar a revolta do proletariado e da juventude, seja porque quer arrancar um naco a mais do Estado, no momento que o PT realiza suas manobras, morrendo de medo do proletariado, mas desejoso de manter até o fim a sua aliança com a burguesia.

Se acreditássemos em horóscopos, essa seria uma descrição perfeita para o início do novo-velho governo Dilma. Como somos materialistas históricos, temos outra explicação, mais complexa e muito mais próxima da realidade do que achar que os astros estão fazendo caretas para Dilma e o PT.

A burguesia ataca violentamente o governo, seja porque não acredita que ele possa controlar a revolta do proletariado e da juventude, seja porque quer arrancar um naco a mais do Estado, no momento que o PT realiza suas manobras, morrendo de medo do proletariado, mas desejoso em manter até o fim a sua aliança com a burguesia.

Expliquemos melhor: Dilma foi reeleita no segundo turno com a votação mais apertada das quatro eleições que o PT ganhou o governo. Nem a “magia” ou o “toque de Midas” de Lula convenceram as parcelas mais adiantadas do proletariado que deveriam esperar mais um pouco que a aliança com a burguesia, que o choque de “mais capitalismo” traria mais ganhos.

Pelo contrário, o proletariado industrial, o famoso “cinturão vermelho” de São Paulo comportou-se tal qual o proletariado europeu se comportou frente aos vergonhosos governos da Social Democracia, na França, Espanha, Portugal, Inglaterra, Grécia, Itália – não votou, votou em branco ou votou nulo, a burguesia teve por isso mais votos que a esquerda nas zonas mais industrializadas do país.

A burguesia, seus partidos, suas frações, estão aproveitando ao máximo esta situação. Dilma, assim que terminou a eleição, decidiu ceder os anéis, os dedos, e toda a sua política anterior. Calou-se bruscamente, sem entrevistas ou declarações. Mas agiu: nomeou um banqueiro para o Ministério da Fazenda e fez aquilo que havia acusado que Aécio faria se eleito. 

Para a pasta da agricultura Dilma nomeou a chefe do “Agrobusiness” e maior defensora dos interesses dos latifundiários e dos capitalistas agrícolas. Para a Indústria e Comércio nomeou o ex-chefe da Confederação Nacional da Indústria. As medidas tomadas logo no início do governo atacaram diretamente os trabalhadores.

Recapitulando: Segundo Dilma e o novo Ministro da Fazenda, Levy, as medidas adotadas, com corte nas pensões, no seguro saúde, no abono salarial e no seguro desemprego, buscam economizar 18 bilhões de reais ao ano. Segundo várias matérias publicadas pela imprensa ocorreram no ano passado e ocorrerão neste ano, os seguintes gastos:

1-      18 bilhões em 2015 (previstos): gastos com o “auxílio moradia” de 4 mil reais por mês para juízes e procuradores.

2-      20 bilhões em 2014: valor não recebido com a “desoneração da folha de pagamentos”.

3-      100 bilhões de reais em 2014: valor não recebido com o total das “desonerações tributárias”.

4-      250 bilhões de reais em 2014: valor de juros pagos aos banqueiros.

Olhando estes números, nos perguntamos: porque penalizar viúvas, desempregados, trabalhadores que ganham até dois salários mínimos e pescadores? A resposta é simples e Dilma e o PT tentam esconder isso como se fosse possível tapar o sol com peneira: trata-se de mostrar ao mercado, aos grandes bancos, aos “financistas” que o governo está disposto a atacar os trabalhadores, os desvalidos, os mais pobres, para preservar o seu aparato de estado, para preservar os juros, para preservar o ganho dos grandes empresários enquanto os trabalhadores vão pagar com suor e sangue o custo da crise!

Quando Aécio aparece barbudo e critica Dilma, parece que saíram de um site humorístico: Dilma roubou o programa de Aécio e ele roubou a barba do Lula. Sim, todos parecem iguais e os trabalhadores sentem-se cada vez mais desamparados.

Mas o governo não para de sangrar e sangra cada vez mais. Depois de perder a eleição da presidência da Câmara dos deputados para o Eduardo Cunha (PMDB), em primeiro turno, sem conseguir controlar o que chama de “sua base”, a aliança com a direita reduziu-se ao que sempre foi: um negócio onde o PT perde o seu programa, compra o programa da direita, perde a vergonha na cara e a direita reergue-se depois de mais uma derrota nas eleições presidenciais de 2014.

Aécio, barbudo, fez o jogo que tinha que fazer: Evitou comprometer-se com Eduardo Cunha e deixou sangrar o PT. Dilma recolhe-se e manda um Mercadante envergonhado e com cara de ressaca mal curada, para dizer o mínimo e o mesmo de sempre, representá-la na abertura dos trabalhos do novo-velho Congresso.

As denúncias continuam e Dilma desta vez se vê sem Graça: a crise na Petrobras obriga a troca da diretoria, mas a valorização da empresa na bolsa de valores não é conseguida. E só não segue tudo como no quartel de Abrantes, porque a presidente parece a capitã de um navio a mercê dos ventos e que não sabe aonde quer chegar, a única coisa que sabe é que tem que sacrificar os tripulantes aos deuses da tempestade e rezar para que tudo dê certo, mesmo que o navio se choque com um enorme rochedo e se destrua.

Marx, quando escreveu o Manifesto do Partido Comunista, formulou uma frase muitas vezes repetida: a história é a história da luta de classes. Para entendermos o inferno de Dilma e o que se passa com o PT e com o Brasil, faremos uma viagem até o país berço da democracia, a Grécia.

(Fim da primeira parte)