Para onde vai o PT? (Declaração da Esquerda Marxista sobre o PED 2013)

A Esquerda Marxista participou do Processo de Eleições Diretas do PT (PED) apresentando a tese e a chapa “Virar à Esquerda! Reatar com o Socialismo!” e a candidatura de Serge Goulart para a presidência do partido. Além das chapas e candidatos estaduais, municipais, zonais e para Macros.

Segundo a apuração divulgada, obtivemos 2295 votos na candidatura a presidente e 2489 votos em nossa chapa nacional. Entretanto, no mapa final de votação, sumiram 27 votos que obtivemos em Caieiras. Não sabemos se outros casos ocorreram onde não tivemos condições de fiscalizar.

Em São Paulo, entre uma parcial da apuração e outra da chapa municipal, ao invés de aumentar, estranhamente perdemos 43 votos. 

Em Santa Catarina, o nome de nosso candidato a presidente estadual, Francisco Lessa, não apareceu nas cédulas de votação. Entramos imediatamente com recurso para impugnar as eleições no Estado.

Essa é a conclusão de um processo marcado pelo esvaziamento da participação dos militantes nos debates políticos, desrespeito à democracia e influência do poder econômico. O PED é a cópia das eleições burguesas, com todas as suas distorções, para o interior do partido. É fruto da política de colaboração de classes adotada pelo PT. Nós sempre defendemos o fim do PED e a volta da eleição das direções nos Congressos, com delegados eleitos desde a base, onde a escolha da direção possa ocorrer junto com o debate e as decisões políticas, assim é a tradição do movimento operário, assim era na origem do PT.

Os dirigentes do partido comemoram a reeleição de Rui Falcão, mas os números não são tão animadores. No total, 421.507 militantes compareceram às urnas em um total de 809.344 militantes aptos a votar e em 1,7 milhão de filiados. Ou seja, mais de 2/3 dos filiados não participaram desse processo.

Apesar de todo o esforço e uso do aparelho para aumentar o número de votantes, o número de participantes caiu em praticamente 100.000 filiados em relação ao PED passado!

A taxa de votos brancos e nulos ficou em 11%, somando 46.660 votos. Mais um reflexo do descrédito da base em relação ao processo.

São números que expressam uma realidade. Militantes de luta, que deram parte de sua vida para a construção do partido, estão se distanciando ou em aberta ruptura com o PT por conta da linha política, cada vez mais à direita, que a direção vem colocando em prática. Por outro lado, crescem as filiações em massa e o uso de filiados como massa de manobra. Esse é o caminho para a destruição do partido.

Nós nos orgulhamos de cada voto depositado em nossos candidatos e chapas. Foram votos militantes, contra a colaboração de classes e o capitalismo. Não compactuamos nem com o uso do poder econômico, nem com acordos sem base política para buscar o mero aumento de votos.

Defendemos abertamente o fim da coalizão com partidos da burguesia (PMDB, PP, PSB, PTB, etc). Combatemos a política de colaboração de classes e de submissão aos interesses da burguesia e do imperialismo.

Denunciamos o Leilão de Libra como a maior privatização ocorrida no país e o vergonhoso envio de tropas do exército e da polícia federal pelo governo Dilma para reprimir manifestantes e apoiar Sérgio Cabral.

Levantamos as bandeiras que levaram milhões às ruas em junho por melhorias concretas nas condições de vida, que resumimos na palavra de ordem e na campanha que começamos a desenvolver: “Público, Gratuito e Para Todos! Transporte, Saúde e Educação! Abaixo a Repressão!”.

O capitalismo, em sua profunda crise, exige o aumento da exploração da classe trabalhadora. Dilma segue a cartilha, com desonerações para os capitalistas e cortes para os trabalhadores. Na última semana, ela reuniu os líderes do Congresso Nacional e pediu um pacto pela responsabilidade fiscal, cujo primeiro ato era tirar da pauta a votação de um piso salarial para os agentes comunitários de Saúde.

As manifestações que sacudiram o país em junho, prosseguem nas mobilizações de trabalhadores, estudantes e movimentos sociais. Contra o crescimento das lutas, a burguesia aumenta a repressão e a criminalização. O governo Dilma participa dessa trama. O Ministro José Eduardo Cardoso dá declarações a favor do uso da força contra manifestantes para a manutenção da lei e da ordem, organiza a troca de informações de inteligência entre as polícias do RJ e de SP para perseguir militantes, propõem métodos para agilizar a identificação e julgamento de manifestantes.

Logo depois do PED, o STF decide pela prisão dos réus da AP 470, em particular os ex-dirigentes do PT, José Dirceu e Genoíno. É o recado da burguesia de que ela está acima das leis e que vai até o fim para desmoralizar e destruir o PT e todas as organizações de esquerda. O PT recusa-se a levar um combate, em nome do respeito às instituições, pela anulação do julgamento. Aliás, a chapa majoritária vergonhosamente retirou Zé Dirceu e Genoíno da sua composição.

A farsa do PED é o instrumento necessário para garantir o controle sobre o partido nessa convulsiva situação. 

Para nós, a luta segue, nas ruas, na luta de classes. Esse é o terreno onde os revolucionários devem concentrar seus esforços para construir a luta pelo socialismo. Esse é o terreno onde o jogo decisivo será jogado. Seguimos lutando por um governo socialista dos trabalhadores!

Convidamos todos que conheceram nossas posições nesse PED, através da chapa “Virar à Esquerda! Reatar com o Socialismo!”, a conhecerem mais o combate da Esquerda Marxista, seção brasileira da Corrente Marxista Internacional, e a juntarem-se a nós na luta pelo socialismo no Brasil e no mundo!