O que são as Olimpíadas 2016

O esporte não é ruim em si. Ruim é a maneira como o capitalismo se apropriou deste para propagar e reforçar a ideologia burguesa

A imagem que circulou nas redes sociais mostrando a visão do Morro da Mangueira na abertura das Olimpíadas Rio 2016 foi emblemática. Emblemática porque resumiu toda a contradição gerada por esta sociedade que transforma em mercadoria tudo o que foi produzido historicamente pela humanidade.

Outro ponto que repercutiu fortemente nas redes sociais foi a cerimônia de abertura dos Jogos. Encheu os olhos de todos demonstrando nossas origens, a diversidade cultural brasileira, a preocupação com a conservação do meio ambiente, a tolerância e um chamado pelo fim da violência.

Um retrato belíssimo e cheio de desejo do que o Brasil deveria ser, mas não é. Este Brasil coreografado não mostrou a destruição ambiental produzida pela Samarco (até hoje impune); a quase extinção dos territórios indígenas e quilombolas; as mortes diárias de jovens assassinados pela polícia nas favelas; as leis colocadas no Congresso Nacional que querem instituir um modelo único de família, que perpetuam a cultura do estupro, que criminalizam os trabalhadores que estão na luta, que apostam na prisão de jovens, ao invés de investimento em educação, da entrega da saúde e outros serviços sociais para a iniciativa privada.

A emoção e as lágrimas de muitos brasileiros são fruto de um desejo de Brasil que avance nestas questões e coloque em prática o respeito, libertando-se das garras das opressões e da miséria. Entretanto, sob a égide do capitalismo, o caminho que se mostra é a consolidação da barbárie.

O editorial do último Boletim Foice e Martelo (n.92), demonstrou sobre que política está fundamentada a realização dos Jogos Olímpicos no Brasil: despejo de várias comunidades para construção de estádios, isenção de impostos às empresas que “investiram” na construção dos espaços, campo de golfe construído em cima de área de preservação ambiental… enfim, será que teremos um legado social resultado desta realização dos jogos no Brasil? Geração de empregos? Ampliação do acesso da população às áreas esportivas?

Foram o que os ideólogos da burguesia prometeram com a realização dos Jogos Pan-Americanos em 2007 e a Copa do Mundo de Futebol em 2014. Isso aconteceu? O que vemos é o aprofundamento da crise capitalista e o chicote nos ombros da classe trabalhadora que vem pagando por uma crise que não foi ela que criou.

Partindo do que foi apresentado até o momento, questionamos: Os grandes eventos esportivos devem ser negados e atacados? É o esporte a fonte de todo mal? Devemos negá-lo?

O esporte que vemos hoje é um esporte excludente, que reflete a ideologia da classe dominante. Está baseado na competição exacerbada, no respeito incondicional às regras impostas, focado no resultado e não no processo. Este modelo reforça e propaga a ideologia burguesa, segundo uma ideia de que este é o modelo mais avançado e possível.

É a mesma coisa jogar futebol no clube privado do que nos poucos campos de várzea que ainda restam nas comunidades? É o esforço individual, única e exclusivamente, que te faz vencer ou perder no esporte? O tempo dedicado à prática esportiva é o mesmo para os filhos da burguesia e para os filhos da classe trabalhadora?

Alguns poderão dizer: Mas vejam o exemplo da Rafaela Silva (judoca brasileira medalhista de ouro), mulher, negra e moradora da comunidade Cidade de Deus. Sim! Parabenizamos em muito esta lutadora, mas a exceção não é a regra. Pedro Bernardes, militante da Esquerda Marxista e do Movimento Negro Socialista, em entrevista ao programa de Heródoto Barbeiro, na Record News (08/08/2016) ressaltou a importância de Rafaela, mas acrescentou: “Quantas Rafaelas Silva a gente não perde nas periferias de todo Brasil, seja assassinada pela polícia, seja brutalizada por uma escola pública que não tem qualidade, seja nas filas dos hospitais?”.

O esporte não é ruim em si. Ruim é a maneira como o capitalismo se apropriou deste para propagar e reforçar a ideologia burguesa. Em outra sociedade, a socialista, onde não haja mais dominação do homem pelo homem, o esporte não precisará mais se basear no modelo de sobrepujança, de esforço individual e da artificial ideia de que todos são iguais. Estará baseado no coletivismo, no diálogo e na construção de regras com o objetivo de buscar a participação de todos (e não somente dos mais ágeis).

Como caminhar até aí? Somente com a mudança de sociedade? Poderíamos avançar ainda nesta sociedade?

Para isso seria preciso superar o modelo de alto rendimento como o único para definir o esporte. O capitalismo não pode fazer isso. É preciso compreender que o esporte é um elemento da cultura construído historicamente pela humanidade e cabe à todos o acesso a ele. Para isso devemos pensar no esporte como política pública e não como troca de favores (isenção de impostos e promoção de ONGs).

Finalizando, sabemos dos limites que o capital nos coloca. Por isso, a luta pelo acesso ao esporte e a todos os outros elementos da cultura deve se somar a luta pela superação da sociedade de classes; na luta por uma sociedade onde o acesso à cultura, educação, saúde e todos os outros direitos sociais sejam vivenciados de fato por todos e não privilégio de poucos.