O PT pode vencer em Campinas

Mais de mil pessoas compareceram ao comício do candidato a prefeito Márcio Pochmann em Campinas, no sábado (20/10), empolgados com a possibilidade do PT alcançar a vitória eleitoral nesse segundo turno, contra o candidato Jonas Donizetti do PSB em coligação com o PSDB.

A presença do ex-presidente Lula e da presidente Dilma contribui ainda mais para animar o clima. Evidentemente, os organizadores queriam transformar tudo em uma grande festa e esvaziar o conteúdo político do momento, para deixar os partidos e os políticos burgueses que estavam no palanque mais à vontade.

Aliás, o companheiro Renato Simões – membro do Diretório Nacional/PT que estava coordenando o comício – se esforçou bastante para isso. Anunciava, empolgado e no meio de vários dirigentes e ministros petistas, a presença de inúmeros figurões da direita da cidade que foram se revezando no microfone para saudar o público e declarar apoio ao Márcio Pochmann.

Assim, a coligação – que já tinha o PSD (partido do Kassab) como vice na chapa, além do PTC e PRP – agora no segundo turno comemora o apoio do PP, PMDB, PDT e outros e, pior, avalia que a subida de Márcio Pochmann nas pesquisas se deve, em grande parte, à ampliação do leque de alianças…

Ledo engano. Quando o atual prefeito e candidato derrotado no primeiro turno Pedro Serafim (PDT) foi anunciado, ouviram-se vaias e comentários nada agradáveis que, no entanto, foram abafados e contornados pelo ambiente festivo do comício.

É incrível como a maioria da direção do partido é incapaz de extrair as lições da crise política que estourou ano passado e repete a mesma linha pragmática eleitoral e o mesmo desejo de governar em colaboração com a burguesia.

Os marxistas já explicaram milhões de vezes que, numa sociedade dividida em classes sociais antagônicas, devido às relações sociais de exploração estabelecidas pelo modo de produção capitalista, é impossível conciliar os interesses dos trabalhadores e dos patrões.

Mesmo que, circunstancialmente, seja possível sustentar uma aparente e instável paz social, a luta de classes continua sendo o motor da história e, mais cedo ou mais tarde, a classe trabalhadora irá cobrar dos dirigentes nos quais ela se reconhece uma postura bem diferente da atual. Vai exigir o enfrentamento, ao invés da conciliação; vai exigir mobilização, ao invés de acordos; vai em busca de um programa de reivindicações transitórias que possa defender e melhorar suas condições de vida e trabalho e que seja capaz de indicar o caminho para a transformação socialista da sociedade…

Além disso, e por enquanto, amplos setores da burguesia aproveitam-se dos convites feitos pelo PT:

A) para continuar governando, desde o Palácio do Planalto até os menores municípios, mantendo seus postos no Estado e, portanto, seus negócios em primeiro lugar. Trata-se de continuar o programa das privatizações e terceirizações, o ataque à previdência pública e aos direitos sociais e trabalhistas, exigindo o aval e a liderança do PT para isso;

B) para domesticar ainda mais o maior partido da classe trabalhadora brasileira, para comprometê-lo organicamente com a podridão em que se transformou a democracia burguesia e, assim, desmoralizar sua base social e os militantes socialistas, enquanto fortalecem seus partidos e renovam suas lideranças;

C) porque não se sentem fortes o suficiente para lançar uma ofensiva contrarrevolucionária. Porém, não vão admitir que o PT governe por tempo indeterminado. Preferem que alguém ou algum partido de seu próprio meio social ascenda ao poder porque, apesar da direção do PT já estar adaptada, eles têm medo que a classe trabalhadora tente usar o seu partido para acabar com a exploração e a opressão.

Como se vê, seja pela via eleitoral, seja pela mídia ou pelo judiciário (como estamos vendo agora no STF), a burguesia alimenta seu projeto e encontra guarida na política de coalizão do PT. Por isso, seja nas instâncias do partido, da CUT, nas ruas e nas lutas, erguemos bem alto a bandeira da ruptura do PT com a burguesia e alertamos para o perigo que a continuidade desse “arranjo” pode ocasionar e, aliás, já vem ocasionando…

A derrota eleitoral do PT em várias capitais e cidades importantes é um reflexo disso, bem como as condenações de dirigentes do PT no STF, baseadas apenas em suposições e indícios. Sem falar na condenação dos camaradas que lideraram a ocupação das fábricas Cipla e Interfibra em Joinville/SC e nas ameaças contra a Fábrica Ocupada Flaskô em Sumaré/SP. Por isso, a faixa que os marxistas levantaram nesse comício dizia:

“Lutar não é crime! Frente única contra a ofensiva da burguesia! Não à criminalização do PT, da CUT e dos movimentos sociais e sindicais! Contra a condenação das lideranças das fábricas ocupadas”!